Tendência na indústria, a televisão poderá migrar totalmente para o IP cedendo espaço no valioso espectro para telefonia móvel.
Não é apenas a mudança no hábito das pessoas no modo como assistem à programação televisiva que está forçando os programas de TV a migrarem para a internet. A briga pelo uso do espectro entre a televisão e as empresas de telefonia é outro ponto relevante nessa luta.
O espectro é um bem público e empresas privadas pedem uma concessão ao Congresso Nacional para uso e emissão pelo ar de seus programas e conteúdo. Pode ser representado como uma pista para automóveis com várias faixas. Nestas faixas, a velocidade dos automóveis é diferente e cada faixa tem um limite, uma largura que permite uma quantidade finita de carros. Nas transmissões por radiofrequência essas faixas é que determinam o uso das emissoras de rádio AM/FM, das emissoras de TV em VHF, UHF e na televisão digital. Acontece que estas faixas já estão com suas capacidades comprometidas e, para complicar ainda mais o problema, elas são excelentes pistas para se oferecer telefonia móvel no sistema 4G. Com o processo de digitalização do sistema de transmissão de TV no Brasil, a faixa de frequência do sistema analógico (700 Mhz) foi a leilão para que empresas de telefonia possam oferecer o sistema 4G. O Governo Federal espera que em 2018 todo o sistema analógico de TV seja desligado e a telefonia móvel possa ocupar esta frequência.
Contudo, a indústria de televisão mundial está se voltando para o mundo IP (internet Protocol), ou seja, transmitir o conteúdo televisivo via protocolos de internet. Especialistas apontam várias vantagens desta plataforma: integração do conteúdo da TV com a internet, controle na transmissão dos dados, conteúdo segmentado (programas e publicidade) e, em um futuro próximo, conteúdo em Ultra Definição (4K e 8K). Será mesmo possível um tempo em que não teremos mais a televisão transmitida pelo ar? O que isto significaria no campo político?
Deixando de lado (por ora) os aspectos ligados a modelo de negócios e de engenharia, a TV por IP já está sendo utilizada em alguns mercados. No congresso 2015 da NAB (National Association of Broadcaster) em Las Vegas, os participantes que se hospedaram nos hotéis cassinos puderam experimentar a TV por IP. Não há mais televisores conectados a cabos de antenas externas, as caixinhas de TV paga. O conteúdo chega pela rede Ethernet e se conecta aos aparelhos com conexão à internet. No menu principal (ver foto) o hóspede tem uma gama de serviços, canais televisivos pagos e gratuitos com as principais emissoras nacionais e locais e vídeo On demand.
O que representaria para a sociedade se toda uma grande cidade como São Paulo, consumisse televisão apenas por IP? Seria mais difícil convocar uma manifestação como a de março? A televisão teria ser seu poder socializador de temas, modismos, envolvimento e engajamento da população afetado? Na transmissão por IP a TV teria ainda mais concorrência com o conteúdo das redes sociais? Ou seria ainda mais integrado? São inúmeras questões sem nenhuma indicação de resposta. Mas uma coisa é certa. O meio é a mensagem, como afirmou Marshall McLuhan e a migração para este novo meio com toda a certeza irá transformar o papel da televisão perante a sociedade e o uso que fazemos dela. Para uns, este cenário futuro poderá ser muito positivo, para outros, nem tanto.
Fonte: Convergência Midiática
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