Os alemães, que têm palavras gigantes para quase tudo, chamam de “zeitgeist” o espírito de uma geração, o clima intelectual de uma época.
Para evitarmos maiores transtornos, chamemos nosso herói de “Z”. Z é um veterano de guerra. Exibe com orgulho suas condecorações, ostenta amplamente as chagas conquistadas. Aceitara uma indenização do governo pela perda parcial de sua audição no ouvido esquerdo e total no direito, muito a contragosto, por insistência do general, seu superior há muito e por quem nutria muita admiração. Perdera muitos amigos e vira lágrimas rolarem copiosamente de suas viúvas. Mas Z já via a morte com muita naturalidade. Se se vive, uma hora “tem-que-se-morrer”, pensava. Foi espectador de grandes conflitos – a Guerra dos Seis Dias, as Intifadas, os de Gaza, Iraque, Afeganistão, Kuwait, e mais uma lista interminável de conflitos os quais, agora, contava com empolgação para seus netos, que os ouviam como a uma fábula. Admiravam a coragem e bravura indômita do avô. “Mas, vô, por que você teve que fazer tudo isso?”, perguntaria a mais nova, sempre mais enxerida. Ele titubeou e por alguns segundos temeu não dar uma resposta afirmativa e convincente a seus netos: “Fui para defender minha pátria” – recorreu ao velho clichê militar. O mais velho chegou a pedir uma metralhadora de brinquedo, o que a princípio assustou os pais, mas logo se convenceram a dar uma, de aniversário, ao pequeno. Com tantas histórias, sempre que viam um árabe na rua apertavam as mãozinhas suadas contra as do avô, que logo os afagava com as grossas camadas de pele que os anos de guerra lhe deram. Passados os anos, hoje, o mais velho habilitou-se para defender as fronteiras de seu país, colocando-se à disposição do seu desenvolvimento. “Precisamos pegar em armas para defender a nossa paz”- pensava com a coluna ereta, a postos em sua vigília. “O desenvolvimento é a nossa prioridade, e sem paz não há desenvolvimento!”- pensou orgulhosamente, ao impedir que um grupo de refugiados, espalhados em campo aberto, cruzassem suas fronteiras. Lembra com doçura da imagem do vô e das tardes em que brincavam de patrulha, e quando aquele lhe dava um tapinha nas costas toda vez em que este abatia um soldadinho. Deu um meio sorriso. “Só vale a pena fazer guerra em nome da paz!” – brada como a um slogan positivista reciclado para o século XXI.
Fonte: Gonzo Na Cara
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