“É impossível trabalhar com histórias humanas sem mergulhar no universo das pessoas”. Assim a advogada Gabriela Cunha Ferraz sintetiza o envolvimento dela com o projeto Vidas Refugiadas, sobre mulheres refugiadas no Brasil.
Depois de um ano de trabalho, o projeto estreia nesta segunda (07) em São Paulo como exposição fotográfica e ficará exposto durante o mês de março.
Depois de um ano de trabalho, o projeto estreia nesta segunda (07) em São Paulo como exposição fotográfica e ficará exposto durante o mês de março.
Representando aproximadamente 30% das pessoas refugiadas no Brasil, a mulher refugiada acaba herdando a invisibilidade já habitualmente experimentada pelas mulheres, fazendo com que suas dificuldades sejam menos ouvidas, suas particularidades desrespeitadas e sua feminilidade ignorada. Esse processo limita acesso a direitos, impede uma integração plena e mantém violações que elas já vivenciavam nos países de origem.
É a partir das histórias de vida de oito mulheres refugiadas no Brasil que Gabriela busca jogar luz sobre as dificuldades e destacar as lições de superação que cada uma delas carrega, ajudando na integração delas e de outras mulheres refugiadas. “Sempre percebi que elas resumem em si a força, a determinação e o significado do que é ser mulher. Queria que elas servissem de inspiração para as outras mulheres, facilitando o doloroso processo de adaptação e integração no Brasil”.
A mostra é composta por 16 imagens, registradas pelo fotógrafo Victor Moriyama, parceiro de Gabriela no projeto. O ato de lançamento, nesta segunda, terá um debate mediado por ela e com a presença do Secretário Nacional de Justiça, Beto Vasconcelos, o representante da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) no Brasil, Agni Castro-Pita e a nigeriana Nkechinyere Jonathan, uma das oito mulheres refugiadas que integram o Vidas Refugiadas. Após o debate haverá um buffet com comidas árabes.
Na entrevista abaixo, concedida ao MigraMundo, a advogada conta mais detalhes sobre a exposição, o processo de elaboração e planos futuros para o projeto.
Além da exposição, maiores informações sobre o Vidas Refugiadas podem ser obtidas no site oficial do projeto (acesse aqui).
MigraMundo: De onde vem seu envolvimento com a questão da migração e do refúgio?
Gabriela Cunha Ferraz: Morei um ano na República Democrática do Congo (RDC) e tive contato com muitas mulheres, vítimas de violência. O país apresenta o pior índice mundial de casos de estupro. Ao voltar para o Brasil, trabalhei, como advogada, em uma organização não governamental que acolhe solicitantes de refúgio. O envolvimento veio de uma forma natural porque é impossível trabalhar com histórias humanas, sem mergulhar no universo dessas pessoas.
Gabriela Cunha Ferraz: Morei um ano na República Democrática do Congo (RDC) e tive contato com muitas mulheres, vítimas de violência. O país apresenta o pior índice mundial de casos de estupro. Ao voltar para o Brasil, trabalhei, como advogada, em uma organização não governamental que acolhe solicitantes de refúgio. O envolvimento veio de uma forma natural porque é impossível trabalhar com histórias humanas, sem mergulhar no universo dessas pessoas.
Quando surgiu a ideia para o projeto e quanto tempo levou até ele ficar pronto?
Há um ano eu fui chamada pelo fotógrafo Victor Moriyama para participar de um projeto fotográfico que abordaria alguns dos direitos das mulheres na esfera sexual e reprodutiva. Quando nos conhecemos e depois de perceber sua sensibilidade, logo pensei que ele seria a pessoa perfeita para desenvolver um projeto que se dedicaria a registrar o cotidiano de mulheres refugiadas e solicitantes de refúgio em São Paulo, através da arte. Começamos a desenhar o projeto em março de 2015 e, agora, um ano depois, fazemos seu lançamento.
