Paris, 1904: nos salões, nos hotéis, nos clubes da Belle Époque era possível divertir-se esplendorosamente. Muito champanhe jorrava. Todas as noites havia festas e recepções.
O Oriente estava na moda desde a Exposição Mundial de 1900, e as apresentações de dança de uma certa lady MacLeod faziam muito sucesso. À elas somava-se uma história sob medida.
"Eu nasci na cidade sagrada de Jaffna Patam. Meu pai era um importante Brâmane, minha mãe era uma dançarina do templo, que faleceu aos 14 anos durante o meu parto. Cresci sob os cuidados de sacerdotes do templo. Eles me ordenaram Shiva, e eu fui iniciada nos sagrados mistérios do amor e da adoração divina."
Tal biografia de lady MacLeod era fictícia. Margareta Geetruida Zelle nascera 29 anos antes, em 1876, em Leeuwarden, na Holanda, filha de um holandês e uma javanesa.
Perdera os pais ainda na adolescência e casou-se, aos 19 anos, com o capitão do exército colonial Rudolph MacLeod. Os dois foram para a Índia Holandesa, atual Indonésia. Em 1902, separou-se do marido depois de retornarem para Amsterdã.
Sem recursos, Margareta planejou um recomeço. Em Paris, a dama atraente de cabelos e olhos negros encontrou rapidamente muitos amantes. A conselho de um protetor, trocou o nome aristocrático MacLeod pelo oriental Mata Hari, que significa "luz do dia.
Beldade nua
Em 13 de março de 1905, Mata Hari brilhou pela primeira vez em Paris. A apresentação no Musée Guimet foi o início da sua ascensão. Mesmo numa cidade habituada à sensualidade, a dançarina tirava o fôlego dos espectadores – gestos graciosos transformavam-se em contorções insinuantes e, ao final, uma beldade completamente nua surgia em frente às fascinadas damas e cavalheiros da alta sociedade.
Mas a estrela de Mata Hari brilhou durante poucos anos, e o interesse por ela diminuiu. Em 1914, porém, um ex-amante lhe propôs, de forma surpreendente, um contrato para o Teatro Metropolitano de Berlim. De repente, ela passou a ser procurada novamente. Ministros, oficiais e até o príncipe herdeiro contavam entre seus novos amantes.
Guerra e espionagem
Mas, em 1º de agosto de 1914, explodiu o barril de pólvora europeu: a Primeira Guerra Mundial. Não podendo mais retornar para o país dos inimigos, a França, Mata Hari foi para a Holanda, que mantinha neutralidade.
Numa recepção em maio de 1916, ela conheceu o adido de imprensa da embaixada alemã em Haia, Karl Kramer, integrante do serviço secreto.
Poucos dias depois, ele não procurou Mata Hari pelo mesmo motivo que todos os outros homens a procuravam. Kramer não falou de amor ou sexo, mas de pequenas tarefas que ela poderia executar em Paris e que o povo alemão saberia estimar. Tratava-se de espionagem.
"Eu me lembrei dos meus valiosos casacos de pele que haviam sido confiscados em Berlim e achei que essa era a oportunidade ideal para cobrir os danos. Por isso, escrevi ao Kramer e aceitei a oferta", revelou mais tarde.
A oferta do agente secreto alemão era de 20 mil francos. Com o codinome H21, Mata Hari entrou para a lista dos colaboradores do serviço secreto alemão. Ela não chegou a revelar nenhum grande segredo, mas chamou a atenção de agentes franceses. Em 1917, ano da total fadiga de guerra e motins de tropas, ela foi um bode expiatório perfeito.
Pena de morte para espionagem
Mata Hari foi presa em 13 de fevereiro. Os interrogatórios duraram meses. Ninguém pôde provar algo contra ela, mas foram descobertos os 20 mil francos de Kramer e a trama se consumou. A punição para espionagem era a pena de morte.
Sete meses depois de sua prisão, em 15 de outubro de 1917, Mata Hari foi executada num bosque de Vincennes, por 12 soldados de um regimento francês de artilharia. Ela recusou uma venda nos olhos. "Eu quero olhar os soldados nos olhos. Eu tenho orgulho do meu passado e não fui uma espiã; eu fui Mata Hari", teria dito.
Fonte: Opera Mundi
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