No subúrbio de Miami Beach resiste a Calle Ocho, espaço de integração latino-americana e de diversidade cultural que oferece mais do que charutos e rum
Após a reaproximação entre Cuba e EUA em dezembro passado, Little Havana foi alvo dos holofotes internacionais pelos protestos contra a decisão de Washington, orquestrados pelos dissidentes da ilha caribenha.
Como o local é a principal moradia da comunidade de cubano-americanos da Flórida, as mobilizações serviram para reforçar um estigma do bairro.
Como o local é a principal moradia da comunidade de cubano-americanos da Flórida, as mobilizações serviram para reforçar um estigma do bairro.
A menos de 15 quilômetros da badalada Miami Beach resiste a Calle Ocho, núcleo de Little Havana. Na avenida, senhores se reúnem em praças para jogar dominó e vendedores de frutas, charutos, sorvetes, camisas de linho e outras especiarias da cultura cubana atraem os transeuntes com simpatia e bom papo. Ao contrário de outros bairros próximos – marcados pela segregação e criados exclusivamente para carros – Little Havana é um oásis de interação social e de ocupação do espaço público com ares de cidade de interior no subúrbio de Miami.
“É importante discutir duas Little Havanas: uma que é representada pela mídia e pela política, isto é, dos protestos anticastristas, associada aos cubano-americanos ricos, republicanos radicais de direita, que querem matar Fidel e Raúl. Mas a realidade é que muita gente aqui é aberta ao diálogo e ligada aos direitos humanos. E pode ter certeza que os jovens têm opiniões muito diferentes das dos seus avôs”, explica a Opera Mundi Corinna Moebius, antropóloga cultural norte-americana da Florida International University, moradora do bairro e coautora do livro The History of Little Havana.
“Há muita diversidade de opinião aqui. Alguns admiram Fidel e outros o odeiam. Mas o quê, em geral, as pessoas se perguntam aqui é: será que a reaproximação de Obama vai de fato beneficiar os cubanos? Ou será que só vai beneficiar as companhias norte-americanas e as pessoas com poder e influência em Cuba? Essa é a complexidade que não se discute”, acrescenta Moebius.
Passear pela Calle Ocho é como voltar ao tempo ou frequentar um local alheio à realidade de Miami Beach: aqui, os artistas são os principais astros das ruas com suas tonalidades vibrantes e cores quentes que singularizam o bairro. Exemplo disso são os irmãos Robert e Nelson Curras, responsáveis por criar o design da praça principal, a Domino Plaza, com uma série de mosaicos que vão se repetindo ao redor do bairro. Em cada peça de seus mosaicos é possível observar representações da cultura e da religião cubana com imagens que evocam símbolos da Santería e reverências a Orishas.
Little Havana também se abre para o clichê cubano de charutos e rum, atraindo turistas que buscam uma experiência para além de shoppings e grifes em Miami. No bairro, há mais de 20 lojas, fábricas e lounges para apreciar o fumo. Um dos principais dilemas que um turista passa na Flórida em geral é atestar a veracidade dos charutos cubanos, geralmente falsificados nos EUA. Segundo o vendedor Luiz Sanchez, a saída para manter a originalidade do produto é ter acesso às sementes que imigrantes trazem da ilha para aqui plantar, fabricar e vender.
Little Havana também se abre para o clichê cubano de charutos e rum, atraindo turistas que buscam uma experiência para além de shoppings e grifes em Miami. No bairro, há mais de 20 lojas, fábricas e lounges para apreciar o fumo. Um dos principais dilemas que um turista passa na Flórida em geral é atestar a veracidade dos charutos cubanos, geralmente falsificados nos EUA. Segundo o vendedor Luiz Sanchez, a saída para manter a originalidade do produto é ter acesso às sementes que imigrantes trazem da ilha para aqui plantar, fabricar e vender.
Além de charutos, é possível explorar Little Havana em seus cafezinhos com móveis antigos ao som de rumba e da salsa de Celia Cruz, ícone da cultura cubana homenageada em diversos grafites pelo bairro.
Um dos bares mais conhecidos nos guias turísticos é o Versailles, que reúne a nata republicana e de ultradireita de Little Havana. Contudo, moradores preferem indicar outros pontos turísticos para conhecer a diversidade do local, como a sorveteria Azúcar ou o Tower Theather, um dos cinemas mais antigos dos EUA, inaugurado em 1926.
Contudo, na medida em que Miami Beach fica cada vez mais abarrotada de carros e condomínios residenciais luxuosos, a Prefeitura local tem apostado em projetos de construção de prédios cada vez maiores em Little Havana, frustrando os moradores, que temem os efeitos dessas ações.
Um dos endereços de resistência na contramão dessa tendência é, ironicamente, o McDonald’s da Calle Ocho. A filial da rede de fast-food norte-americana é a única no mundo que vende café cubano e tem sua fachada colorida assinada pelos irmãos Curras, após pressão dos moradores.
Muitos deles, entretanto, ressaltam que Little Havana não é mais um local estritamente cubano, mas sobretudo latino: nas últimas décadas, imigrantes vindos de Nicarágua, Honduras e México se mudaram para cá, trazendo novas cores e diversidade para o bairro.
Fonte: Opera Mundi
Estive lá em outubro de 2011 e uma das coisas que mais vi foi tráfico de drogas, livre e desimpedido.
ResponderExcluirAlém disso, muitos daqueles com quem conversei me disseram que há uma tensão constante entre os moradores de Little Havana e Little Haiti, pelo domínio do tráfico de drogas em Miami Beach.
Eu, que até então achava que isso era coisa exagerada do jogo GTA: Vice City (quarto da franquia Grand Theft Auto), me assombrei.
Mas o convívio com os mais velhos lá é bem enriquecedor.