A lógica da crise mundial é sistêmica e circular:
- A desregulação econômica produziu uma miríade de novas ferramentas de alavancagem que levaram à maior crise econômica após 1929.
- Para impedir a quebra bancárias, países injetaram um caminhão de recursos nos seus respectivos sistemas, estatizando a dívida privada.
- O FMI acorreu em auxílio das economias mais endividadas aplicando a fórmula tradicional de exigir fortíssimos ajustes fiscais, responsáveis pela destruição das estruturas sociais e do dinamismo econômico em várias delas.
- O equilíbrio global se consegue quando as economias deficitárias conseguem se equilibrar à custa das economias superavitárias. Mas o que se observou na outra ponta foram as grandes economias – Alemanha à frente – jogando em uma retranca fortíssima, mantendo seus superávits comerciais.
- Por seu turno, a economia chinesa vem passando por transformações estruturais visando mudar o centro dinâmico do mercado externo para o interno. No meio da trajetória foi apanhada pela redução do nível de atividade europeu.
- A redução da atividade na China impactou de frente os países produtores de commodities, especialmente minério de ferro e petróleo.
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Tem-se, agora, o segundo tempo da crise de 2008, em muitos pontos similar à de 1930, quando as atitudes defensivas dos países impediram o ajuste global.
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É nesse quadro que a infraestrutura pública volta a ser vista como saída global e, provavelmente, será o tema preferencial na reunião anual de Davos.
Em recente artigo, o economista Dani Rodrik – professor da Kennedy School of Government da Universidade de Harvard – lembra que nos últimos anos os investimentos em infraestrutura andaram fora de moda entre os especialistas em desenvolvimento. Eram tratados pejorativamente como “fundamentalismo do capital”.
Em lugar da ênfase no setor público, o capital físico e a infraestrutura, cresceu a alternativa de priorizar os mercados privados de capital humano, com formação de competências, e reformas na governança das instituições.
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Pode ter chegado o momento de se rever esses conceitos, aconselha ele. Em grande parte dos países em crescimento, há uma participação relevante do investimento público.
Na África, a Etiópia tornou-se a mais surpreendente história de sucesso da última década, diz ele. Desde 2004 sua economia tem crescido a taxas superiores a 10% ao ano. É um país pobre em recursos, que não se beneficiou do boom das commodities nem recorreu à liberalização econômica e às reformas estruturais recomendadas pelo Banco Mundial e outros doadores de recursos.
O que ocorreu foi um aumento maciço no investimento público, de 5% do PIB no início da década de 1990 para 19% em 2011, a terceira maior taxa do mundo.
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Na Índia, o investimento público continua garantindo o crescimento, compensando a perda de dinamismo dos investimentos privados e das exportações.
Na América Latina, a economia em melhor estado, a boliviana, deverá crescer acima de 4% em 2015. E a base é o investimento público total, que mais que dobrou em relação à renda nacional, partindo de 6% para 13% do PIB de 2005 a 2014.
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Para Rodrik, é hora dos países, tanto desenvolvidos como emergentes, voltarem a prestar atenção ao tema.
Fonte:Luis Nassif Online
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