Há quase três anos, em plena pré-campanha de 2014, o senador do Amapá Randolfe Rodrigues, escolhido candidato à presidência pelo PSOL, resolveu presentear seu colega de parlamento e também presidenciável do PSDB Aécio Neves com um livro: 1964 – O Verão do Golpe, de Robert Sanders.
Aécio postou a foto dos dois posando com o livro em seu facebook e foi aquele auê. Achincalhado pelos próprios colegas de partido como “a esquerda que a direita gosta”, Randolfe desistiu da candidatura e acabou abandonando o PSOL meses depois.
Aécio postou a foto dos dois posando com o livro em seu facebook e foi aquele auê. Achincalhado pelos próprios colegas de partido como “a esquerda que a direita gosta”, Randolfe desistiu da candidatura e acabou abandonando o PSOL meses depois.
Março de 2017. Um dos fundadores do partido, o deputado federal Chico Alencar foi à festa de 50 anos de jornalismo de Ricardo Noblat no restaurante Piantella, em Brasília, onde foi flagrado em animada roda de conversa com… Aécio Neves. Chico foi muito cobrado nas redes sociais pela proximidade demonstrada com o senador tucano, mas pelos petistas. Não se viu dos psolistas a reação furiosa que a foto de Randolfe com o mesmo Aécio desencadeou. Mudou Aécio, mudou Chico, mudou Randolfe ou mudou o PSOL?
“Pelo visto o PSOL amadureceu. Percebi que a polêmica em torno do Chico não chegou nem perto da minha. Ainda bem, gosto muito dele. Não gostaria que passasse pelo que passei”, afirma o senador amapaense, que foi para a Rede. Randolfe não acompanhou de perto a história do que a imprensa chamou de “beija-mão” de Chico Alencar em Aécio, mas não esconde que, para ele, o imbróglio teve um certo sabor não de vingança, mas de “o mundo dá muitas voltas”…
Por que Randolfe resolveu dar o livro a Aécio? “Sempre tive uma relação de carinho e respeito com Aécio. Dei o livro a ele porque tinha lido e gostado e porque o autor citava várias vezes o avô dele, Tancredo”, conta o senador. “Ele me pediu para tirar uma foto comigo para postar no facebook e seria indelicado de minha parte recusar.” A foto continua na página do senador tucano. Aécio também postou a dedicatória na íntegra: “Querido Aécio, este livro apresenta as habilidades de políticos que fazem e faziam da política a arte da paixão e da sensibilidade, entre eles seu avô. Isto em tempos de tormentas e autoritarismo. Que as benfazejas lembranças do passado nos inspirem, políticos do presente, para fazermos o melhor pelo Brasil.”
Mas o que foi apenas uma gentileza entre adversários se transformou num vendaval. Randolfe recebeu todo tipo de mensagem insultuosa e as maiores ofensas vieram de gente do próprio PSOL. Algumas das manifestações eram, conta, inquisidoras, como a do presidente do partido, Luiz Araújo, que na época trabalhava em seu gabinete; outras eram francamente agressivas. Um dos que criticaram Randolfe na época foi o jornalista Milton Temer, quadro histórico do PSOL no Rio, que classificou a foto e sobretudo a dedicatória como um “erro grave” do colega de partido.
“Inaceitável, meu caro Randolfe. Um senador do PSOL, cujo mandato tem sido excelente na defesa do mundo do trabalho, não pode exercer o ‘melhor pelo Brasil’ da mesma forma que um senador conhecido como porta-voz do grande capital multinacional, e de seus sócios-sabujos no Brasil. Trata-se de insuperável antagonismo de representação”, escreveu. Temer também criticou a presença de Chico Alencar no jantar do Piantella, mas foi mais suave: “um deslize”, “equívoco”.
Luciana Genro, que substituiu Randolfe na candidatura à Presidência, chegou a cometer a indelicadeza de dizer que ele estava “praticamente fora do partido”, muito antes de qualquer posicionamento do senador neste sentido. Sobre o jantar de Chico Alencar com Aécio, nada. O ex-deputado João Batista Araújo, o Babá, e sua corrente dentro do PSOL, a CST (Corrente Socialista dos Trabalhadores), pediram a expulsão imediata de Randolfe do partido após a bendita foto. Sobre Chico no Piantella com o tucano, nenhuma palavra.
“Até a corrente que eu integrava, a Ação Popular Socialista, me criticou. Não tenho nenhuma mágoa, mas a verdade é que não recebi a solidariedade de ninguém. A reação foi muito maior do que eu imaginava e foi uma das principais razões para eu desistir da candidatura à presidência”, diz Randolfe. “Acho que essa história do Chico mostra que o PSOL evoluiu e também que a história me absolveu. Aquela foto, assim como a presença dele no jantar, são provas de que se pode conviver com as diferenças e não vergar um milímetro nas convicções.” Após deixar o partido, o senador anunciaria apoio a Dilma no segundo turno, não a Aécio.
Hoje, Randolfe lamenta enxergar não só no PSOL, mas em toda a esquerda brasileira uma enorme intolerância com a divergência interna, entre grupos que desejam, afinal, a mesma coisa. “Isso infelizmente vem do stalinismo, essa tendência de vigiar, de atacar o outro. É como se existisse um ‘esquerdômetro’ apontando o tempo todo quem é mais de esquerda e quem é menos”, critica o senador, que, mesmo na Rede (“o partido da Marina”) continua se considerando “de esquerda” tanto quanto se sentia no PSOL. “Sigo a máxima de Lenin: as palavras convencem, o exemplo mostra. A pessoa tem de ser quem é pelo que faz.”
Fonte:Socialista Morena
Nenhum comentário:
Postar um comentário