O annus horribilis do PT é o mesmo ano que o PSol completou onze anos, por cima da carne seca, como diz o povo.
Enquanto o partido de Lula naufraga, o PSol colhe os frutos da coerência que tem se tornado uma marca desde que seus membros saíram do PT para fundar uma legenda própria, insatisfeitos com a realpolitik (por eles chamada de peleguismo) e o abandono do socialismo.
Enquanto o partido de Lula naufraga, o PSol colhe os frutos da coerência que tem se tornado uma marca desde que seus membros saíram do PT para fundar uma legenda própria, insatisfeitos com a realpolitik (por eles chamada de peleguismo) e o abandono do socialismo.
José Dirceu, não há sombra de dúvida, virou o bode expiatório da forma como se faz política no Brasil, mas é inegável o simbolismo de ver o principal algoz da esquerda petista na prisão. Em 2003, Dirceu expulsou Heloisa Helena, Babá e Luciana Genro do partido. Em 2005, junto com outros descontentes, como Ivan Valente e Chico Alencar, eles fundariam o PSol. Deles, só Heloisa Helena não continua no partido.
De lá para cá, o PSol tem atuado como uma espécie de “grilo falante” do PT, uma consciência à esquerda cujas críticas nunca foram bem aceitas pelo partido de cuja costela saiu. Os psolistas, volta e meia, eram atacados pelos petistas como “a esquerda que a direita gosta”. O PT nunca teve humildade para ouvi-los. Tanto é que, mesmo após o mensalão, continuou se rendendo às formas de fi nanciamento de campanha que condenava na oposição. E deu no que deu.O resultado começa a ser colhido agora, justamente quando o PT passa pelo momento mais difícil de sua história. Enquanto o PT encolhe, o PSol cresce. E é emblemático que seu melhor resultado tenha sido no Rio de Janeiro. Foi naquele estado que se travaram os embates mais profundos entre as visões da direção nacional e da esquerda dentro do partido, e o tempo tratou de comprovar quem, em longo prazo, estava certo.
Seguidas vezes, houve tentativas da esquerda do PT carioca, liderada por Vladimir Palmeira, de lançar petistas ao governo e à prefeitura do Rio, todas repetidamente barradas pela direção, que preteriu a prata da casa para apoiar o PDT de Garotinho e, nos últimos anos, o PMDB de Sergio Cabral Filho e Eduardo Paes. Com esta atitude, o PT patrocinou, de quebra, o fortalecimento dos políticos fundamentalistas que hoje são uma das maiores ameaças a um projeto de esquerda no Brasil. Olhando em retrospectiva, fica claro que a estratégia do PT tinha fôlego curto. Os petistas miravam permanecer pelo menos vinte anos no poder, mas esboçaram uma estratégia que não tinha como durar. Uma hora a aliança com setores da direita iria ruir porque não existia grude possível ali, apenas interesses. Obviamente, quando estes interesses se viram ameaçados, o melhor a fazer era trocar de barco. Fora do clube que nunca o aceitou como sócio, o PT ficou nu com a mão no bolso.
"Não digo que o partido de Lula vai acabar, mas está enfraquecido e precisa mergulhar em um processo de psicanálise. Ir ao divã. Fazer uma autocrítica profunda. A justificativa do partido para o excesso de pragmatismo sempre foi a de que sem isso não teria tirado 40 milhões de brasileiros da miséria. Eu francamente acho que foi a escolha pelo caminho mais fácil, ao invés de investir na conscientização política da juventude e na construção de uma frente" |
Não digo que o partido de Lula vai acabar, mas está enfraquecido e precisa mergulhar em um processo de psicanálise. Ir ao divã. Fazer uma autocrítica profunda. A justificativa do partido para o excesso de pragmatismo sempre foi a de que sem isso não teria tirado 40 milhões de brasileiros da miséria. Eu francamente acho que foi a escolha pelo caminho mais fácil, ao invés de investir na conscientização política da juventude e na construção de uma frente, condição essencial para a esquerda resistir aos ataques da direita e conseguir governar.
Se não houver esta inflexão, o PT corre o risco de perder cada vez mais espaço para o PSol. Há um cansaço do eleitorado em relação ao discurso e às lideranças petistas, à exceção de Lula. O partido não soube se renovar ao longo dos anos e deixou de lado o importantíssimo diálogo com os movimentos sociais, seu lastro. O processo que culminou com o golpe contra Dilma Rousseff é significativo disto. Dilma se viu só, porque o abandono se tornou, é claro, recíproco. Ação e reação. Em franca ascensão, o partido de Marcelo Freixo pode passar a capitanear a disputa eleitoral à esquerda se lograr ampliar sua base e chegar às classes menos favorecidas. Ao contrário do rival PT, o PSol ainda não possui uma conexão com sindicatos e movimentos sociais. Por isso, para o eleitor de esquerda, o ideal seria que estivessem todos juntos, com as qualidades de um compensando as deficiências do outro. A Frente Ampla uruguaia deve ser nosso norte, ou melhor, nosso sul.
Na terra de Pepe Mujica conseguiu-se unir, sob o mesmo guarda-chuva, comunistas, socialistas, marxistas e até liberais e democratas cristãos. Por que aqui não poderíamos ter uma frente com PT, PSol, PCdoB e dissidentes à esquerda do PDT, PSB e Rede? Não me parece algo longe de nosso alcance, desde que os políticos destes partidos saibam ceder em nome de um projeto de País. Ficou uma lição para a esquerda como um todo, com a história do PSol e, na verdade, desde priscas eras, é que é preciso aprender a conviver com as divergências internas e não mandá-las ao paredón, real ou virtual.
O que me preocupa neste momento é que o sentimento de revanche do PSol em relação ao PT atrapalhe mais do que ajude na formação desta frente que a esquerda necessita. Ambos os partidos sofrem de um mal, a arrogância. Isso não surpreende em irmãos que se separaram, mas vieram de um berço comum. Petistas e psolistas: baixem a bola. O que menos a esquerda brasileira precisa neste momento é de uma guerra de vaidades autofágica.
Fonte: Caros Amigos
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