A micro-eletrônica e a digitalização deram início a transformações gigantescas na economia.
De um lado, a desmaterialização do suporte físico da informação permitiu desde o surgimento do processo de convergência de mídias (do qual a Internet é até o momento a sua maior expressão) até o visceral rompimento do capital financeiro com o mundo da produção, em fluxos transfronteiras de pura especulação. De outro lado, a capacidade de captar, processar, armazenar e transmitir informações passou a poder estar no bolso de qualquer cidadão.
Tais mudanças afetaram radicalmente as condições de trocas entre os países assim como a geração de empregos. Cada vez mais a produção de valor se encontra no setor terciário, mas mais especificamente nos serviços ligados à indústria (como C&T, design, marketing, etc). As conseqüências dessas transformações se fazem sentir por todo o planeta.
Embora a revolução da micro-eletrônica e da digitalização esteja longe de se esgotar, estamos no limiar de uma nova transformação que vai se somar à primeira, com conseqüências ainda imprevisíveis. Trata-se de um desdobramento, ou de uma radicalização, dessa Terceira Revolução Industrial. E, como sempre, nossos instrumentos jurídicos e econômicos não foram pensados para lidar com esses novos fenômenos, o que deve gerar um período de intensa instabilidade.
Vejamos algumas mudanças que aparecem no horizonte.
A revolução dos drones. Em pouco tempo, teremos milhões de drones sendo usados para os mais diferentes fins. Nos Estados Unidos, como relata o Wall Street Journal, já é possível contratar um drone dotado de infra-vermelho para espionar silos e armazéns a fim de saber o tamanho da safra antes que a informação seja divulgada. Recentemente uma usina nuclear da França foi “visitada” por um drone desconhecido, do tamanho de um pombo. O uso de drones se alastra, indo de filmagens à usos militares, passando pela agricultura e a entrega de pequenas encomendas.
A revolução das impressoras 3D. Aqui os impactos não são menores, especialmente no setor industrial. Atualmente, montadoras de carros já usam impressoras 3D para “imprimir” algumas peças de motor. E ainda estamos nos primórdios dessa tecnologia, que tem potencial para evoluir muito nos próximos anos. Mas, o impacto mesmo ocorrerá quando as impressoras chegarem às residências. Será possível imprimir de uma arma de fogo a um artefato de consumo. Como fica, por exemplo, a questão da propriedade intelectual, quando até mesmo bens físicos puderem ser replicados em ambientes domésticos?
A revolução da Internet das coisas. Em, poucos anos, haverá mais máquinas conectadas à Internet do que seres humanos. A quantidade de dados gerada será brutal. E os riscos à privacidade são enormes. Empresas como o Google terão acesso às nossas geladeiras, carros, termostatos, televisões, etc.
A revolução dos agentes pessoais. Google Now, Siri e Cortona são os avós dos verdadeiros agentes pessoais, que ainda estão por nascer. Eles terão acesso a uma quantidade gigantesca de nossos dados pessoais, passando por contas bancárias, cartões de crédito, programas de televisão, deslocamentos diários, compras no supermercado, conversas telefônicas, etc e serão capazes de aprender sobre nossos gostos e nos propor iniciativas nas mais diversas frentes.
A revolução dos carros autômatos. Lidar com as micro-variáveis do complexo trânsito dos grandes centros urbanos ainda é um desafio a ser vencido. Mas, uma vez transposto esse limiar, nossos assistentes pessoais serão capazes de nos levar de um lugar ao outro. Aqui há uma série de questões que precisam de respostas. Primeiro, os inegáveis problemas de privacidade. Mas, também há questões jurídicas que precisam ser pacificadas. Em um acidente com um carro autômato, quem será o responsável?
Todas essas transformações ocorrerão nos próximos dez anos e causarão um verdadeiro terremoto na vida em sociedade do qual as atuais redes sociais são um pequeno vislumbre. Economia, política, sociabilidade, empregabilidade, produção industrial… tudo isso será impactado e fica evidente que não temos as ferramentas para lidar com tais desdobramentos. No caso brasileiro a questão é ainda mais grave, na medida em que nos auto-exilamos na condição de produtores de matérias-primas ou de produtos com pequena transformação industrial, como o aço.
Fonte: Blog do Gindre
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