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sexta-feira, 20 de março de 2015

“O Estado não pode perder a hegemonia do projeto educacional e entregá-lo ao mercado”

"Contra a corrupção", pelo impeachment da presidenta Dilma Rousseff e a volta dos militares ao poder foram algumas palavras de ordem proclamadas pelas ruas no último domingo (15). Mas poucos cartazes chamaram tanta atenção quanto um em especial que dizia: “Basta de Paulo Freire”.
Em um país onde se queixa da baixa oferta de educação de qualidade, Paulo Freire foi um educador que pensou a realidade do ponto de vista dos mais pobres. Em uma célebre passagem de seu livro a “Pedagogia do Oprimido”, Freire explica a importância do processo educacional para a emancipação dessa população. “Quando a educação não é transformadora, o sonho do oprimido é ser o opressor”, diz o trecho.
Para Moacir Gadotti, professor titular aposentado da Universidade de São Paulo (USP) e presidente de honra do Instituto Paulo Freire, o que está acontecendo hoje no Brasil é um acirramento de projetos antagônicos de sociedade, em que os mais ricos “procuram impedir qualquer avanço que não seja na direção de mais exploração econômica e dominação política”.
“Em 2012, a presidenta Dilma Rousseff declarou Paulo Freire ‘patrono da educação brasileira’. Essa declaração, que consagra sua concepção de educação, mesmo que o seu ethos pedagógico ainda esteja longe da maioria das nossas escolas, desagradou os defensores da educação ‘bancária’ e domesticadora”, explicou.
A importância da educação política
Muitos do que saíram às ruas no domingo traziam, além de um discurso de mudança, uma série de ataques contra pautas e grupos progressistas, como a reforma agrária, o Bolsa Família e os movimentos sociais.
Gadotti destaca que, muitas vezes, esse discurso vem de quem também foi beneficiado por programas sociais, como o Programa Universidade para Todos (ProUni) e o Financiamento Estudantil (Fies). Ele lamenta que parte dessas pessoas, incluídas no ensino superior, tenha recebido uma educação domesticadora, e não conscientizadora. Ele defende o fortalecimento da educação política e da presença maior do Estado para conter o mercantilismo em diversas áreas do ensino.
“Fala-se muito pouco de política nas nossas escolas e Paulo Freire sustentava que toda educação é política, porque supõe um projeto de sociedade. A educação capitalista procura vender o sonho de que todos podemos ser capitalistas com seu mote preferido e ardiloso: ‘estude, arrume um emprego e fique rico’. É assim que a educação tem contribuído para a reprodução das desigualdades. Houve avanços nos últimos anos, mas a educação continua hegemonizada por um pensamento educacional mercantilista. O Estado não pode perder a hegemonia do projeto educacional e entregá-lo ao mercado”, afirmou.
Fonte: Brasil de Fato

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