Nomeação do filho de Eduardo Campos mostra a força que a família ainda tem dentro da política pernambucana e a influência decisiva de Renata Campos
Em 19 de fevereiro, João Henrique Campos cruzou as portas do Palácio do Campo das Princesas, sede do governo de Pernambuco, para o seu primeiro dia de trabalho como chefe de gabinete do governador Paulo Câmara(PSB). Em 1987, com os mesmos 22 anos que João tem hoje, seu pai, Eduardo Campos, indicado pelo avô Miguel Arraes, então governador do estado, fazia o mesmo caminho.
A nomeação do filho mais velho, entre os homens, a um cargo no poder executivo mostra a força e influência da família do ex-candidato à presidência da República, mesmo após a suamorte em um acidente de avião em plena campanha eleitoral em 2014.
A nomeação do filho mais velho, entre os homens, a um cargo no poder executivo mostra a força e influência da família do ex-candidato à presidência da República, mesmo após a suamorte em um acidente de avião em plena campanha eleitoral em 2014.
Ainda sem ter concluído o curso de engenharia civil, na Universidade Federal de Pernambuco, João Campos assume um cargo estratégico e de confiança de Paulo Câmara. Mesmo com pouca experiência, ele será responsável por articulações políticas de bastidores dentro da administração do estado.
Mais do que o primeiro emprego de um jovem que vem de uma família de políticos, a posição de João hoje é vista por analistas como um estágio para a sua candidatura a deputado federal em 2018.
Diferentemente de Eduardo, que foi tutelado no início da vida política de perto por Miguel Arraes, os principais conselhos recebidos por João não virão de dentro do poder, mas da sua própria casa.
Se Renata Campos, viúva de Eduardo Campos e mãe de João, já era vista como peça fundamental nas decisões do marido, quando este governava Pernambuco, a ex-primeira dama ainda exerce sua influência na política estadual e é a grande mentora do destino político do seu filho. “Com a morte de Eduardo, Renata assumiu o papel de ser a guardiã do capital político da família”, afirma Túlio Velho Barreto, cientista político da Fundação Joaquim Nabuco.
Dias antes da posse de João Campos no governo estadual, Maria Eduarda Campos, uma de suas irmãs, também ingressou na gestão pública, mas em um cargo técnico dentro da Prefeitura do Recife, comandada por Geraldo Julio (PSB), apadrinhado político de Eduardo Campos.
Duda, como é conhecida dentro do partido, foi estagiária por um ano e sete meses na secretaria de Planejamento Urbano da cidade, recebendo uma bolsa de 350 reais, e no início de fevereiro assumiu a gerência de zoneamento especial do Instituto Pelópidas Silveira, órgão ligado à secretaria. A jovem de 23 anos receberá um salário de 5 mil reais em sua primeira experiência profissional como arquiteta.
Além dos filhos, há parentes de Eduardo Campos em outros níveis da administração pública. A mãe, Ana Arraes, é ministra do Tribunal de Contas da União (TCU), graças a uma forte influência do filho dentro do Congresso Nacional.
Marília Arraes é prima do ex-governador e está em seu segundo mandato como vereadora do Recife, mas tem relações publicamente rompidas com o núcleo da família Campos desde 2014, após divergência sobre a indicação de João para a secretaria da juventude do PSB em Pernambuco. “Eu acho uma irresponsabilidade do partido (a indicação de João Campos para a chefia de gabinete do governo de Pernambuco). É uma postura monarquista, quase sebastianista de tentar manter Eduardo vivo no poder através dos filhos”, declarou Marília.
Poder hereditário
O cientista político da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Vannuncio Pimentel analisou em sua tese de doutorado a influência de tradicionais famílias dentro da política nordestina. Na opinião dele, a entrada de João Campos não agrega nada à administração do governo de Pernambuco por conta da falta de experiência política e técnica do jovem para o cargo.
