A guerrilha colombiana e o governo do presidente Juan Manuel Santos negociam um acordo desde novembro de 2012
O líder das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), Rodrigo Londoño, conhecido como Timochenko, descartou que a guerrilha colombiana assine um acordo de paz com o governo neste ano, como deseja o presidente Juan Manuel Santos.
Em entrevista publicada no site do grupo armado, Timochenko indicou que o processo atrasará pela complexidade dos elementos que rodeiam o debatesobre o quarto ponto da agenda de paz, que começa amanhã em Havana e que abordará o reconhecimento e reparação às vítimas do conflito.
O líder guerrilheiro comentou que embora "todos quiséssemos que as coisas se dessem o mais breve possível", é preciso abordar os temas da agenda com "objetividade", e lembrou que após o tema das vítimas ainda resta um último ponto das negociações, referente ao fim das hostilidades Em entrevista publicada no site do grupo armado, Timochenko indicou que o processo atrasará pela complexidade dos elementos que rodeiam o debate
"Deve ter-se em conta também que os temas do abandono de armas e da cessação bilateral do fogo não vão ser simples", advertiu Timochenko.
As FARC e o governo de Santos, que buscam uma paz negociada em Havana, capital de Cuba, desde novembro de 2012, iniciarão amanhã o debate sobre as mais de 6,5 milhões de vítimas da violência na Colômbia, que puseram como condição inegociável para alcançar a paz o perdão e a verdade.
"Haverá que explicar-lhes o que aconteceu, por qual razão foram tratadas desse modo, e então deverão ser divulgados os responsáveis disso. As vítimas deverão ter a satisfação que se lhes explique o sucedido, sejam quais sejam as causas, e isso há de ficar claro não somente para elas, mas para todos os colombianos", declarou o líder guerrilheiro.
Sobre a reparação às vítimas e a garantia de não repetição, Timochenko disse confiar que o processo "seja capaz de produzir as mudanças institucionais necessárias" para que essas reivindicações se transformem na realidade e ressaltou que essa é uma tarefa que exigirá muito trabalho por parte das autoridades. "Muitas coisas terão que transformar-se na Colômbia para que possamos considerar a página fechada", opinou.
Além disso, ele criticou que o Executivo de Santos continue realizando ações militares contra a guerrilha sob o argumento que "nada está estipulado até que tudo esteja estipulado". "Insistimos na necessidade de estabelecer um cessar-fogo bilateral, coisa que o governo Santos rejeita plenamente", lamentou o guerrilheiro.
O líder das FARC, que assegurou que a intenção da guerrilha é não levantar-se da mesa em Havana "até conseguir um acordo definitivo", disse que, uma vez finalizado o processo de paz, se integraria à vida civil através da política.
"[Continuarei] trabalhando pela construção do sonho que nos conduziu às armas. Uma Colômbia em paz, democrática, soberana, em desenvolvimento mas com justiça social. Isso significa necessariamente fazer política, na legalidade", ressaltou Timochenko.
Guerrilheiros fora da vida política
Na semana passada, a Corte Constitucional da Colômbia determinou que os guerrilheiros das FARC que tenham sido condenados por crimes contra a humanidade ou genocídio não poderão participar da política do país.
O alto tribunal resolveu por seis votos a favor e três contra dar sinal verde a essa medida de "justiça transicional", que estabelece a restrição política para condenados por esses crimes e permite que possam ser elegíveis por voto popular os guerrilheiros com "delitos menores".
A decisão representa que o Congresso poderá expedir uma lei estatutária que regulará "quais serão os delitos considerados conexos ao delito político para efeitos da possibilidade de participar de política", em prol de determinar quem pode apresentar-se a eleições.
O processo que levou essa norma à Corte Constitucional pretendia eliminar a medida por entender que a limitação à participação em política devia estender-se aos que cometeram ações terroristas, de narcotráfico e crimes de guerra.
Com a decisão judicial, se avança na implementação de um marco legal definitivo para fazer frente à "justiça transicional" que se espera desenvolver em breve em um cenário de pós-conflito na Colômbia. A participação política já foi debatida pelas partes, que alcançaram um pré-acordo sobre este assunto, que foi o segundo tratado nas negociações de Havana.
Fonte: Opera Mundi
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