Deve ser adorável conhecer Clarice Falcão. Se é preciso que um texto lhe diga isso, Clarice é interessante.
O que não é precisamente um elogio, mas uma forma de não colocá-la em um patamar de mediocridade em que as pessoas costumam jogar todos os artistas que chamam a atenção dos gostos adolescentes de hormônios em borbulhas, doidos por uma identidade e por alguém que fale o que a identidade deles precisa. Falcão é dona de um humor um tanto refinado: quando é ácido, não é pernicioso; quando é banal, não é dispensável. É engraçada na maior parte do tempo.
O que não é precisamente um elogio, mas uma forma de não colocá-la em um patamar de mediocridade em que as pessoas costumam jogar todos os artistas que chamam a atenção dos gostos adolescentes de hormônios em borbulhas, doidos por uma identidade e por alguém que fale o que a identidade deles precisa. Falcão é dona de um humor um tanto refinado: quando é ácido, não é pernicioso; quando é banal, não é dispensável. É engraçada na maior parte do tempo.
Em 2013, quando lançou “Monomania”, lamentavelmente, os fãs da artista e a própria apareceram com uma novidade já desgastada nas mãos: coroa de flores na cabeça, voz apagada, ironia gasta. Mas, vamos lá, de lá pra cá várias dessas coisas mudaram: cores sóbrias, nada de coroa de flores na cabeça. Até os fãs já cresceram.
O defeito de “Problema Meu” são as virtudes de Clarice. Elas estão deslocadas. Podiam estar em um vídeo do Porta dos Fundos, em um quadro do americano “SNL”, em um vlog, em um filme. Clarice podia, perfeitamente, ser parceira de Marcelo Adnet no “Tá no Ar”. Suas narrativas possuem (bons) auges.
No entanto, “Problema Meu” é musicalmente pouco ambicioso. E, apesar de a última e auto-satírica faixa do álbum, “Clarice”, deixar claro que a cantora e atriz tem noção das críticas que recebe, o problema musical não é sua simplicidade, seus “três acordes”. Os arranjos pobres, esses sim, e a fraca mistura de Kate Nash com qualquer coisa do inconsciente musical da artista deixam claro que a audiência se divertiria muito mais caso o álbum fosse um áudiobook.
Clarice e seus álbuns são apenas boas histórias. Elas funcionam porque adolescente é bicho bobo ou porque Clarice tem um baita carisma com seu humor calcado justamente no anti-carisma. A junção de ambos os fatores talvez explique tudo melhor do que cada um, separado. O fato é que a despretenção de Clarice chamou atenção e, para livrar-se disso por meio de música, é preciso música. Algo que “Problema Meu” não nos oferece o suficiente.
Nesse ponto, “Monomania” era até menos errante, valorizava mais outras capacidades da atriz. Três anos depois, apenas “Duet” (de, enfim, boa música e letra), “L’amour Toujours (I’ll Fly With You)”, regravação do hit do Gigi D’Agostino, e “Como É Que Vou Dizer Que Acabou” podem chamar a atenção de quem foge da faixa etária provocada naturalmente pela beleza e os adornos de Clarice. Mesmo com todas essas críticas, vale muito a pena ouvir e se deleitar com o som de Clarice.
Fonte: Fita Bruta
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