“A única coisa que sabemos dele até hoje é que ele é filho de Eduardo Campos. Esse tipo de estrutura familiar dentro do poder é muito comum no Brasil. O que está acontecendo em Pernambuco só reforça a ideia de que o laço consanguíneo traz um valor político”.
Um exemplo de que existe quem creia na existência de um conhecimento político nato no filho de Eduardo foi o discurso feito pelo governador de Pernambuco no dia da posse do seu novo chefe de gabinete. “João tem a sensibilidade política que ou Deus lhe deu ou vida já lhe deu”, disse Paulo Câmara, adjetivando o novo funcionário como habilidoso e organizado com as questões de interesse público.
O próprio João Campos refuta as críticas que sofreu após ser anunciada a sua nomeação para o cargo no governo de Pernambuco. Seu argumento principal é o fato de ter acompanhado o pai de perto desde pequeno em campanhas pelo interior e em atividades políticas. “Quem faz parte do governo tem de estar preparado para críticas e eu vou respondê-las com trabalho. Agora o que eu não admito é uma crítica recheada de preconceito. Ninguém pode ser prejulgado por ser filho de A ou de B”.
Para Adriano Oliveira, cientista político do Instituto Maurício de Nassau, a indicação de João Campos pode fragilizar a imagem de novos quadros da política pernambucana. Tanto Paulo Câmara quanto Geraldo Julio só disputaram uma única eleição até hoje por intermédio da força política de Eduardo Campos.
Levar componentes do núcleo familiar do ex-governador para dentro da máquina pública mostra que os atuais gestores abrem mão de fazer governos com a própria marca e ainda dependem da imagem de Eduardo. “A nomeação de João Campos pode criar entre os eleitores uma percepção de que a família Campos ainda manda no estado”, avalia Oliveira.
Ligações familiares
Não é de hoje que as relações de parentesco são levadas em conta na política pernambucana. O próprio governador Paulo Câmara é casado com uma prima de segundo grau de Eduardo Campos.
Em 2013, Campos foi acusado de nepotismo por ter empregado uma cunhada e dois sobrinhos no governo do estado e de ter indicado dois primos da esposa para o Tribunal de Contas do Estado. A curiosidade é que Pernambuco foi o primeiro estado do País a decretar, em 2007, uma lei anti-nepotismo, justamente no primeiro ano de mandato de Eduardo Campos à frente do governo do estado.
O Tribunal de Contas do Estado de Pernambuco (TCE), responsável por fiscalizar as contas do poder público, é um órgão fortemente ligado à família Campos. Renata Campos é auditora concursada do órgão e Marcos Loreto, seu primo, é conselheiro do TCE indicado por Eduardo Campos, em 2007. Para o mesmo cargo o ex-governador nomeou o próprio primo João Henrique Carneiro Campos, em 2011.
O atual secretário de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco, Thiago Norões, também é primo de Eduardo Campos. Antes de assumir o cargo, Norões foi procurador-geral do Estado no segundo mandato de Eduardo como governador do estado. O prefeito do Recife, Geraldo Julio, e o governador, Paulo Câmara, também são auditores concursados do TCE.
“Muitas das pessoas que hoje fazem parte do governo do estado e da prefeitura vêm do TCE, onde foram colegas de trabalho de Renata Campos. Por isso, também, ela tem um trânsito muito bom dentro do poder”, diz Vannuncio Pimentel.
Aproveitando o peso do sobrenome e a grande comoção que a imagem de Eduardo Campos ainda causa no inconsciente do eleitorado pernambuco, o advogado Antônio Campos, irmão do ex-governador, começa a se lançar na vida pública.
Tido como um personagem discreto dentro da família até a morte de Campos, Antônio lançará candidatura para concorrer à prefeitura de Olinda, cidade vizinha à capital pernambucana. “Antônio Campos está entrando tardiamente na política e não tem o mesmo carisma de Eduardo, por isso creio que aposta da família para o futuro político dos Campos é em João”, analisa Túlio Velho Barreto.
Fonte:Carta Capital
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