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quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

Francisco Dornelles é primo de Aécio Neves. Ele propôs uma mamata federal. Isso deveria ser relevante para o jornalismo “amigo de Lula”

Não existe crime por associação. Existem crimes de imprensa por associação.

Como em “Médico que atendeu Lula é suspeito de assassinato“, da Veja.

O pecuarista José Carlos Bumlai confessou a doação de R$ 12 milhões ao PT, mas isentou o ex-presidente. Você pode acreditar ou não. Não nos consta que ele seja filantropo. Portanto, é mesmo de desconfiar.
Não existe crime por associação. Existem crimes de imprensa por associação.
Como em “Médico que atendeu Lula é suspeito de assassinato“, da Veja.
O pecuarista José Carlos Bumlai confessou a doação de R$ 12 milhões ao PT, mas isentou o ex-presidente. Você pode acreditar ou não. Não nos consta que ele seja filantropo. Portanto, é mesmo de desconfiar.
É justo contextualizar a história de Bumlai e suas relações com Lula, mas sem deixar de fora o fato de que o pecuarista também foi sócio de Galvão Bueno e de João Carlos Saad, dono da TV Bandeirantes e amigo de muita gente.
Por isso, “o amigo do Lula” insistente, incluído em todas as manchetes e citações feitas pelos jornais ao pecuarista, deu nos nervos do próprio Bumlai: “Até meu nome mudaram. Sou José Carlos Bumlai, não amigo do Lula“, declarou ao depor em uma CPI.
Bem, se são estes os critérios jornalísticos adotados pelo GAFE (Globo, Abril, Folha, Estadão), por que não Francisco Dornelles, primo de Aécio Neves?
Neste caso, afinal, temos uma relação de parentesco que inclui uma nomeação política! O gráfico acima, dos Amigos do Presidente Lula, é esclarecedor.
Dornelles já foi três vezes ministro: da Fazenda sob José Sarney, quando Aécio foi nomeado diretor da Caixa Econômica Federal aos 25 anos de idade; do Trabalho e Desenvolvimento, sob Fernando Henrique Cardoso.
Hoje é vice-governador do Rio, tendo feito em 2014 campanha pelo primo na chapa Aezão, que pedia votos para Aécio e Pezão, eleito governador.
Em sua carreira política, Dornelles passou pelo PFL, PDS, PPR e PPB. Presidiu o PP, o partido que indicou Paulo Roberto Costa diretor da Petrobras.
Na agenda de Paulo Roberto, apreendida pela PF, aparece um encontro dele com Francisco Dornelles, então presidente do PP, em 25 de maio de 2012, pouco depois de deixar a diretoria da Petrobras. Questionado, Dornelles respondeu que “sempre o considerou um técnico da maior competência”.
Técnico? Sim, ele é engenheiro, mas a PGR acusa o ex-diretor de Abastecimento da Petrobrás de ter repassado R$ 62,1 milhões a parlamentares do PP. Se for comprovado, Costa era o caixa das campanhas enquanto o primo de Aécio tocava o partido, do qual ainda é presidente de honra.
Mas, não fica nisso.
Na madrugada do último dia 17 o Viomundo foi um dos primeiros a noticiar, a partir da leitura da íntegra do documento em que a PGR pede o afastamento de Eduardo Cunha do mandato e da presidência da Câmara, que Francisco Dornelles foi citado como um dos parlamentares que apresentaram emendas em nome de Cunha.
Funcionou assim, segundo a PGR: a OAS escrevia as emendas e Cunha as destinava, através de aliados, para apresentação no Congresso.
Dornelles, por exemplo, apresentou 15 emendas à MP 584, de 2012, que se converteu na Lei 12.780, de 09/01/2013.
(Investigue, clicando aqui, as 64 emendas apresentadas)
A MP tratava de benefícios fiscais relativos às Olimpíadas do Rio 2016: isenção de IPI, imposto de importação, PIS-Pasep importação, COFINS importação e outros.
A Lei contempla a Globo, já que permite a importação de equipamentos de TV pelas emissoras credenciadas.
Os irmãos Marinho têm, portanto, todos os motivos para fazer com as Olimpíadas do Rio o mesmo que fizeram durante décadas com Ricardo Teixeira, homenageado com uma reportagem inacreditável no Jornal Nacional, quando se despediu da CBF: não investigar absolutamente nada.
O que Dornelles, o primo de Aécio, pretendia fazer?
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Por exemplo, através de uma das emendas, estender às obras de infraestrutura urbana vinculadas aos Jogos os benefícios do REIDI — Regime Especial de Incentivos para o Desenvolvimento de Infra-Estrutura.
E o que prevê o tal do REIDI?
Ou seja, as empreiteiras envolvidas nas obras do Rio poderiam importar “máquinas, aparelhos, instrumentos e equipamentos, novos, e materiais de construção para utilização ou incorporação em obras de infra-estrutura” deixando de recolher quase 10% do valor em impostos.
Não, não estamos falando do Parque Olímpico, mas de qualquer obra remotamente associada aos Jogos.
[Para saber sobre a mamata do Parque Olímpico, veja a reportagem no pé da página]
