Quando o privilégio econômico fura a fila
Embora muitos países tenham tido dificuldades para obter vacinas enquanto os fabricantes se esforçam para atender à demanda global, o Brasil ostentava um bom posicionamento mundial até então. O país tem uma longa história de campanhas de vacinação bem-sucedidas ao longo de mais de 50 anos de experiência, somadas a capilaridade do sistema SUS e institutos financiados pelo Estado podem produzir vacinas em grande escala.
O governo federal desperdiçou essas vantagens, apostou na hidroxicloroquina, na cloroquina e em outras substâncias sem eficácia científica comprovada. A campanha de vacinação é mais uma das falhas do Ministério da Saúde, que o presidente Jair Bolsonaro aparelhou com militares da ativa e da reserva sem qualificação técnica alguma em saúde pública.
Os atrasos deixam 210 milhões de habitantes do país vulneráveis a um dos piores surtos de coronavírus do mundo. O Brasil registrou mais de 218.000 mortes por Covid-19, atrás apenas dos Estados Unidos, e vacinou menos de 0,5% de sua população.
A população aguarda sua vez na fila e uma programa de vacinação eficaz do Ministério da Saúde e que o Governo Federal assuma a sua responsabilidade. Por outro lado, como já aconteceu com os testes para a covid-19, o corporativismo e o lucro tomam a frente aonde o Estado falha nas politicas públicas para o bem-estar. Empresários tentam furar a fila para que seus empregados continuem produzindo e os juízes federais resolvem ter um privilégio usando associação corporativa.
O corporativismo que privilegia
A colunista Rosane de Oliveira, da RBS, que teve acesso ao ofício encaminhado pela Associação dos Juízes Federais do Rio Grande do Sul (Ajufergs) para seus associados nesta terça-feira (26). No documento, a entidade de classe, garantia a compra de vacinas contra covid-19 para todos os seus associados e até oito familiares de cada um.
Os juízes terão a vacina custeada pela associação, e os familiares pagarão R$ 800 pelas duas doses.
O ofício número 001/2021, datado de 26 de janeiro de 2021, diz: “A Ajufergs vai adquirir as doses necessárias para a vacinação de todos os associados contra a covid-19, em conformidade com o processo de compra da vacina Covaxin, já iniciado pela Associação Brasileira das Clínicas de Vacinas (ABCVAC)”. A Covaxin é produzida pelo laboratório indiano Bharat Biotech, com larga experiência na produção de vacinas, e já teve seu processo de autorização iniciado junto à Anvisa, “estando inclusive autorizado seu uso emergencial pela autoridade sanitária da Índia”.
Segue o documento: “Ainda, conforme informação da clínica credenciada (Multivacinas), a vacinação ocorrerá por meio de duas doses com intervalo de 28 dias e será realizada em todo o Estado do Rio Grande do Sul”.
Em reunião extraordinária realizada na segunda-feira (25), o conselho executivo decidiu pela participação da Ajufergs no processo de compra corporativo, conforme proposta oferecida, assim como também pelo custeio da vacinação para todos os associados que manifestarem interesse.
“Tendo em vista a provável demora na vacinação por meio do SUS, bem como o fato de que a maioria dos associados não se enquadra nos grupos prioritários, entendeu-se justificada a compra das vacinas neste momento, visando à mais rápida imunização dos associados, ainda que não exista certeza acerca da aprovação junto à Anvisa e da data da efetiva disponibilização da vacina Covaxin”, explica a direção da associação.
A entidade destaca que, neste momento de alta demanda, a ABCVAC está promovendo apenas a venda para o público corporativo e somente as doses remanescentes serão futuramente disponibilizadas ao público individual, possivelmente a um valor mais elevado.
Os associados deverão preencher um formulário (anexo ao ofício) com a indicação do interesse em receber a vacina pessoalmente (custeada pela Ajufergs) ou comprar para até oito pessoas e entregar até o meio-dia de sexta-feira. Os interessados na compra terão de transferir o dinheiro para a conta da Ajufergs e encaminhar o comprovante de transferência bancária para o e-mail ou para o WhatsApp da instituição.
Programas Nacionais de Imunização (PNI)
Um reconhecimentos da potencialidade, inclusive pela OMS ( Organização Mundial de Saúde) dos Programas Nacionais de Imunização (PNI) brasileiro, é que um país de extensão continental;” a vacina foi assumida como um direito de todos, seguindo os critérios do SUS (Sistema Único de Saúde) e sendo realizada de forma gratuita,” . E no caso da covid-19 , ela deveria continuar seguindo: priorizando grupos de risco. E não o privilégio econômico para furar a fila.
Fonte: Jornalistas Livres
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