Uma entrevista transmitida pela emissora de TV libanesa Al-Jadeed acabou resultando em uma discussão acalorada entre uma jornalista e seu entrevistado.
A apresentadora e professora universitária Rima Karaki conversava ao vivo, por link de vídeo, com o estudioso egípcio Hani Al-Siba’i sobre o ingresso de cristãos no grupo extremista ISIS. Irritado por ela pedir que ele fosse objetivo em sua resposta, Al-Siba’i ordenou que a jornalista “calasse a boca”.
A apresentadora e professora universitária Rima Karaki conversava ao vivo, por link de vídeo, com o estudioso egípcio Hani Al-Siba’i sobre o ingresso de cristãos no grupo extremista ISIS. Irritado por ela pedir que ele fosse objetivo em sua resposta, Al-Siba’i ordenou que a jornalista “calasse a boca”.
O vídeo publicado na internet viralizou rapidamente e acirrou discussões sobre os direitos das mulheres, visto que, antes de ter o microfone cortado, Hani Al-Siba'i chegou a insinuar que ser entrevistado por uma mulher estava aquém de suas capacidades.
Limitações da TV
A discussão começou quando Rima interrompeu o estudioso, após este comparar os cristãos que aderiam ao ISIS a revolucionários de esquerda na década de 1970. Ela solicitou a Al-Siba’i que se ativesse ao tema da entrevista em vez de tender para a tangente histórica. Logo depois que ela perguntou a ele quais eram os slogans usados por grupos extremistas para atrair cristãos, Al-Siba’i respondeu: “Ouça, não me interrompa. Vou responder como quiser. Não vou responder do seu jeito, pois estou aqui para servir aos ideais nos quais acredito”.
Rima explicou então sobre as limitações de tempo na TV, reiterando o respeito pelo entrevistado e o desejo deste de apresentar uma resposta completa. Al-Siba’i, no entanto, não aceitou a intervenção da jornalista e reagiu com agressividade, resultando no corte brusco da entrevista.
Apoio na internet
Muitos internautas demonstraram apoio a Rima e viram na atitude da apresentadora uma bandeira pelos direitos das mulheres. Embora a capital do Líbano, Beirute, siga caminhos mais progressistas, ainda é comum no país que mulheres sejam subjugadas e tratadas como cidadãs de segunda classe. Um estudo conduzido pela Thomson Reuters Foundation em 2013 montou um ranking para determinar os países muçulmanos que mais desrespeitavam os direitos das mulheres. Dentre os 22 países pesquisados, o Líbano apareceu na 7a posição entre os piores. O Egito – país de origem de Al-Siba’i – é considerado o pior país muçulmano para uma mulher viver.
Para Rima, a questão não envolveu direitos femininos, religião ou inclinações políticas, mas apenas respeito individual, ética e boas maneiras. Em entrevista ao jornal britânicoThe Guardian,ela atribuiu o comportamento de Al-Siba’i a uma falta de discernimento pessoal e alegou que ele apenas foi desrespeitoso para com a figura dela. Rima também disse acreditar no diálogo construtivo – “independentemente do histórico de cada indivíduo” – e deixou claro que só assumiu a referida postura porque estava fazendo seu trabalho como moderadora.
Embora não achasse que o vídeo causaria tamanho furor, ela considerou a repercussão positiva e não desprezou totalmente o impacto de sua postura em sociedades patriarcais, onde “jornalistas do sexo feminino enfrentam muito mais desafios do que seus colegas do sexo masculino”.
Rima Karaki começou sua carreira em 1998, em um programa matinal chamado Alam al Sabah. Depois de dez anos, passou a apresentar um programa considerado polêmico no mundo árabe porque discutia questões como sociedade e família. Além disso, ela também apresentou um programa sobre celebridades e escreveu um livro aclamado pela crítica, intitulado “Hoje à noite eu irei confessar”.
“Possuída por um demônio”
Al-Siba’i publicou uma carta em sua conta no Twitter exigindo um pedido de desculpas oficial da TV Al-Jadeed. Ele acusou o canal de ser tendencioso porque tentou “retratá-lo como um fundamentalista e amigo de Ayman al-Zawahiri [líder da Al Qaeda]”. (De acordo com relatórios vazados pelo WikiLeaks, Al-Siba’i fugiu do Egito para o Reino Unido antes de 1999, ano em que foi condenado à revelia por “delitos relacionados ao terrorismo”).
O estudioso também se manifestou sobre a polêmica com a jornalista libanesa. Disse que foi como se Rima estivesse “possuída por um demônio” e que ela falava de forma “delirante”.
Mulheres no jornalismo
Em artigo para o site The National, a colunista Rym Ghazal aplaudiu o posicionamento da colega e lembrou que a situação enfrentada por Rima foi um tanto branda em comparação ao que normalmente acontece às mulheres em programas de entrevistas libaneses.
Como possui vasta experiência em coberturas no Oriente Médio, a própria Rym contou já ter sofrido uma série de insultos e preconceitos durante seu trabalho – os quais ela confessa terem sido aceitos em silêncio no início da carreira, pois ela sempre temia perder a entrevista ou uma boa reportagem.
A jornalista conta que deixou de se submeter no momento em que compreendeu que, tal como Rima, não deveria ser desrespeitada.
Rym também comentou outras declarações de Rima, que queixou-se do fato de a mídia em geral concentrar-se muito mais na aparência do que na competência das mulheres que atuam na imprensa. “Não é o suficiente precisarmos estar sempre ‘jovens e bonitas’”, criticou ela. “Jornalistas do sexo feminino são prejudicadas, desrespeitadas e insultadas regularmente, em especial quando trabalham em culturas dominadas pelos homens”, concluiu.
Fonte: Observatório da Imprensa
Fonte: Observatório da Imprensa
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