De partido socialdemocrata,
o PSDB só tem o nome e algumas vagas lembranças – como a dos ex-governadores
Franco Montoro e Mario Covas.
A cada dia que passa, a sigla vai assumindo
posições mais à direita e sendo tomada por alguns notórios fascistas. Na semana
passada, a direção da legenda em São Paulo teve o desplante de indicar o
truculento deputado Coronel Telhada para compor a Comissão de Direitos Humanos
da Assembleia Legislativa (Alesp). Até setores minoritários do partido ficaram
indignados com o gesto tipicamente provocador. Já o PT solicitou ao presidente
da Casa, o tucano Fernando Capez, que vete a vexaminosa indicação.Para a deputada petista Beth Sahão, a presença do Coronel Telhada na comissão permanente “é uma afronta à luta pelos direitos humanos. A indicação dele é muito ruim, por isso estamos tentando negociar sua retirada”. No mesmo rumo, a Juventude do PSDB, o coletivo Tucanafro e o movimento Diversidade Tucana divulgaram conjuntamente, no sábado (9), nota condenando a decisão do próprio partido e solicitando “que a bancada dos deputados reveja a indicação do Coronel Telhada para a Comissão de Direitos Humanos em respeito ao compromisso histórico do partido com o tema”. Apesar dos apelos, o líder da bancada do PSDB na Alesp, deputado Carlão Pignatari, já sinalizou que não haverá recuo.
O episódio confirma que o ninho tucano virou um poleiro de fascistóides. O Coronel Telhada é uma das expressões desta triste regressão. Como comandante da Ronda Ostensiva Tobias de Aguiar (Rota), o militar ficou famoso por sua violência. Em seu currículo, ele se gaba de ter cometido 36 mortes em ações da PM. Em 2012, aproveitando-se da exposição midiática, ele ingressou na política, sendo eleitor vereador na capital paulista pelo PSDB. No ano passado, ele foi o segundo candidato mais votado para a Assembleia Legislativa de São Paulo. Na sua atuação parlamentar, o Coronel Telhada tem se destacado pela posições direitistas e pelo forte exibicionismo.
Logo após as eleições do ano passado, ele postou nas redes sociais que o Sul e o Sudeste deveriam iniciar “o processo de independência de um país que prefere esmola a trabalho” – explicitando todo seu preconceito contra os nordestinos que votaram em Dilma Rousseff. Confirmada sua indicação na semana passada, ele fez provocações em sua página no Facebook: “Agora sim teremos na Alesp uma comissão de direitos humanos que realmente se preocupará com os direitos de todos os cidadãos. Policiais Militares são os verdadeiros defensores dos direitos humanos, pois diariamente arriscam suas vidas por outros humanos e juraram sacrificar as próprias vidas se preciso for pela vida dos outros humanos”.
O site “Vaidapé” selecionou setes opiniões do Coronel Telhada que ajudam a entender a gravidade da decisão do PSDB. Vale conferir:
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1- “Bandido tem que ir para o saco”
A Polícia Militar de São Paulo, no ano passado, bateu recorde de mortes: 816 pessoas. A letalidade foi a maior da história da instituição, superando inclusive os anos de 2006 e 2012, quando a corporação teve uma série de confrontos com o Primeiro Comando da Capital (PCC).
Em janeiro de 2014, 76 pessoas já haviam sido mortas por policiais militares. O número foi o mais alto para o mês em dez anos. Na época, Telhada recebeu a Vaidapé em seu gabinete e afirmou: “A Polícia Militar matou 76 em janeiro? Foi pouco. Quanto mais bandido for para o saco, melhor, porque é menos gente para me encher o saco”.
2- A Câmara “deveria ter um controle de entrada e saída igual das empresas”
Quando assumiu o cargo de vereador em São Paulo, o ex-comandante declarou que queria criar “um controle de entrada e saída [no prédio da Câmara] igual das empresas. Como justificativa, Telhada afirmou: “Não é que eu seja contra morador de rua, mas não dá para aceitar um monte de pessoa que entra lá para tomar banho na pia do banheiro”.
3- “O Sul e o Sudeste deveriam iniciar o processo de independência”
“Por que devemos nos submeter a esse governo escolhido pelo norte e nordeste? Eles que paguem o preço sozinhos. O sul e o sudeste deveriam iniciar o processo de independência de um país que prefere esmola do que o trabalho, preferem a desordem ao invés da ordem, preferem o voto de cabresto do que a liberdade”, afirmou Telhada, logo após a reeleição de Dilma Rousseff (PT), em outubro do ano passado.
