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quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Grupo de extermínio em Maceió

A indústria da morte em Alagoas vai além do que é apresentado pela mídia hegemônica, local ou nacional, de que o pobre é violento por ser pobre e é pobre por ser violento. Nos últimos anos, o Estado vem sendo apresentado como o mais homicida do país e a sua capital como a quinta cidade em que mais se é registrado assassinatos em uma escala de 100 mil habitantes. Grupos que atuam em defesa da vida chegam a afirmar que há um verdadeiro genocídio contra a população empobrecida. Enquanto tudo isso funciona, uma das ‘empresas’ geradoras do lucrativo mercado da morte seria de propriedade do terceiro secretário da Mesa Diretora da Assembleia Legislativa, o deputado Marcos Barbosa. Isso é o que aponta o sobrinho do parlamentar, Eliseu Oliveira Barbosa, que em mais de doze horas de depoimentos delatou a existência de um grupo de extermínio, inclusive, com controle do tráfico de drogas.
A indústria da morte em Alagoas vai além do que é apresentado pela mídia hegemônica, local ou nacional, de que o pobre é violento por ser pobre e é pobre por ser violento.
Nos últimos anos, o Estado vem sendo apresentado como o mais homicida do país e a sua capital como a quinta cidade em que mais se é registrado assassinatos em uma escala de 100 mil habitantes. Grupos que atuam em defesa da vida chegam a afirmar que há um verdadeiro genocídio contra a população empobrecida. 
Enquanto tudo isso funciona, uma das ‘empresas’ geradoras do lucrativo mercado da morte seria de propriedade do terceiro secretário da Mesa Diretora da Assembleia Legislativa, o deputado Marcos Barbosa. Isso é o que aponta o sobrinho do parlamentar, Eliseu Oliveira Barbosa, que em mais de doze horas de depoimentos delatou a existência de um grupo de extermínio, inclusive, com controle do tráfico de drogas.

Como uma “metralhadora humana”, como considerou a Polícia Civil (PC), Júnior Barbosa, como o delator é conhecido, não poupou detalhes ao Ministério Público Estadual (MPE) e a PC/AL.
Em conversa com a imprensa, chegou a detalhar o funcionamento de uma que pode vir a ser a maior empresa “criminosa” – com a influência de promotores, delegados, militares, juízes e desembargadores.
Os únicos nomes apresentados por Júnior Barbosa foram o do deputado Marcos Barbosa, o do próprio pai e da tia. Ambos teriam sido infiltrados na Câmara Municipal de Maceió com salários exorbitantes, nos anos 2000. Tudo o que foi delatado está sendo investigado pelo MPE, PC, e até pela Secretaria de Defesa Social (SDS), que solicitou autorização junto ao Tribunal de Justiça, por ter entre os investigados um parlamentar.
Júnior Barbosa é suplente de vereador e ex-administrador do Cemitério Municipal São José, onde passou seis anos por indicação do primo, o deputado Marcos Barbosa. Ele confessou três execuções, sob a alegação de que as motivações dos crimes não teriam sido por dinheiro, mas que “queria viver em um bairro limpo”.
Segundo ele, as suas vítimas foram identificadas como Ninho, Neguinho e Lúcifer, e, que as execuções teriam sido realizadas sob a autorização do parlamentar. Além disso, o primo teria recomendado a morte de pessoas, na sua maioria funcionários do tráfico ou que sabiam demais para que “não restasse mais nenhuma pista sobre alguns crimes cometidos”.
Enquanto administrador do Cemitério São José, Júnior Barbosa teria realizado “todo tipo de serviço que se pode fazer legal ou ilegal”, inclusive enterrar – de forma irregular – jovens executados pelo grupo de extermínio, além da retirada de ossos de vítimas de violência.
“Peguei ainda crânios humanos de pessoas que foram executadas para entregar ao deputado para que ele pudesse fazer rituais de magia negra. Quando me devolvia os crânios tinham a boca costurada. Cheguei a abrir, uma vez, e vi os nomes de rivais políticos do deputado. Querem exemplos, nomes como do ex-governador Ronaldo Lessa, dos ex-prefeitos de Maceió, Kátia Born e Cícero Almeida”, relatou.
Questionado sobre a atuação do grupo de extermínio e a sua geolocalização ele respondeu que o foco seria a Zona Sul da capital, que abrange bairros como Trapiche, Ponta Grossa e Vergel, considerados pelas autoridades públicas como os mais homicidas. Júnior Barbosa destacou, em coletiva, que a ideia era “dar fim” em pessoas que causavam transtornos na região.
Continuando com os exemplos, ele citou o caso de um jovem dependente químico que havia sido internado em clínicas de recuperação para dependentes, “mas fugia da clínica e voltava a perturbar os moradores do Trapiche. Ele foi assassinado com o aval do deputado que disse que eu  não deixasse rastros. Pois tudo o que ocorria, tinha o aval do deputado. Ele sabia de tudo. Neste dia informei que iria fazer o que era preciso e ele respondeu: cuidado para não deixar rastro”, relatou.