Há um ano eu fui chamada pelo fotógrafo Victor Moriyama para participar de um projeto fotográfico que abordaria alguns dos direitos das mulheres na esfera sexual e reprodutiva. Quando nos conhecemos e depois de perceber sua sensibilidade, logo pensei que ele seria a pessoa perfeita para desenvolver um projeto que se dedicaria a registrar o cotidiano de mulheres refugiadas e solicitantes de refúgio em São Paulo, através da arte. Começamos a desenhar o projeto em março de 2015 e, agora, um ano depois, fazemos seu lançamento.
Como o projeto chegou às oito mulheres retratadas na mostra? Qual foi a reação delas quando chamadas para participar?Eu já tinha um contato muito próximo com cada uma dessas mulheres, antes mesmo de nascer o projeto. Conheço a história de vida de todas elas, participo de momentos do seu cotidiano e sempre percebi que elas resumem em si a força, a determinação e o significado do que é ser mulher. Queria que elas servissem de inspiração para as outras mulheres, facilitando o doloroso processo de adaptação e integração no Brasil. Fizemos algumas rodas de conversa e todas aceitaram o convite por amizade e por entender a força política das suas falas.
Quais as maiores dificuldades encontradas ao longo do desenvolvimento do projeto?O projeto demorou um ano para ficar pronto porque o tempo da construção das fotos foi difícil. O processo que começou com a apresentação do Victor – fotógrafo, para as meninas, passou pela criação e manutenção de um vínculo de confiança e chegou até a realização desta exposição. Além disso, eu e o Victor trabalhamos em paralelo e fomos nos organizando para fazer todo esse processo nas nossas horas livres e no tempo delas, sem pressa e com muito diálogo.
Tem alguma história que te chamou a atenção de forma especial durante o desenvolvimento do projeto?Todas as histórias são especiais. Escolhemos para o projeto histórias bem diferentes, com narrativas bem particulares, a fim de mostrar que o refúgio não tem uma única aparência. O processo de refúgio precisa ser analisado de forma individualizada, caso a caso. Cada pessoa carrega uma história e enfrenta seus dilemas de forma muito particular. Aqui, estamos lidando com sentimentos, frustrações e medos. As perseguições vividas por mulheres podem ser ainda mais cruéis porque envolvem, em muitos casos, violências sistemáticas, agressões psicológicas e extremamente brutais. Queremos colocar uma luz forte neste tipo de violência porque, muitas vezes, ela é silenciada.
Depois do lançamento e do período na FNAC, a exposição irá para algum outro local?Queremos levar a exposição para o Rio de Janeiro, onde está a maior concentração de mulheres refugiadas no Brasil e, na sequência, para Brasília, onde conseguiremos debater de forma mais próxima com as autoridades federais.
Qual o legado que acredita que a exposição deixa, seja para as mulheres participantes, seja para o público?O legado de ser uma Embaixadora, um exemplo e uma inspiração para as outras mulheres que passam pelas mesmas dificuldades. Gostaríamos de conseguir aumentar a rede de acolhida, fazendo com que elas se conheçam e possam se apoiar mutuamente, dividindo experiências e oportunidades. Essa comunicação é fundamental no processo de integração por criar vínculos duradouros que afastam a solidão e os demais males vividos no processo de refúgio.
Exposição fotográfica Vidas Refugiadas
Data e hora: 07 de março, às 19hs (abertura) e de 08 a 31 de março, das 10h às 22h
Local: café da FNAC Paulista – Av. Paulista, 901 – São Paulo (SP)
Entrada: gratuita
Informações: http://vidasrefugiadas.com.br/, página no Facebook evidasrefugiadas@gmail.com
Data e hora: 07 de março, às 19hs (abertura) e de 08 a 31 de março, das 10h às 22h
Local: café da FNAC Paulista – Av. Paulista, 901 – São Paulo (SP)
Entrada: gratuita
Informações: http://vidasrefugiadas.com.br/, página no Facebook evidasrefugiadas@gmail.com
Fonte: Migra Mundo
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