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domingo, 21 de junho de 2015

Estão fazendo muito barulho por pouco no caso da reunião vazada de Lula.

Alguém se queixava de determinado problema. Qualquer problema.

Por exemplo: uma vez o redator-chefe da Veja, Mario Sabino, mandou publicar uma enorme matéria laudatória sobre seu próprio livro.

É simplesmente inaceitável.  Nem a Gazeta de Pinheiros tolera este tipo de autofavorecimento descarado. Sabino chegou a ser comparado a Machado de Assis por um livro que, passados uns poucos anos, não é lembrado nem pela família do autor.

Os diretores da Abril acharam tudo aquilo um horror.
Lembro de várias reuniões de diretoria da Abril em que o tema eram os desafios que tínhamos pela frente.
Roberto Civita, o dono, não participava delas, mas era, com frequência, a pessoa mais citada.
Alguém se queixava de determinado problema. Qualquer problema.
Por exemplo: uma vez o redator-chefe da Veja, Mario Sabino, mandou publicar uma enorme matéria laudatória sobre seu próprio livro.
É simplesmente inaceitável.  Nem a Gazeta de Pinheiros tolera este tipo de autofavorecimento descarado. Sabino chegou a ser comparado a Machado de Assis por um livro que, passados uns poucos anos, não é lembrado nem pela família do autor.
Os diretores da Abril acharam tudo aquilo um horror.
“Como isso pode acontecer na principal revista da casa?”, era o coro.
Um dos diretores respondeu.
“Falei já com o Roberto sobre isso. Mas ele ouve e ao mesmo tempo não ouve. Acaba não fazendo nada.”
Sabino, segundo um subordinado do seu tempo na Veja, é o novo Machado de Assis
Sabino, segundo um subordinado do seu tempo na Veja, é o novo Machado de Assis
E então algum outro executivo lembrava que Roberto Civita era muito distante dos funcionários da casa, ao contrário do pai, que vivia circulando pela casa, às vezes dando tapinhas nas bundas das mocinhas bonitas.
“Ah, essa é a cultura da casa”. Uma vez o então presidente executivo Ophir Toledo disse que, ao ser contratado para comandar a Abril, pediu para o veterano VP de recursos humanos que o levasse à redação da Exame.
“Não sei onde fica”, ouviu, atônito.
Bem, contei tudo isso porque as imagens acima me vieram quando li a matéria da Globo sobre uma reunião de Lula com religiosos.
Alguém, traiçoeiramente, gravou-a, e a mídia, como era previsível, está fazendo um estardalhaço.
Mas quem está habituado a reuniões corporativas sabe que é muito barulho por muito pouco.
É claro que, nas reuniões da Abril, falaríamos sobre RC com muito mais cuidado se soubéssemos que estávamos sendo gravados – embora não disséssemos nada de extraordinário.
Esprema o que Lula falou de Dilma.
Que ela não circula como ele. Ora, Lula já disse isso várias vezes.
São estilos diferentes. Lula, sindicalista, adora andar pelo Brasil e conversar com o povo, sobretudo o povo simples.
É um retorno às raízes, à infância, aos dias mais felizes que alguém pode ter, a despeito de dificuldades materiais.
Dilma é de outra natureza. É mais fechada, é uma administradora muito mais de gabinete do que de rua.
Querer que ela se transforme numa Lula, e faça uma expedição pelos rincões, é um erro que muitas pessoas e o próprio Lula cometem.
Ninguém esperava de Roberto Civita que tivesse o walk management – gerência ao caminhar pela empresa – de seu pai. Era outro o estilo, era outra a pessoa.
Aceitávamos todos como dado da vida que os funcionários mais próximos de RC fossem os seguranças que o cercavam o tempo todo dentro e fora da Abril.
(Quando fiz uma cirurgia em 2000, RC foi me visitar no Einstein. O hospital fechou o corredor do quarto em que eu estava para que os seguraças de RC pudessem se instalar adequadamente. Isso numa visita de quinze minutos.)
De volta a Lula, ele disse que Dilma está no “volume morto”. É uma tirada engraçada, típica do humor de Lula. É vital, para entender a piada, saber que ele também se colocou no volume morto.
Tire do contexto e parece uma pancada em Dilma, e não a brincadeira que foi.
Da mesma forma, ele apontou problemas no PT, como nas reuniões da Abril notávamos obstáculos da empresa.
Mas ele falou, e isso faz toda da diferença, que o PT ainda é o “melhor partido do país”.
A mídia está dando uma dimensão ao caso que, definitivamente, é acima da realidade.
Muito acima.
Quem acreditava na gravidade do que Lula disse, para evocar Wellington, acredita em tudo.

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