
O
Ministério do Trabalho registra: em média, por ano, no Brasil, três mil pessoas
são vítimas de trabalho escravo. Esta semana, a bancada ruralista conseguiu
adiar mais uma vez a votação da PEC do Trabalho Escravo, alegando que não
existe conceituação de trabalho escravo. A secretária de Inspeção do Trabalho,
do Ministério do Trabalho, Vera Lúcia Albuquerque diz que algumas modalidades
de trabalho atuais podem ser consideradas até mais perversas que as da época da
escravatura.
O trabalho
da fiscalização do Ministério do Trabalho foi apontado como sério e objetivo.
“Hoje em
dia, infelizmente, em razão da alta demanda de mão de obra, muitos empregadores
consideram o trabalhador como descartável. Se, portanto, ele não estiver bom,
descarta e o substitui. A quantidade de acidentes de trabalho e a não
preocupação em relação ao uso dos EPI´s (Equipamento de Proteção Individual) é
muito grande e agrava o caso”, analisa Vera Lúcia.
As
informações foram fornecidas à CPI do Trabalho Escravo, quando estiveram
presentes a Secretária de Inspeção do Trabalho e coordenadora nacional do Grupo
Especial de Fiscalização Móvel, Vera Lúcia Albuquerque, e o chefe da Divisão de
Fiscalização para Erradicação do Trabalho Escravo, Alexandre Lyra.
O
depoimento deles desmentem os deputados ruralistas de que não existe
conceituação para trabalho escravo. Eles contaram que em 2011, somente o Grupo
Móvel realizou 158 ações em 320 estabelecimentos, onde foram resgatados 2.271
trabalhadores, que trabalham e vivam em condições sub-humanas, sem alojamento,
comida, água ou condições de asseio dignas, além de jornadas exaustivas de até
18 horas diárias de trabalho, além do endividamento com os empregadores.
Em defesa
da fiscalização
O MTE
conta hoje com cinco Grupos Móveis de Fiscalização, que realizam diariamente
operações especiais, além do trabalho rotineiro feito nas 27 Superintendências
Regionais espalhadas por todo Brasil.
Sobre as
operações, Alexandre Lyra destacou que “a atuação não é subjetiva, nossos
auditores seguem um planejamento e um treinamento específico. São altamente
qualificados e especialistas das Leis que regem as relações de trabalho,
portanto, sempre buscam por uma convivência pacífica com os empregadores e ao
final de cada ação, eles são entrevistados, assim como os trabalhadores. Tudo é
feito com seriedade e respeito”, destacou o chefe da Divisão de Combate e
Erradicação do Trabalho Escravo.
A
secretária reforçou o apelo pela aprovação da Proposta de Emenda à Constituição
(PEC), lembrando que a Organização dos Estados Americanos (OEA) e a Organização
Internacional do Trabalho (OIT) têm pressionado o Brasil a adotar normas claras
de punição para os empregadores que se aproveitam desse tipo de mão de obra.
A maior
incidência de casos de trabalho escravo ocorre no Pará, mas o Espírito Santo,
mesmo territorialmente menor que muitos estados, é alvo constante de operações
para libertação de pessoas em situação de trabalho degradante. De 2008 a 2010,
foram libertar 300 vítimas no estado, a maioria proveniente de pequenas cidades
do interior da Bahia e de Minas Gerais. A maior parte dos casos é registrado na
produção de café, cana-de-açúcar, fruticultura, cultivo do cacau e
investimentos de infraestrutura.
Compromisso
reforçado
O ministro
do Trabalho, Brizola Neto, que assumiu recentemente o cargo, fez parte da
manifestação a favor da aprovação da PEC do Trabalho Escravo, que aconteceu
esta semana na Câmara. Na ocasião, ele elogiou o trabalho que os auditores
fiscais do Ministério têm realizado pra coibir esse tipo de prática de trabalho
ilegal, e reiterou o compromisso da pasta em apoiar as ações de fiscalização.
“O MTE vai
dar todo o apoio aos bravos auditores fiscais que, com muita dificuldade, estão
pelo país para combater esse tipo de prática”.
A ministra
da Secretaria de Direito Humanos da Presidência da República, Maria do Rosário,
defendeu “uma parceria (entre os diversos segmentos empenhados na aprovação da
matéria) para buscar cada deputado e deputada, não no sentimento de que há uma
dívida, porque sabemos que existe, mas para convencê-los”, disse Maria do
Rosário.
Para a
ministra da Secretaria de Igualdade Racial, Luiza Bairros, não há nada que
justifique na sociedade o trabalho análogo ao de escravo. “Estamos reunidos em
torno da aprovação da PEC do trabalho escravo. É importante pensarmos no
sentido de que estamos vivendo numa sociedade em que a escravidão já foi
abolida há 124 anos. A escravidão foi um crime contra a humanidade e a
legislação brasileira não pode abrigar essa aberração”, disse.
Decisão
adiada
A Câmara
dos Deputados decidiu na quarta-feira (9) adiar pela segunda vez consecutiva a
votação da chamada PEC do Trabalho Escravo, que propõe o endurecimento das
penas contra o trabalho escravo com a desapropriação para fins de reforma
agrária ou uso social urbano de propriedades e imóveis onde for encontrada
exploração de trabalho escravo.
Para ser
aprovado, o projeto precisa dos votos positivos de 308 dos 513 deputados, mas a
bancada ruralista ameaçou votar contra a proposta. A decisão foi adiada para o
próximo dia 22. Os ruralistas querem votar junto com a PEC um projeto de lei
redefinindo o que é trabalho escravo.
Vídeo sobre a matéria:
Fonte texto: Blog do Gilson Reis
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