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quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

Atitude de Phil Anselmo estimula debate sobre o racismo no rock/metal

Vídeo em que Philip Anselmo aparece fazendo uma saudação nazista e dizendo “white power” estimula o debate sobre o racismo no rock/metal e provoca a reação de outras personalidades do gênero musical. Anselmo gravou uma mensagem pedindo desculpas pelos seus atos: “Sinto e espero que me deem outra chance”
O vídeo em que Phil Anselmo, vocalista da banda de heavy metal Down e ex-vocalista do Pantera, aparece fazendo uma saudação nazista e dizendo “white power”, no festival Dimebash, gerou enorme repercussão na internet.
A pressão sobre o músico foi tão grande que ele foi obrigado a pedir desculpas para o público, em vídeo postado no último sábado (30).
“Estou aqui para responder a todas as acusações que venho recebendo e que realmente mereço”, disse Anselmo, no vídeo, sem deixar dúvidas sobre o arrependimento. “Sinto e espero que me deem outra chance”, falou ainda.
A polêmica em torno da atitude de Anselmo ficou ainda maior depois que Robb Flynn, vocalista do Machine Head, fez um vídeo tratando abertamente do racismo no universo do metal. Ele deixa claro seu descontentamento com o ex-Pantera e outros colegas que possuem falas e ações nazistas, além de explicar de maneira didática porque falar em “orgulho branco” é diferente de falar em “orgulho negro”.
O vídeo em que Phil Anselmo, vocalista da banda de heavy metal Down e ex-vocalista do Pantera, aparece fazendo uma saudação nazista e dizendo “white power”, no festival Dimebash, gerou enorme repercussão na internet.
A pressão sobre o músico foi tão grande que ele foi obrigado a pedir desculpas para o público, em vídeo postado no último sábado (30).
“Estou aqui para responder a todas as acusações que venho recebendo e que realmente mereço”, disse Anselmo, no vídeo, sem deixar dúvidas sobre o arrependimento. “Sinto e espero que me deem outra chance”, falou ainda.
A polêmica em torno da atitude de Anselmo ficou ainda maior depois que Robb Flynn, vocalista do Machine Head, fez um vídeo tratando abertamente do racismo no universo do metal. Ele deixa claro seu descontentamento com o ex-Pantera e outros colegas que possuem falas e ações nazistas, além de explicar de maneira didática porque falar em “orgulho branco” é diferente de falar em “orgulho negro”.
Flynn revela ainda como foi sua conversa com Anselmo nos bastidores do Dimebash. O vídeo ganhou uma versão legendada em português (ver abaixo) e foi compartilhado milhares de vezes no Facebook.

Mais repercussão

Não só Robb Flynn, vocalista do Machine Head, se pronunciou sobre o gesto de Anselmo. Confira outros depoimentos de personalidades do rock:
“Odeio falatório, racismo, retórica inflamatória. Tudo isto é perigoso, não importa qual o contexto. Tenho TOLERÂNCIA ZERO para tudo isto e não protestar contra é tão perigoso quanto o ato em si. A atitude de Philip foi vil e deve ser o foco aqui, tudo além disto é apenas barulho” — Scott Ian, do Anthrax.
“O rock deveria ser diversão. Perverter a música em ódio? Não é divertido. Pessoas que dizem “white power” são IDIOTAS. Assim como aqueles que concordam. Ou que ficam em silêncio” — Sebastian Bach.
“Sou um grande fã do Pantera, mas a minha admiração pelo Phil Anselmo como pessoa caiu para zero ao saber do episódio recente no qual, ao término de um show fez o gesto nazista e gritou “white power”. WHITE POWER? Sério?” — Marcelo Barbosa.
A banda brasileira Angra também se pronunciou oficialmente através de sua página no Facebook. “Nós do Angra lamentamos e reprovamos profundamente as atitudes protagonizadas pelo vocalista Phil Anselmo há alguns dias. Como fãs do Pantera, a decepção é ainda maior, pois repudiamos qualquer ato de discriminação. Esperamos sinceramente que, cada vez mais, esse tipo de atitude seja exposta e combatida, para que continuemos caminhando para um mundo mais justo, digno e igualitário”, diz o texto publicado.
Aloysio Franca, colunista do site Megalomania Metal, escreveu um texto sobre o episódio, que reproduzimos abaixo:

Philip Anselmo: Por que Black Power pode e White Power não pode?