Para aumentar a lista de denúncias, delatadas à polícia e ao Grupo Estadual de Combate às Organizações Criminosas (Gecoc), pertencente ao Ministério Público Estadual, Júnior Barbosa destacou a ligação do deputado com a família do traficante conhecido como Zé Moreno, que comanda o comércio de ilícitos na região. Outros dez nomes foram apresentados em depoimentos às autoridades, porém, não foi pronunciado na imprensa, pois “quem precisa saber dos nomes, já sabe”. Segundo ele, nessa lista estão os nomes de membros da Justiça, inclusive, desembargadores, promotores e agentes da lei.
Investigações
Pelo menos três investigações estão sendo conduzidas em torno da existência do grupo de extermínio, que segundo o procurador-geral de Justiça, Sérgio Jucá, atua não apenas na Zona Sul de Maceió, “mas tem ramificação em toda capital”. Os primeiros depoimentos – com mais de dez horas – foram colhidos junto ao Gecoc.
Os documentos da investigação e os depoimentos do acusado foram encaminhados à Secretaria de Defesa Social (SDS) que, por sua vez, solicitou autorização do Tribunal de Justiça de Alagoas para investigar o deputado estadual Marcos Barbosa. Isso porque, segundo o secretário de segurança pública, Diógenes Tenório, “por se tratar de um parlamentar solicitamos que o TJ designe uma comissão para uma investigação”.
Tudo deu início após uma denúncia formulada junto a PC/AL sobre o sepultamento de corpos, sem documentação, considerados irregulares, em cemitérios na capital. Segundo o delegado Denilson Albuquerque, que está à frente das investigações, foram três meses de trabalhos até chegar a duas ossadas humanas enterradas clandestinamente no Cemitério São José, o maior da capital. Os mandados de busca e apreensão foram expedidos pela 17ª Vara Criminal da Capital. A execução foi realizada pela PC e pela Perícia Oficial. O delegado ainda considera a existência de corpos enterrados ilegalmente em outros cemitérios na capital.
Após a descoberta dos corpos e o caso ter ganhado a mídia local, Junior Barbosa se apresentou ao Gecoc, onde prestou dez horas de depoimento e delatou a existência de um grupo de extermínio. Na ocasião, ele foi conduzido para o Presídio de Segurança Máxima, onde permanece detido à disposição da Justiça.
Quinze dias após o caso ganhar repercussão e as páginas dos jornais no Estado, o delegado-geral da PC, Carlos Reis, designou dois delegados para abrir um procedimento investigatório em cima do depoimento do acusado prestado ao MPE. Na ocasião foram nomeados, por meio de portaria publicada em Diário Oficial, os delegados Francisco de Assis Amorim Terceiro e Fabrício Lima do Nascimento.
Após o depoimento, o delegado-geral, Carlos Alberto Reis, e o delegado responsável pelo caso, Denisson Albuquerque, afirmaram que a polícia já vinha investigando as mortes das três vítimas apresentadas por Júnior Barbosa, identificadas como Ninho, Neguinho e Lúcifer, inclusive, com depoimento colhido no mês de abril, deste ano, do próprio acusado. Durante a coletiva, Júnior Barbosa, destacou que não confessou a existência do grupo de extermínio por medo de ser morto, como os que deletou.
Cabeça colocada a prêmio
Para driblar um suposto atentado contra a sua vida, Júnior Barbosa alega que teve que se machucar, provocando um corte na cabeça, para poder acionar pessoas de fora do Presídio de Segurança Máxima.
Os policiais militares, que fazem a guarda dos detentos, por determinação do Conselho Estadual de Segurança Pública (Conseg), segundo ele, não deram ouvidos ao seu relato. Isso porque, ele teria ouvido uma conversa entre os presos em que apresentava uma bonificação de R$ 15 mil para que fosse assassinado de forma violenta“A recomendação é que a minha morte não seja de tiro, facada, mas que seja de forma violenta, com pauladas, não sou louco se não fizesse isso morria”, destacou.
Barbosa destacou que a informação de que sua cabeça estaria a prêmio durante uma suposta ligação do traficante Zé Moreno e um contato do deputado, via aparelho de telefonia nova, em uma cela ao lado da sua. Durante a ligação, segundo ele, a encomenda de sua morte deveria obedecer algumas recomendações: “a minha morte teria que ser durante o banho de sol e de forma violenta”.
Ele destacou que chegou a ouvir o traficante questionando a veracidade do prêmio pela cabeça. Esse teria sido o motivo para provocar o acidente e conseguir sair do presídio e acionar a esposa e o advogado. Após o episódio, o acusado foi transferido para uma cela separada com proteção.
Deputado quebra silêncio
Em uma carta enviada aos veículos de comunicação, o deputado Marcos Barbosa se manifestou e classificou as acusações do seu sobrinho como “infamantes e fantasiosas”. O parlamentar atribuiu as denúncias ao fato de não ter apoiado a campanha eleitoral de Júnior Barbosa, que na ocasião disputava o cargo de vereador por Maceió.
Na nota ele desqualifica o sobrinho e se manifesta como injustiçado, uma vez que o teria abrigado em sua casa e que o nomeou em cargo comissionado na Câmara de Maceió. O deputado vinha se mantendo em silêncio, inclusive, faltou a uma entrevista coletiva marcada na sede do Sindicato dos Radialistas de Alagoas.
O deputado chegou a conceder entrevista em uma rádio e lançar uma nota aos veículos, quase que ao mesmo tempo. Ele negou quase todas as acusações feita pelo seu sobrinho Júnior Barbosa, afirmando ser avesso à violência e que teria sido absolvido da acusação de homicídio de Baré Bola. Ele não se manifestou e não disse nada em relação à acusação de crânios de vítimas de violência em rituais.
“Seria mais cômodo, de minha parte, propor que a justiça submetesse o sr. Júnior Barbosa a um exame de sanidade mental, ao menos para entender a razão de seu sentimento de vingança contra minha pessoa e contra tantos, mas prefiro achar que ele precisa, muito mais, de tratamento. Confio na isenção da polícia e na imparcialidade do Ministério Público e do Poder Judiciário. Estou certo de que, logo, os fatos serão elucidados e a verdade virá à tona. Confio em Deus e no povo de minha terra” (sic), trecho da nota encaminhada à imprensa.
Fonte: Brasil de Fato

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