TIC, HFT, milissegundos e outros termos comuns a profissionais da tecnologia e dos mercados financeiros permeiam as páginas de “A Finança Digitalizada: capitalismo financeiro e revolução informacional”, de Edemilson Paraná, lançado este ano pela Editora Insular.
No entanto, ao contrário do que pode sugerir a ampla menção a esses jargões tecnológico-financeiros, o autor apresenta uma escrita clara o suficiente para trazer luz a um assunto ao mesmo tempo intrincado e pouco discutido, mas presente em nosso cotidiano mesmo que não percebamos.
No entanto, ao contrário do que pode sugerir a ampla menção a esses jargões tecnológico-financeiros, o autor apresenta uma escrita clara o suficiente para trazer luz a um assunto ao mesmo tempo intrincado e pouco discutido, mas presente em nosso cotidiano mesmo que não percebamos.
Na busca pelo encurtamento da relação espaço-tempo para a maximização de seus ganhos, os agentes do mercado têm aperfeiçoado cada vez mais os mecanismos capazes de drenar em suas roletas grande parte dos orçamentos de dezenas de países – o Brasil incluído – por meio de transações cambiais e de compra e venda de títulos da dívida pública.
Em um momento da história no qual a austeridade fiscal figura como eixo central do discurso das classes dominantes mundo afora, Edemilson Paraná ajuda a entender que a tecnologia não é neutra: ela é racionalmente programada para ajudar os detentores do grande capital em suas estratégias de acumulação, em detrimento não apenas dos menores atores do mercado, mas da sociedade como um todo. E pior: ela pode ser programada para fraudar os mercados e potencializar ainda mais os ganhos e a concentração de riqueza em poucas mãos.
Em entrevista ao Jornalistas Livres, Edemilson Paraná alertou para a existência de um celebracionismo em relação à tecnologia. Os próprios atores dos mercados financeiros parecem imaginar, e celebrar, que a técnica é imune às realidades humana, política e social. “Isso faz pouco sentido quando esses artefatos técnicos são produzidos, programados e operados por seres humanos e funcionam dentro de um contexto social humano.”
A pesquisa que resultou no livro começou, nas palavras do autor, com uma investigação a respeito da relação entre ciberativismo e a politização da técnica. “O que eu estava tentando entender eram novas formas de mobilização política por meio da tecnologia”, disse Edemilson Paraná ao JL. “Conforme fui investigando, acabei parando nessa temática do capitalismo financeiro e da revolução informacional”, explicou ele.
O fato de Edemilson Paraná abordar os efeitos dos avanços tecnológicos sobre os mercados financeiros a partir de um ponto de vista sociológico proporciona um pouco de humanidade ao tema e ajuda o leitor a entender os rumos do capitalismo e a crescente predominância do capital fictício sobre a economia a partir de 1980. Para ficar em um exemplo contido no livro, se no ano citado havia uma certa paridade entre ativos financeiros e a riqueza produzida no mundo, três décadas depois, concomitantemente à acelerada informatização dos mercados financeiros e à retirada cada vez maior de barreiras ao fluxo de capitais, o volume de ativos financeiros praticamente quadruplicou em relação à soma do PIB de todas as nações do planeta.
Consequentemente, a predominância do capital financeiro provoca um aumento considerável de seu poder político, afetando inclusive o que conhecemos como democracia. Não à toa, especialmente no mundo ocidental, os governos mostram-se cada vez mais submissos às demandas dos agentes do mercado e alheios às demandas sociais. Ao mesmo tempo, as mobilizações sociais e greves como as conhecemos mostram-se menos eficazes do que antes, uma vez que não são capazes de bloquear efetivamente a circulação de mercadorias e, principalmente, de capitais.
Depois de ler “A Finança Digitalizada”, acontecimentos políticos como o debate e a aprovação de medidas lesivas ao conjunto da sociedade e à construção de um Brasil mais autônomo e soberano, como a PEC 55/241 e a reforma previdenciária, tornam-se ainda mais claros como desfechos previsíveis do golpe contra Dilma Rousseff. Fica claro também que novas formas de ação e mobilização precisam ser buscadas pelos agentes sociais e políticos contrários a essas medidas.
A finança digitalizada: capitalismo financeiro e revolução informacional.
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