Ao contrário do que muitos afirmaram durante os polêmicos debates sobre o gesto controverso de Philip Anselmo no Dimebash de 2016, gritar Black Power não é nem de longe a mesma coisa que White Power. Existe uma diferença muito grande e vamos descobrir o motivo.
Comecemos trazendo dois pontos da história dos Estados Unidos. Serei o mais breve possível.
1- Guerra Civil Americana:
Após a Segunda Revolução Industrial na Europa, entre 1850 e 1860, houve um candidato à presidência dos EUA chamado Abraham Lincoln que almejava o desenvolvimento industrial em todo o território americano. Isso incomodou alguns estados que viviam da economia agrícola, e por consequência, da escravidão como recurso fundamental dessa economia. Esses estados se uniram em um movimento separatista contra a industrialização e contra o fim da escravidão negra. Essa turminha era chamada de Confederação, ou Estados Confederados, e era composta por Alabama, Carolina do Sul, Flórida, Geórgia, Louisiana, Mississipi e depois Texas. Quando Lincoln finalmente se tornou presidente, foi declarada a guerra da Confederação contra o resto dos EUA. É a famosa Guerra da Secessão, ou Guerra Civil Americana. A Confederação perdeu e a escravidão negra finalmente foi ilegalizada e abolida no país.
2 – O Movimento Black Power:
Após o fim da escravidão nos EUA os negros não foram simplesmente se misturando com resto da população. Os americanos, principalmente os que pertenciam àqueles estados do sul, a antiga Confederação, não toleravam a presença de negros. O negros, embora livres, eram maltratados, marginalizados, humilhados em público e completamente segregados. Eles não podiam usar os mesmos banheiros que os brancos, não podiam frequentar os mesmos lugares como escolas, transportes públicos e estabelecimentos em geral. O negro era visto como um bicho pelos brancos. Organizações racistas foram criadas nessa época com o objetivo de pregar a supremacia branca, como a Ku Klux Klan por exemplo.
O movimento Black Power apareceu no final da década de 1960 com o objetivo de promover movimentos culturais negros. Isso foi uma forma de auto-afirmação do negro. Uma forma de se valorizar e mostrar que são tão humanos quanto qualquer branco, porque estavam cansados de serem inferiorizados pelos racistas. Foi um movimento importante na busca pela igualdade, e pelos direitos civis dos negros. Mas o objetivo AINDA não foi atingido.
Até hoje os negros são marginalizados e discriminados nos EUA, sobretudo no Sul, onde ainda vive o sentimento separatista da Confederação, e os negros são maltratados, agredidos e mortos. A expressão Black Power ainda precisa existir. Ainda se faz necessário algo que levante a cabeça dos negros perante as dificuldades geradas pelo racismo no dia a dia.
Todas as comunidades que são marginalizadas pela sociedade buscam criar movimentos que exponham o seu orgulho e a sua humanidade. Isso acontece também com grupos indígenas, imigrantes latinos, LGBTs, mulheres… É uma luta justa – e por que não dizer DIGNA – por direitos iguais.
E quanto ao White Power?
White Power é o nome dado a grupos simpatizantes do neonazismo e da supremacia branca. Existem no mundo inteiro com certas variações ideológicas. No caso do sul dos EUA existe o grupo White Power cujos membros são admiradores dos Skinheads alemães e eventualmente exercem atividades de agressão física a negros e imigrantes. Estes grupos estão diminuindo aos poucos e suas atividades estão menos constantes, mas o espírito White Power ainda vive em muitas pessoas que sonham em criar um mundo “purificado” pela raça branca supostamente superior.
Agora vamos juntar Philip Anselmo, a Confederação, o Black Power e o White Power em um único contexto.
Philip Anselmo é um ídolo do Heavy Metal e uma figura fortemente admirada por uma comunidade que, mais do que qualquer outra, tem muito orgulho do gênero musical que ouve. Está imortalizado graças aos feitios do Pantera nos anos 90.
Quando uma figura icônica como Philip Anselmo grita publicamente White Power enquanto faz a saudação nazista, dá uma força renovada para os grupos declaradamente racistas e seus simpatizantes. Fazendo isso Phil revigora o racismo que foi combatido às custas de tanto suor e sangue e se torna um símbolo para o movimento White Power. Um símbolo vivo e que não tem medo de enfrentar críticas. Torna-se um verdadeiro líder.
Ao mesmo tempo, joga anos e anos de luta pela igualdade negra no ralo!
Não podemos ignorar também o fato de que Philip Anselmo é reconhecido internacionalmente e graças a este último evento a força racista vai se ouriçar no mundo inteiro, inclusive aqui no Brasil.
Já vimos muitos indícios de racismo no Pantera. O amor declarado à bandeira dos Estados Confederados e o próprio espírito separatista exacerbado como pudemos ver em seu quarto álbum, The Great Southern Trendkill (Os grandes Matadores do Sul), além de outras declarações abertas feitas há muito tempo que foram deixadas pra lá. Phil em uma entrevista antiga disse que tinha muito orgulho da cor de sua pele. Não me parece coincidência que todos os integrantes do Pantera tenham nascido nos estados que pertenciam à Confederação. Me esforço para não generalizar, mas os casos de agressões e assassinatos sob a ideologia da bandeira separatista não são raros naquela região.
Ninguém poderia estar mais desapontado do que eu, que sempre fui um grande admirador da banda. O único pôster que tive na parede do meu quarto na minha juventude foi o de Dimebag. Naquela época eu não tinha o mínimo de educação necessária para compreender os problemas que a banda carregava.
Então vamos refazer a pergunta. Por que podemos enaltecer o Black Power e não o White Power?
O Black Power é um movimento que busca uma igualdade ainda não conquistada pelos negros. Atua levantando a auto-estima de quem sempre esteve por baixo.
O White Power é um movimento que busca aniquilar qualquer raça que não seja a branca. Prega o pensamento de que brancos são superiores e que devem prevalecer.
Ainda preciso responder a pergunta?
Quero esclarecer também que o combate ao racismo é um dever de todos. É uma luta protagonizada por negros, que deve ser apoiada por brancos. O fato de eu ser branco não me impede de adotar uma postura de apoio aos negros, para que um dia tenhamos uma sociedade mais justa. Além da empatia pelo próximo que deve ser exercitada, devemos pensar que todos temos a ganhar nesta luta. Entre os negros excluídos e marginalizados existem inúmeros líderes em potencial, intelectuais em potencial, mentes brilhantes em potencial, que poderiam estar produzindo para o desenvolvimento do todo, mas não estão porque existem dificuldades incomparáveis em sua trajetória de ascensão.

Portanto quando alguém como Philip Anselmo e seus seguidores tentam propagar ideias racistas devem ser duramente criticados. Nem de brincadeira esta atitude seria aceitavel. É preciso mostrar que existe resistência e que este tipo de postura não será mais tolerada!

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