Nossos desejos, nossas vontades são o que aparentemente dão sentido as nossas vidas. Nada mais comum que o sentimento de frustração quando não conseguimos saciar essa vontade.
Havia um filósofo alemão no século XIX que já falava sobre isso, inclusive tendo o amor – tema pouco abordado por filósofos – como peça central de nossos desejos.
Havia um filósofo alemão no século XIX que já falava sobre isso, inclusive tendo o amor – tema pouco abordado por filósofos – como peça central de nossos desejos.
Arthur Schopenhauer via a essência do ser humano como a Vontade. Sempre estamos em busca de satisfazer os nossos desejos, por isso para o filósofo alemão, a essência da vida era a dor, pois a satisfação dessas vontades estão atreladas a nossa concepção de felicidade, o que acaba por se tornar insustentável, nos fadando a frustrações.
Daí nota-se o pessimismo como característica intrínseca a esse filósofo – o que lhe garantiu a alcunha de “filósofo do pessimismo” – ao ver o prazer apenas como uma sensação de supressão momentânea da dor, sendo esta por sua vez a única e verdadeira realidade. Para ele o princípio de toda vontade era uma ausência da dor. Em outras palavras, criamos consciente e inconscientemente alguns desejos que tentamos satisfazê-los para atingirmos nossa felicidade e anestesiar nossa dor, porém ao satisfazê-los não atingimos essa felicidade, mas sim um prazer instantâneo, uma ausência momentânea do estado de dor, que logo retroage.
– Já que estamos destinados à dor, seria possível de algum modo atingir a felicidade?
Para Schopenhauer, a anulação da vontade seria o caminho para atingirmos a verdadeira felicidade – segundo ele, que foi um estudioso da filosofia hinduísta, particularmente no budismo – a experiência do nirvana, descrita pelos budistas, seria a ascese para real felicidade e acima de tudo a estabilidade, ao aniquilarmos até mesmo a vontade última, que seria a vontade de viver.
Realizo agora uma digressão para abordarmos o assunto que dá origem ao título do artigo. “Somos escravos do impulso biológico da preservação da espécie”, dessa forma era visto o homem por Schopenhauer. O amor, seria uma estratégia da natureza para disfarçar esse impulso biológico e torna-lo inconscientemente mais atrativo para o ser humano. Por isso, para o filósofo o nosso erro era ver o amor como sinônimo a felicidade, é observado aí outro traço tido como pessimista de Schopenhauer.
Seria impossível evitarmos que nos apaixonássemos, já que somos escravos desse impulso, que nos cria uma vontade involuntária de perpetuarmos a espécie, mesmo que essa não seja a real intenção de nosso consciente. O produtor de televisão inglês, Alain de Botton, usa o exemplo de uma balada para ilustrar esse impulso. Segundo o produtor – baseado em Schopenhauer – as pessoas vão a esse tipo de festa com o intuito de satisfazer essa vontade de prazer, seja por amor ou por satisfações sexuais, mas que na verdade a real intenção de seu inconsciente é a preservação da espécie.
Porém, nada como o amor para nos trazer uma frustração – em uma percepção bem niilista, diga-se de passagem – e isso vem a partir do que Schopenhauer já denunciava, a nossa visão do amor como felicidade. Atualmente notamos que a maioria dos relacionamentos amorosos são frágeis, sem e entrega necessária para a solidificação de algo. É comum entrarmos em uma relação pensando se realmente vale a pena, se não vou me machucar ou se irá acabar bem. Jogamos o jogo do falso desinteresse. O que parecer mais desinteressado na relação é o que é visto como superior, não devemos demonstrar interesse, e assim ficamos presos nesse jogo inútil, perdendo momentos a dois com a pessoa que temos apreço tudo para parecer desinteressado.
Tudo isso é feito à medida de que nos machucamos. Mas então por que não desistimos de amar e viramos pessoas frias, não seria mais racional?
Provavelmente Schopenhauer responderia que é impossível nos libertarmos dos grilhões do instinto da preservação da espécie, e buscamos sempre essa felicidade travestida de amor, então o instinto superaria razão – mas o amor machuca, maldita artimanha da natureza – concluiria o filósofo.
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