A disseminação no WhatsApp de conteúdos que tentam negar a gravidade da pandemia de Covid-19 também foi monitorada em uma parceira do Eleições sem Fake com o Monitor do Debate Político no Meio Digital, da Universidade de São Paulo (USP). Os grupos analisaram áudios que circularam entre os dias 24 e 28 de março e constataram que, entre os 20 áudios com maior circulação, cinco negavam a gravidade da pandemia.
O sexto áudio mais compartilhado trata do mesmo caso do borracheiro que teria sido contabilizado como vítima de coronavírus. Outro áudio, o quarto mais compartilhado no período, nega o número de mortes e diz que sobram caixões na cidade de Lindoeste (PR), já que está morrendo menos gente do que antes – o que não é verdade.
As conversas em grupos de WhatsApp durante a pandemia falaram também muito sobre as manifestações ocorridas entre março e junho pelo país. Das cem imagens mais compartilhadas, 29 tinham como tema principal algumas dessas manifestações – desde os panelaços, passando pelas carreatas pela reabertura do comércio em cidades pequenas, até os atos antidemocráticos em Brasília, investigados pelo STF.
Uma corrente de imagens chamava para manifestações em pelo menos 14 cidades do Brasil nos dias 31 de maio e 7 de junho. Nessas datas, apoiadores do presidente saíram às ruas contra inquéritos no STF que investigavam a disseminação de notícias falsas e pedindo por intervenção militar. “Apoio ao presidente Bolsonaro e às FFAA, Fora Congresso Nacional e STF, Diga não ao comunismo” eram as pautas dos atos listadas nas imagens mais compartilhadas nos grupos.
Ataques e críticas ao STF e ao Congresso foram tema de 12 das cem imagens mais populares. Entre elas, algumas disseminavam informações falsas a respeito de ministros. “Contra fotos (ops) fatos, não há argumentos… Juiz Marco Aurélio e seu amigo Fidel. #foramarcoaurelio #forastf”, dizia uma corrente acompanhada de foto de Fidel Castro com um jovem com traços parecidos aos do ministro Marco Aurélio. Na verdade, se trata do jornalista Ricardo Noblat, conforme checado pelo Fato ou Fake.Apesar de falsa, a imagem foi encaminhada 138 vezes a 87 grupos de WhatsApp entre março e junho de 2020.O governador de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM), que rompeu com o presidente em 25 de março, foi identificado falsamente como o agressor de um idoso em uma foto compartilhada em grupos de WhatsApp. A imagem foi compartilhada cem vezes em 54 grupos.Outros políticos da oposição e de esquerda foram atacados em 12 das cem imagens mais compartilhadas pelo WhatsApp, que chegaram juntas a um total de 1.846 compartilhamentos.Uma das mais difundidas, com um total de 154 compartilhamentos em 84 grupos, é um print de um suposto grupo chamado “RESISTÊNCIA PARÁ”, em que participantes com nomes como Psol Uepa ou #LulaLivre bolam um plano para infectar outras pessoas e “mostrar que Bolsonaro é genocida”. A imagem foi checada pelo Boatos.org e desmentida pelo Psol no estado.Jornalistas e veículos de imprensa também foram alvos de ataques em quatro das cem imagens mais populares.A 12ª imagem mais compartilhada no WhatsApp entre 1o de março e 30 de junho de 2020 trazia uma manchete do site bolsonarista Senso Incomum. “Esperança: Quatro pacientes foram curados em SP com o uso da hidroxicloroquina”, dizia o texto compartilhado 290 vezes para 95 grupos distintos.
A hidroxicloroquina, ou cloroquina, também foi apresentada como possível cura para o coronavírus em outras duas das cem imagens mais compartilhadas no período, mesmo sem haver nenhuma comprovação científica da eficácia do medicamento para o tratamento da doença.
Também estiveram entre as cem mais compartilhadas imagens que visavam defender o presidente Bolsonaro (3) e a reabertura da economia (6). “Fique em casa e assista de camarote seu país ruir”, dizia uma das mais compartilhadas, que anunciava a falência da empresa de transporte Itapemirim. Como revelado pelo Fato ou Fake, a empresa não faliu e está em processo de recuperação judicial desde 2016. A imagem chegou a 95 compartilhamentos em 67 grupos, envolvendo 80 usuários.
Grupos de WhatsApp seguem ações do presidente
Os 522 grupos de WhatsApp analisados tiveram mais atividade em dias nos quais a Presidência da República também marcou presença nas redes sociais. O dia mais ativo foi 28 de março – logo após a divulgação da campanha “O Brasil não Pode Parar”, pela Secretaria de Comunicação do governo.
Um segundo pico ocorreu entre 3 e 5 de abril, com o compartilhamento das imagens que associam falsamente governadores e políticos da oposição a suposto criminoso chinês. No dia 2 de abril, o presidente havia compartilhado um vídeo no qual uma apoiadora sua critica os governadores pelas medidas de isolamento adotadas no combate ao coronavírus.
Já o dia menos ativo – 23 de abril – ocorreu na véspera da saída de Sergio Moro do Ministério da Justiça, apontado como o ministro mais popular do governo. “Moro já é comunista na Austrália”, ironizava a imagem mais compartilhada na data, encaminhada apenas cinco vezes entre os grupos analisados.
Apesar de o dia menos ativo ter ocorrido em abril, esse foi o mês de maior atividade nos grupos de WhatsApp. Foi também nesse período que manifestações a favor do governo, contra as medidas de isolamento social e contra as instituições democráticas começaram a se espalhar pelo país. Bolsonaro esteve presente nos dias 19 de abril, 3 de maio e 31 de maio.
Já o mês de menor atividade nos grupos foi junho, quando aliados do governo começaram a ser investigados pelo STF nos inquéritos que apuram a disseminação de notícias falsas e organização de atos antidemocráticos. Ainda em 27 de maio, políticos e influenciadores ligados a Bolsonaro foram alvos de operação da Polícia Federal. Em 16 de junho, outra operação mirou empresários governistas suspeitos de financiar manifestações que pediam o fechamento do Congresso e do STF.
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Fonte: Agência Pública
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