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segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

O rapaz da Folha descobriu o mal dos juros altos

Não me recordo de que o rapaz tenha escrito “Papai FH”, ou “Vovô Sarney”, ou “Tio Itamar” ou ainda o “Primo Collor” terem feito isto, em escala muitíssimo maior.

Nem que o Brasil tivesse pago juros altos por uma “voraz expansão estatal” quando o Estado brasileiro estava sendo desmantelado, com privatizações a rodo, vendendo a Vale, as elétricas, a telefonia, os bancos públicos e parte importante das ações da Petrobras?

Mas, engraçado, quando isso ocorreu, a dívida pública do Brasil- aquela que Mota chama que “constituem obrigações intertemporais do mais amplo conjunto da população, que paga os impostos, com uma parcela menor e mais rica de poupadores”- cresceu de forma explosiva. Dobrou no período FHC, em relação ao PIB.

Culpe-se Dilma por não ter rompido esta situação, em que o capital exige do Estado que o remunere assim, à custa do povo, mas não porque ela não  tenha tentado e estejam aí boa parte das raízes do “fracasso econômico” que se lhe atribui.

Pois basta que Mota consulte o site de empresa em que trabalha, em 2012,  e na qual dá seus palpites econômicos:
O secretário de Redação da Folha, Vinicius Mota, publica hoje artigo – “Uma mãe para os ricos” – com o qual se candidata a Premio Nobel de Economia, publicando coisas até agora desconhecidas, como o fato de  que “o Tesouro Nacional está tomando dinheiro na praça com a promessa firme de pagar juros fabulosos, e por períodos longos, aos emprestadores”.
Uau! Vocês sabiam desta novidade?
Não?  Fiquem sabendo, porque o rapaz descobriu uma mina de ouro:
“Que tal quase duas décadas com remuneração de 6% ao ano acima da inflação, já abatidos impostos e taxas? O patrimônio real vai triplicar. Quem emprestar R$ 1 milhão ao governo terá de volta, ao final do período, seu dinheiro corrigido pelo IPCA e mais R$ 100 mil por ano, em média.”
“Bora” aí, gente. Sei que ninguém tem R$ 1 milhão guardado, mas a gente pode fazer um “bolão”, quem sabe aí de vinte cotas de R$ 50 mil, porque a gente vai receber, cada um, R$ 5 mil de renda, além da inflação.
As análises simplórias da economia só se explicam pelos objetivos políticos que elas contém.
Com todo o respeito, não vejo razão para os argumentos de Mota não serem reproduzidos num jornal do PSTU.
“O Tesouro de Mamãe Rousseff fecha esse negócio da China, ou do Brasil, todos os dias. Não o faz por boniteza, mas por necessidade, derivada da voraz expansão estatal nos últimos seis anos.
Mamãe, entretanto, é apenas intermediária passageira nessa relação perpétua entre devedores e credores. Os empréstimos constituem obrigações intertemporais do mais amplo conjunto da população, que paga os impostos, com uma parcela menor e mais rica de poupadores.”
Não me recordo de que o rapaz tenha escrito “Papai FH”, ou “Vovô Sarney”, ou “Tio Itamar” ou ainda o “Primo Collor” terem feito isto, em escala muitíssimo maior.
Nem que o Brasil tivesse pago juros altos por uma “voraz expansão estatal” quando o Estado brasileiro estava sendo desmantelado, com privatizações a rodo, vendendo a Vale, as elétricas, a telefonia, os bancos públicos e parte importante das ações da Petrobras?
Mas, engraçado, quando isso ocorreu, a dívida pública do Brasil- aquela que Mota chama que “constituem obrigações intertemporais do mais amplo conjunto da população, que paga os impostos, com uma parcela menor e mais rica de poupadores”- cresceu de forma explosiva. Dobrou no período FHC, em relação ao PIB.
Culpe-se Dilma por não ter rompido esta situação, em que o capital exige do Estado que o remunere assim, à custa do povo, mas não porque ela não  tenha tentado e estejam aí boa parte das raízes do “fracasso econômico” que se lhe atribui.
Pois basta que Mota consulte o site de empresa em que trabalha, em 2012,  e na qual dá seus palpites econômicos:
Depois de ser, durante anos, o campeão dos juros reais entre as principais economias do mundo, o Brasil caiu agora para a quinta posição nesse ranking, com taxa de 1,8%. Os dados foram levantados pelo analista econômico da Cruzeiro do Sul Corretora / Apregoa.com, Jason Vieira.
O Banco Central anunciou nesta quarta-feira (29) que a Selic (taxa báxica de juros nominais) foi reduzida 0,5 ponto percentual, de 8% para 7,5%. A diferença entre 7,5% e 1,8% ocorre porque os juros reais descontam a inflação projetada para os próximos 12 meses.
O colunista da Folha, que sei ser atento leitor de Keynes, deveria entender que é a política de crise,  na qual ele colabora na Folha, que dá amparo a esta chantagem do capital sobre o Estado, que venceu a queda de braço ensaiada por Dilma em seu primeiro mandato, forçando o rebaixamento dos juros.
Ele tem toda a razão em apontar que os juros são as tetas por onde o capital suga, como um vampiro, as receitas públicas e, com isso, torna ralo o sangue com que elas podem sustentar os serviços para a população e os investimentos públicos necessários ao desenvolvimento.
Mas quando culpa as tetas e não os dentes pelo vampirismo, perde toda a razão que pudesse ter e joga ao lado do rentismo, que não lhe merece uma condenação.
Porque, assim, vai se reunir ao coro dos que acham que o Estado gasta demais em subsídios aos pobres e à atividade econômica e “esquece”  das pressões que lhe fazem pagar quase metade do Orçamento em juros.
Mais ou menos igual à nossa oposição, que sacode os patos da Fiesp, mas que, no poder, tornou os juros um cisne resplandescente.
Ou será que o colunista acha que, caindo a “Mamãe Dilma”, quem  vai ao governo é o PSTU?

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