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segunda-feira, 23 de maio de 2016

Em SP, a polícia lava a jato. Em Brasília, um pacto para lavar só vermelho

Durou pouco o acampamento organizado pela Frente Povo Sem Medo em uma praça próxima à residência do presidente interino Michel Temer, em São Paulo. Mais de 200 pessoas foram expulsas pela polícia militar com jatos de água, gás lacrimogênio e bombas de estilhaços (pergunte para alguém ferido por um estilhaço se ele é de “efeito moral'', como defende o governo paulista e seu discurso de armamento não-letal).

O acampamento foi montado ao final de uma marcha que reuniu cerca de 30 mil pessoas, segundo os organizadores, que consideraram este o maior ato contra o presidente interino na cidade, e 5 mil, de acordo com a PM. Os manifestantes queriam protestar em frente à residência de Michel, mas foram impedidos por barricadas policiais.

Como vemos, há razões éticas e estéticas para a retirada do acampamento. Por sua ética, o presidente interino nunca aceitaria o populacho tão perto de sua residência. E, por sua estética, o fino bairro do Alto de Pinheiros nunca aceitaria um populacho povoando suas entranhas feito lactobacilos vivos. Se ainda houvesse um pato amarelo, vá lá.
Durou pouco o acampamento organizado pela Frente Povo Sem Medo em uma praça próxima à residência do presidente interino Michel Temer, em São Paulo.
Mais de 200 pessoas foram expulsas pela polícia militar com jatos de água, gás lacrimogênio e bombas de estilhaços (pergunte para alguém ferido por um estilhaço se ele é de “efeito moral'', como defende o governo paulista e seu discurso de armamento não-letal).
O acampamento foi montado ao final de uma marcha que reuniu cerca de 30 mil pessoas, segundo os organizadores, que consideraram este o maior ato contra o presidente interino na cidade, e 5 mil, de acordo com a PM. Os manifestantes queriam protestar em frente à residência de Michel, mas foram impedidos por barricadas policiais.
Como vemos, há razões éticas e estéticas para a retirada do acampamento. Por sua ética, o presidente interino nunca aceitaria o populacho tão perto de sua residência. E, por sua estética, o fino bairro do Alto de Pinheiros nunca aceitaria um populacho povoando suas entranhas feito lactobacilos vivos. Se ainda houvesse um pato amarelo, vá lá.
Shakespeare escreveu, em Macbeth, que “a vida é uma história contada por um idiota, cheia de som e de fúria, sem sentido algum''. William errou feio, errou rude. A vida é uma história contada por grampos e escutas telefônicas, cheia de trocadilhos e ironias, que, apesar de nonsense, faz todo o sentido.
Pois, no mesmo dia em que os cidadãos ficam sabendo que jatos de água expulsaram a jato manifestantes que reclamavam das medidas que revogam direitos e estão sendo propostas por Temer, o jornalista Rubens Valente revelou gravações, de março deste ano, em que o agora ministro do Planejamento e homem forte do governo, Romero Jucá, discutia um pacto para o impeachment de Dilma, colocando Michel no lugar, a fim de salvar a pele dos políticos do PMDB e do PSDB das garras da Lava Jato, do procurador geral da República Rodrigo Janot e do juiz federal Sérgio Moro.
“Conversei ontem com alguns ministros do Supremo. Os caras dizem 'ó, só tem condições de [inaudível] sem ela [Dilma]. Enquanto ela estiver ali, a imprensa, os caras querem tirar ela, essa porra não vai parar nunca'. Entendeu? Então… Estou conversando com os generais, comandantes militares. Está tudo tranquilo, os caras dizem que vão garantir. Estão monitorando o MST, não sei o quê, para não perturbar'', afirma Jucá, em conversa com Sérgio Machado, ex-presidente da Transpetro e também citado na Lava Jato.
Fala a verdade: o seu Brasil é uma festa.
Movimentos sociais que pedem moradia e defendem direitos trabalhistas e previdenciários são lavados com base em uma justificativa distorcida de “segurança nacional''. Enquanto isso, a lama que corre em Brasília se solidificou apesar dos milhares de avisos públicos. E, agora, nem aqueles banhos de bucha feitos pela avó, para tirar a craca do corpo, são capazes de limpar. Um “eu te disse'' não é e nunca será o bastante.
Tudo isso feito com forte apoio de uma parte da população que achava que, derrubado o PT e sua corrupção, poderiam todos voltar para casa porque unicórnios alados povoariam os céus do país e Amarula correria pela calha do rio Tietê e através das cachoeiras da Floresta da Tijuca.
Enfim, mas este não é um post de política. É de turismo! Peço que coloquemos as manifestações populares de rua na agenda paulistana.
Bora botar um blindado com um canhão lançador de água, feito trio elétrico, no centro de uma festa em nome da democracia. Imagina só, Daniela e Ivete em cima dele com o povo molhado, em transe. Daí entra Carlinhos Brown, perguntando: “Bebeu água? Não! / Tá com sede? Tô!'' Ah, a Glória!
O povo chega cantando, exigindo os direitos previstos na Constituição. Daí, a polícia, bem ensaiadinha, joga gás lacrimogênio e spray de pimenta – como refrão, sabe? Tudo ritmado por bombas jogadas a cada sete segundos, como ocorreu há algum tempo na avenida Paulista pela PM. Bum, bum, bum, bum…
Se Pamplona, na Espanha, tem as Festas de São Firmino, com suas corridas de touros (deixando claro que eu torço para o touro).
firmino
Se Buñol, também na Espanha, tem a Tomatina, com o arremesso de tomates. Neste caso, não tem como torcer para o tomate.
tomatina
Se o Holi, ou Festival das Cores, é realizado na Índia e em uma série de países, com uma profusão de tinta.
cor
Por que não podemos ter em São Paulo a Festa da Água, do Som e do Gás? Afinal, festas semelhantes, com o uso de blindados iguais, já acontecem na Turquia, Grécia, Tailândia e em uma série de outros lugares nos quais a polícia também respeita a dignidade de todos os cidadãos que resolvem protestar #sqn.
Foto: Ermantino/Raw Image/Estadão Conteúdo
Foto: Ermantino/Raw Image/Estadão Conteúdo
Quem conspira, chega ao poder. Quem reclama, leva bomba. A democracia brasileira é cada vez mais nossa vitrine para o mundo.
Game of Thrones? House of Cards? Pffff. Gringos, aprendam conosco!

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