Diante do cenário conturbado da política brasileira e em meio ao início oficial da campanha eleitoral, a realidade que se mantem é de pouquíssimo destaque de pessoas pretas na política.
Há um lugar de submissão pré-reservado a candidatos pretos, inclusive na capital baiana onde a maior parte da população é preta. Prova disso, são as chapas que concorrem ao cargo de prefeito de Salvador, tanto da situação como da oposição, com raras exceções.
Há um lugar de submissão pré-reservado a candidatos pretos, inclusive na capital baiana onde a maior parte da população é preta. Prova disso, são as chapas que concorrem ao cargo de prefeito de Salvador, tanto da situação como da oposição, com raras exceções.
Desde sempre a candidatura negra é colocada em segundo plano. Essa estratégia foi bastante visível em 2012, quando nas principais chapas, Olívia Santana e Célia Sacramento entraram como vices. Somente uma vez Salvador teve um prefeito preto, que foi Edvaldo Brito, na década de 1980. O Portal Correio Nagô ouviu dois grupos que se colocam como alternativa a essa ausência.
A candidata à prefeitura de Salvador Célia Sacramento, do Partido Pátria Livre (PPL), aposta em investimentos nos potenciais econômicos da comunidade preta para fazer com que isso reverbere na política. “A minha candidatura ajudará a mudar esse cenário, uma mulher preta, que a população se identifica, sendo eleita ajudará nisso”, acredita a atual vice prefeita da cidade, que foi preterida na chapa à reeleição. Se comprometendo com a pauta racial, ela afirma que investirá de uma forma melhor do que aconteceu na gestão atual nas áreas mais pobres da cidade, “nos becos e guetos, visitando mais vezes, indo a lugar que a gestão atual não foi”, promete.
Para Célia Sacramento, um dos fatores importantes para mudar essa relação de submissão política da comunidade preta e combater o racismo é “encará-lo de frente, mostrar que acontece de fato, não dar as costas a isso, criar novas formas de combate” e potencializar, pela via econômica “a criatividade secular do nosso povo”. Célia afirmou com convicção, ao Correio Nagô, que ganhará em primeiro turno, pelo fato da maior parte da população conhecê-la e valorizá-la, principalmente após o trabalho realizado nos últimos quatro anos.
O Partido Popular de Liberdade de Expressão Afro-Brasileira (pronuncia-se “pe-pe-lê”, em iorubano, que significa “montículo de terra, a base de sustentação dos altares sagrados”) é um partido fundado por candomblecistas, em terreiros, que visa ser uma nova ou a alternativa política para o povo negro. O partido está em busca do registro no TSE e na eleição 2016, apoiará o candidato do PSOL à prefeitura de Salvador, Fábio Nogueira.
Em entrevista ao portal, os representantes definiram o partido como pan-africanista, quilombista, enaltecendo a teoria e a figura de Abdias do Nascimento, político preto e autor do livro “O Quilombismo”, que militou durante décadas no Brasil, com a intenção de enviesar a política da comunidade preta de forma própria. Walter Rui, representante nacional do PPLE, afirma a busca de um verdadeiro destaque na política, sem deixar que “a nossa cultura seja aproveitada por oportunistas em época de eleições”. Ele informa que o partido terá uma forte atuação para uma presença maior de pessoas pretas, com destaque, na política.
A intenção do PPLE é de se estabelecer como uma alternativa, sem se associar com a política hegemônica, ao mesmo tempo em que está aberto a receber militantes, inclusive integrantes de outros partidos. Walter Rui afirma “que pelo nosso histórico, pelo histórico de agressões aos praticantes do candomblé e de terreiros implodidos e incendiados, é necessário que tenhamos nosso partido, nossa alternativa política”.
Walter afirma que o PPLE estabelece a “paridade na participação política com intenção das mulheres comandarem o partido”, como é tradição na cultura africana/afro-brasileira com forte presença matriarcal.
Fonte: Correio Nagô
Nenhum comentário:
Postar um comentário