4- “Não estamos falando de crianças abandonadas, mas de criminosos”
Em reunião na Comissão Especial da Maioridade Penal da Câmara dos Deputados, Telhada declarou: “Não estamos falando de crianças abandonadas, mas de criminosos”. A comissão analisa a PEC (Proposta de Emenda à Constituição) que propõe a redução da maioridade.
5- “Meu partido é a Polícia Militar”
Em entrevista a Vaidapé, rodeado por brinquedos de temática policial e quadros da Rota, o ex-comandante declarou sua lealdade à instituição em que atuou. “Meu partido é a Polícia Militar. Eu sempre vou defender os policiais”, afirmou.
6- Defesa dos direitos humanos dos “cidadãos de bem”
Em 2012, quando o ex-comandante foi questionado sobre a possibilidade de integrar a Comissão de Direitos Humanos, disse : “Olha, não existe ninguém que defenda mais os direitos humanos, os direitos dos cidadãos, do que a PM. Mas defendo que o cidadão de bem seja valorizado e o bandido seja colocado na cadeia. Precisamos de uma mudança na legislação para acabar com o indulto e com as visitas íntimas. Isso só existe no Brasil”.
7. Ditadura? “Temos que parar de falar nisso. Já faz 50 anos”
“Não existe verdade só de um lado. A verdade tem três fases: a minha verdade, a sua verdade e a verdade verdadeira”, declarou Telhada ao Vaidapé. A partir da reflexão, criticou a Comissão da Verdade e os parlamentares que evocaram o regime militar no plenário da Câmara: “Temos que parar de falar nisso. Já faz 50 anos”, reclama. “Quem está interessado em lembrar-se da ditadura é quem não tem propostas para resolver os nossos milhares de problemas”.
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Com estas e outras declarações, o Coronel Telhada se comporta como um fascistóide que não tem qualquer compromisso com os direitos humanos. O pior é que elas são públicas, o que só confirma a degeneração do PSDB ao indicá-lo para esta comissão da Alesp. A “nova cara” dos tucanos, porém, não é mais novidade. O processo de direitização da sigla é tão acelerado que já gera questionamentos até em colunistas da mídia chapa-branca. Recentemente, o jornalista Bernardo Mello Franco, da Folha tucana, afirmou que o partido cada vez mais se parece com o “Tea Party”, a seita fascistóide do Partido Republicano dos EUA. Vale conferir o artigo, tão incomum na imprensa direitista:
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Tea Party tucano
Bernardo Mello Franco
Folha de S.Paulo – 24/03/2015
Na semana passada, as grandes atrizes Fernanda Montenegro e Nathalia Timberg se beijaram na novela das nove. As duas têm 85 anos e interpretam um casal de senhoras que vivem juntas, como acontece em muitos lares brasileiros.
Um deputado do PSDB, o pastor João Campos, descreveu a cena como um “estupro moral” destinado a “afrontar os cristãos”. Líder da Frente Parlamentar Evangélica, ele pediu aos fiéis que boicotem a novela e seus anunciantes. Se for obedecido, milhões de donas de casa terão que mudar de canal e marca de xampu.
Nesta terça, a Comissão de Educação da Câmara fará uma audiência pública para discutir a “doutrinação política e ideológica nas escolas”.
Um deputado do PSDB, Izalci Ferreira, marcou a sessão. Por telefone, ele explicou que o governo tem usado professores e livros didáticos para pregar o homossexualismo e “transformar o Brasil na Venezuela”. Perguntei que ideologia o preocupava tanto. “Não sei se é comunista, anarquista ou socialista. É uma mistura”, ele respondeu, antes de citar a sobrinha de 5 anos como vítima da doutrinação. “Outro dia, ela pegou um livro para colorir e estava cheio de estrelinhas. Quando vi, ela tinha colorido todas de vermelho”, contou o tucano, dizendo-se indignado.
No último dia 13, parlamentares discursaram sobre as manifestações marcadas para o domingo seguinte.
Um deputado do PSDB, Delegado Waldir, acusou o governo de censurar um artigo de Arnaldo Jabor. Passou a ler um texto primário, falsamente atribuído ao cineasta. “Tudo fica ridículo diante da ditadura, ditadura mesmo, do lulopetismo, a maior ditadura do mundo”, esbravejou, na tribuna. “O Brasil é uma ditadura!”, bradou outras quatro vezes.
Uma direita tacanha está sequestrando o partido de Covas, Montoro e FHC. Se Aécio Neves não explicar aos colegas que o Estado é laico e que a Guerra Fria acabou, corre o risco de disputar as próximas eleições em um Tea Party tupiniquim.
Fonte: Blog do Miro
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