É o “trem da alegria” de 2016. Tremenda mamata!
O interesse específico da OAS era no Porto Maravilha, que não tem relação direta com os Jogos mas foi incorporado ao “pacote olímpico” do PMDB carioca.
Em novembro de 2010, o prefeito Eduardo Paes havia assinado o maior contrato de Parceria Público Privada do Brasil, no valor de R$ 7,6 bilhões, com a OAS e a Odebrecht.
Pelo contrato da PPP, as duas empreiteiras se tornaram “donas” da região portuária do Rio durante 15 anos. Uma oportunidade ímpar para a especulação imobiliária.
Descrição das obras do Projeto:
– Essa PPP inclui todo o processo de recuperação da infraestutura da região portuária. E isso inclui a demolição do Elevado da Perimetral, que representa um muro entre a cidade e o mar, causando sombra, barulho, poluição. A idéia, além da demolição do elevado, é trazer para a cidade veículos mais amigáveis ao meio ambiente, como é o caso dos VLTs (Veículo Leve sobre Trilhos). Além disso, o contrato prevê a construção das avenidas que vão substituir o elevado, a implantação de redes de esgoto e de iluminação. Ou seja, as pessoas que moram na região e seus visitantes terão uma qualidade de vida infinitamente superior à atual – explicou o secretário [de Desenvolvimento, Felipe Góis].
[…] Na segunda fase das intervenções do Porto Maravilha, serão 70km de vias construídas e reurbanizadas, além da implantação de redes de infraestrutura urbana com serviços de pavimentação, drenagem, sinalização, iluminação, arborização, recuperação do sistema de água e esgoto. Também serão construídos 17km de ciclovias. Além disso, entre os serviços que ficarão sob responsabilidade do consórcio, estão a conservação e manutenção de vias públicas e monumentos históricos, iluminação pública, limpeza urbana e coleta de lixo domiciliar.
Agora, por favor, respondam: o que a rede de esgotos do Porto Maravilha tem a ver com as Olimpíadas de 2016?
Mas, pela emenda de Francisco Dornelles, o primo de Aécio, a OAS poderia importar tijolos da Argentina, lixeiras da China ou lâmpadas do Chile com um belo desconto. Os exemplos que escolhemos, obviamente, são tão bizarros quanto a emenda.
A proposta de Dornelles foi aprovada no Congresso mas, posteriormente, vetada pela presidente Dilma Rousseff.
O cúmulo da hipocrisia é que, enquanto de um lado pretendia desonerar a OAS e a Odebrechet, reduzindo a arrecadação de impostos, Francisco Dornelles pregava austeridade fiscal ao governo.
A hipocrisia não é uma exceção no PP, um partido que, como o PMDB, é ao mesmo tempo da base de Dilma e não é.
O partido indicou seis deputados pró-impeachment à comissão “produzida” por Eduardo Cunha na Câmara e enterrada pelo STF: Jair Bolsonaro (RJ), Jerônimo Goergen (RS), Luis Carlos Heinze (RS) e Odelmo Leão (MG) e mais os suplentes Renzo Braz (MG) e Roberto Balestra (GO).
Dois deles, Jerônimo Goergen e Luis Carlos Heinze, estão na lista de investigados da Operação Lava Jato.
O PP de Dornelles, aliás, é recordista: tem três senadores, 18 deputados e 11 ex-parlamentares sob investigação da PGR.
Agora tem um ex-senador e vice-governador, com a inclusão de Dornelles, o primo de Aécio.
O que apenas reforça nossa tese: a frente que pretende derrubar Dilma — que não é acusada de corrupção — é formada por “moralistas” sem moral, oportunistas sem votos, um vice ressentido que advoga em causa própria e empresários que se dividem em duas turmas.
Uma, a dos corruptores que querem enterrar a Operação Lava Jato por motivos óbvios; outra, a dos financiadores de patos de plástico amarelos que não querem pagar impostos (muitas vezes, as turmas se confundem).
Muitos deles mamaram nos R$ 100 bilhões em desoneração concedidos pelo governo federal e agora, num cenário pós-Dilma, pretendem atropelar a Constituição de 88 para continuar a transferência de renda da base para o topo da pirâmide, via retirada de direitos sociais.
Aécio, obviamente, ocupa posição de destaque nesta turma. Sem dar um pio sobre o primo do PP. Com a garantia de que jamais será associado a Dornelles nas manchetes. Nem a Azeredo. Nem à lista de Furnas. Nem àquele dinheiro que, segundo o delator Alberto Yousseff, ele recebeu da prestadora de serviços Bauruense.
O presidente do PSDB jamais vai dizer que o sistema político apodreceu graças ao dinheiro grosso que, além de financiar campanhas, caixa dois e enriquecimento ilícito, escreve emendas parlamentares para esta caricatura do Congresso que é Eduardo Cunha, caricatura que usou o primo de Aécio como marionete parlamentar — sempre segundo a PGR.
Aécio precisa deles — dos homens do dinheiro, de Cunha e do jornalismo “amigo de Lula” — para derrubar Dilma. O resto são as lixeiras chinesas do Porto Maravilha.
Fonte:Viomundo

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