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segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Minha decepção com o machismo do Dalai.

Cresci ouvindo falar das citações famosas de Dalai Lama. Lembro do meu encantamento ingênuo ao ler pela primeira vez – lá pela pré-adolescência, muito provavelmente – Dalai falando sobre o que mais o surpreende na humanidade. Tornou-se, ano a ano de minha adolescência, uma espécie de ídolo.
Dalai Lama é um guru. Ganhador do prêmio Nobel da Paz, com um discurso de igualdade e declaradamente feminista: em tese, um homem em que se pode confiar.
Por isso mesmo minha surpresa descontente com sua última afirmação: Dalai gostaria de ser sucedido por uma mulher atraente. ATRAENTE.
Dalai Lama é um guru. Ganhador do prêmio Nobel da Paz, com um discurso de igualdade e declaradamente feminista: em tese, um homem em que se pode confiar.
Por isso mesmo minha surpresa descontente com sua última afirmação: Dalai gostaria de ser sucedido por uma mulher atraente. ATRAENTE.
Ele poderia querer ser sucedido por uma mulher sábia, espiritualizada ou socialmente comprometida. Mas quando se fala de mulheres – seja lá qual for o assunto – há muitas outras coisas que são lembradas e mencionadas em detrimento de nossa própria condição humana. Somos julgadas – para o bem ou para o mal – primeiro por sermos mulheres, e depois por sermos seres sociais como quaisquer outros.
Fala-se muito mais, por exemplo, da forma física da presidente do que de sua atuação política. Especulam sobre sua orientação sexual, recomendam-lhe uma dieta, criticam-na pela solteirice, insultam-na com termos com conotação sexual.
E mesmo nas situações mais cotidianas e banais ser mulher tem um preço: se cometemos uma imprudência no trânsito, ninguém grita através da janela “IMPRUDENTE, IRRESPONSÁVEL!” O som é quase sempre o mesmo: Puta! (Como se nosso comportamento sexual estivesse sempre implícito em qualquer julgamento a nosso respeito).
E, pasmem, nem o guru mais respeitado da atualidade escapa: antes de desejar ser sucedido por uma mulher espiritualizada, ele se lembra de que mulheres PRECISAM ser atraentes, como se fôssemos bibelôs ou objetos de decoração. Como se isso importasse mais que qualquer papel que sejamos capazes de desempenhar.
Não quero crer que diante de episódios como este alguém ainda pense que feminismo é vitimismo ou exagero irracional. Não quero crer – embora precise, lamentavelmente – que alguém ainda dirá que a declaração de Dalai Lama não teve tanta importância assim. Que ele é só um sábio espirituoso demais.
Aliás, quando se é uma pessoa pública, cada declaração tem um peso que precisa ser precedido de responsabilidade.É preciso que se saiba o que fazer com o próprio poder de influência sobre o outro, sobre a opinião pública, sobre o mundo. Sexismo não é piada.
Dalai Lama, Vossa Santidade: nós não precisamos de uma guru atraente, ou de uma presidente atraente, ou de uma professora atraente. A beleza não é nossa principal função no mundo: nós não somos enfeite. Nós não precisamos ser bonitas, ou delicadas, ou graciosas: nós precisamos, assim como vocês, homens, fazer o nosso trabalho.
O que eu espero da sucessora de Dalai Lama é alguém que – atraente ou não – enxergue que mulheres são muito mais que beleza e graciosidade, e que a plenitude espiritual passa inevitavelmente pela ideia de igualdade e respeito. E que mostre ao mundo – como muitas de nossas companheiras já têm conseguido – que mulher nenhuma precisa ser atraente para assumir o seu papel no mundo.
Fonte: Geledes

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