ONG localiza cidadãos de Israel dispostos a abrir mão do direito político e entrega decisão a pessoa palestina, que escolhe qual será o nome depositado na urna
Na medida em que cidadãos israelenses vão às urnas nesta terça-feira (17/02), colonos judeus de Jerusalém Oriental e de outras partes da Cisjordânia ocupada também irão votar — ao contrário de seus vizinhos palestinos que moram até mesmo na rua ao lado.Na contramão desse sistema semelhante ao apartheid, dezenas de israelenses anunciaram nos últimos dias que irão doar seus votos para a população que vive nos territórios palestinos sob ocupação israelense.
Lançada pelo movimento One World, a campanha “Real Democracy” protesta contra o fato de que milhões de palestinos não detêm o direito a votar por conta própria, muito embora vivam sob a jurisdição israelense e sejam diretamente afetados pelas políticas do governo de Israel. A ação localiza cidadãos israelenses dispostos a abrir mão do direito de escolher para qual candidato depositarão a cédula eleitoral. Assim, quem decide o voto — ou se será anulado — é uma pessoa palestina, que indica o que fazer ao cidadão apto participar do pleito.
Para os organizadores do projeto, desistir do voto não é um ato de desobediência ou negação, mas de resistência. “Na medida em que o direito ao voto não é garantido a todos, ele é considerado um privilégio e eu estou abrindo mão desse privilégio”, explica Zameret, um dos organizadores do projeto, à +972 Magazine.
“Durante mais de cinco décadas de ocupação, o sistema democrático de Israel falhou na tentativa de proteger milhões de não cidadãos sob suas regras militares da humilhação e violência inerentes de um sistema não democrático de governo”, comenta o jornalista e ativista israelense Daniel Roth em artigo.
A ideia de dar ou compartilhar meu voto me deixa nervoso e desconfortável, mas na atual situação, acredito que seja importante. Votar não é a coisa mais importante que podemos fazer na democracia, mas é a única ferramenta que temos para realizar mudanças”, completa.
Nas últimas eleições, a maioria dos palestinos boicotou ou deu apoio ao Hadash (partido de orientação socialista que, pela primeira vez, se uniu agora a outros partidos árabes para formar uma coalizão progressista chamada Lista Conjunta). De acordo com Zameret, no atual pleito, o mesmo público está mais animado com essa nova coligação árabe-judaica. Segundo pesquisas de opinião, a Lista Conjunta está em terceiro lugar nas mais recentes pesquisas de opinião.
“Não há uma democracia verdadeira aqui já que eu não tenho a menor liberdade”, comenta Musa Abu-Maria, ativista palestino que vive no vilarejo de Beit Ommar, na Cisjordânia. “Necessitamos de seus votos (de israelenses) para nos ajudar a apoiar a paz, a justiça e a segurança para ambos os lados”, acrescentou, em vídeo divulgado pela campanha.
Disputa acirrada e tomada de terras
Os dois principais candidatos do pleito são o trabalhista Itzhak Herzog – da coligação Campo Sionista – e o direitista Benjamin Netanyahu, do partido Likud, que aparecem com 20,8% e 17,5% das preferências, respectivamente.
Segundo a imprensa local, há um clima de "pânico e desânimo" no Likud em vista do desgaste do partido. No fim do ano passado, a crise interna na base do governo fez com que Netanyahu convocasse novas eleições, antecipando o pleito que estava previsto apenas para 2017.
Nesse clima de incertezas para o premiê, quem saiu perdendo foram – mais uma vez– os palestinos. Na véspera da eleição, Netanyahu prometeu continuar a construir casas para colonos em Jerusalém Oriental ocupada, com o objetivo declarado de impedir o possível estabelecimento de uma capital palestina. Vale lembrar, no entanto, que os cidadãos árabe-israelenses representam 20% do total da população do país.
Desde o início do mandato de Benjamin Netanyahu, em 2009, o número de habitações ou casas construídas na Cisjordânia aumentou de 1.500 a 2.500, aponta a ONG israelense Paz Agora, que monitora esses assentamentos.
Em agosto passado, a comunidade internacional condenou a decisão anunciada pelo governo israelense de ocupar 400 hectares pertencentes a cinco aldeias palestinas nos arredores de Belém, na Cisjordânia. Correspondente a aproximadamente 400 campos de futebol, a área representou a maior apropriação israelense de terras da Cisjordânia em 30 anos.
Fonte: Opera Mundi
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