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terça-feira, 9 de junho de 2020

Como os “conchetos” (coxinhas) de Buenos Aires estão sabotando a quarentena na Argentina

Marchas na capital têm característica de classe muito marcada; ricos portenhos parecem desprezar o sucesso do isolamento


Os ricos portenhos estão sabotando o bom combate à pandemia na Argentina, que tem se destacado pelo baixo número de infectados e mortos pelo coronavírus em relação a outros países como o Brasil graças à atuação firme do governo federal. Orquestradas pelos grandes empresários e pela mídia comercial, as manifestações anti-quarentena dos conchetos (como são conhecidos os mauricinhos ou coxinhas no país) estão logrando fazer subir o número de infectados em Buenos Aires, enquanto outras regiões já relaxam o isolamento.
Os ricos portenhos estão sabotando o bom combate à pandemia na Argentina, que tem se destacado pelo baixo número de infectados e mortos pelo coronavírus em relação a outros países como o Brasil graças à atuação firme do governo federal. Orquestradas pelos grandes empresários e pela mídia comercial, as manifestações anti-quarentena dos conchetos (como são conhecidos os mauricinhos ou coxinhas no país) estão logrando fazer subir o número de infectados em Buenos Aires, enquanto outras regiões já relaxam o isolamento.


No mesmo dia em que o presidente Alberto Fernández estendeu o isolamento por mais 21 dias (de 7 a 28 de junho) somente para a região metropolitana de Buenos Aires e outras 4 províncias, a Argentina registrou recorde de casos: 929 infectados e 25 óbitos. O maior número (436) foi justamente na cidade de Buenos Aires, 422 no restante da província e 53 no Chaco.  A cidade de Buenos Aires e os 13 distritos que a rodeiam, um conglomerado de 14 milhões de habitantes, “concentra 85% dos casos”, afirmou o governador da província, Axel Kicillof.

"Nas marchas da ignorância e da indiferença à pandemia, como no Brasil, só se veem pessoas da classe média e alta, cuja prioridade é voltar a restaurantes ou academias, enquanto nos setores mais precários as pessoas oram por algo tão básico quanto água"

São os setores mais humildes da Argentina que têm dado uma lição de humanidade e responsabilidade em relação aos seus e aos outros, diante de uma classe média e alta que orgulhosamente exibe sua profunda falta de empatia, com uma bandeira que pode ser resumida a um raciocínio torto: “Melhor mortos do que menos pobres”.

Nas zonas mais carentes da capital, como a Villa 31, uma das mais afetadas, houve uma queda nos últimos oito dias, segundo o prefeito Horacio Larreta, macrista. Entre as razões para a queda estão as críticas do movimento La Garganta Poderosa às autoridades da cidade de Buenos Aires pela grave situação e pelo abandono dos governantes, após a morte de uma de suas lideranças, Ramona Medina, que faleceu de coronavírus depois de pedir ajuda nas redes por ficar 12 dias sem água. O governo nacional recebeu, outro líder do La Garganta, Nacho Levy, para demonstrar prioridade à urgência vivida nos setores mais vulneráveis.

Enquanto as manifestações anti-quarentena têm uma característica de classe muito marcada, sem reivindicações por falta de comida ou necessidade de suprimentos, o movimento La Garganta Poderosa está realizando uma enorme campanha para levar ajuda aos mais carentes, que estão vivenciando na própria carne o vírus e o abandono. Na Argentina, como em outros países, a Covid-19 expõe o peso das desigualdades sociais e raciais no combate a uma pandemia.
Já nas marchas da ignorância e da indiferença, como acontece também no Brasil, só se veem pessoas da classe média e alta, cuja prioridade é voltar a restaurantes ou academias, enquanto nos setores mais precários as pessoas oram por algo tão básico quanto a água. Os que querem quebrar a quarentena são os mais privilegiados, e tem acontecido casos absurdos como o casamento “clandestino” para 150 pessoas realizado por um grupo de judeus ortodoxos; o chá de bebê que levou a criança a nascer com coronavírus; ou o empresário que entrou em seu condomínio com a empregada doméstica escondida no porta-malas do carro, são alguns dos exemplos.

"A sabotagem dos ricos inclui absurdos como o casamento “clandestino” para 150 pessoas; o chá de bebê que levou a criança a nascer com coronavírus; ou o empresário que entrou em seu condomínio com a empregada doméstica escondida no porta-malas do carro"

Em 25 de maio, um grupo de irresponsáveis foi à Plaza de Mayo sob o lema da “liberdade” para pregar contra o isolamento. Em um dos bairros mais luxuosos de Tigre, cidade da Grande Buenos Aires, aconteceu a “revolução pacífica no carro pelos nossos direitos”, onde os conchetos, dentro de seus automóveis de luxo, protestavam para o país “não virar uma Venezuela”. Alguns dias atrás, uma marcha foi organizada no obelisco da capital, que felizmente foi um fracasso, mas conseguiu reunir um grupo de 200 pessoas “contra o totalitarismo”. Os slogans das marchas incluem desde teorias da conspiração à comparação entre Fernández e Stalin.







O infectologista Pedro Cahn, principal conselheiro do governo federal, assim resumiu as críticas à quarentena: “Se você acha que a quarentena é ruim, experimente terapia intensiva e morte”. O infectologista, que sempre afirma que o vírus não entra nas casas, mas que são as pessoas que saem para procurá-lo, foi criticado por Patricia Bullrich, ex-ministra da Segurança de Macri, que definiu suas declarações como “quase terroristas”.

O governo tem tido que lutar não só contra a pandemia e uma dívida monstruosa deixada pelo macrismo, mas com a mídia e os empresários que tentam sabotar a quarentena desde o primeiro dia. Da manhã à noite, economistas e empresários “liberais” percorrem todos os programas e meios de comunicação criticando ferozmente as medidas de Alberto Fernández e incitando à população a romper o isolamento, com os argumentos mais estapafúrdios.







Na semana passada, um grupo de 300 “intelectuais” de direita divulgou uma declaração alegando que o que está sendo experimentado na Argentina é uma “infectadura”, e alguns referentes do Macrismo compararam a quarentena na Villa Azul, favela de Buenos Aires que teve de ser isolada porque os casos estavam crescendo, com o “Gueto de Varsóvia”. Em 48 horas, 18 mil cientistas e intelectuais de peso repudiaram a a barbaridade de querer comparar a quarentena com a ditadura.

TN, a Globo da Argentina, também se referiu à Villa Azul com imagens de pessoas protestando nas ruas. Mas as imagens que mostraram eram do Chile. Nesta segunda, 8 de junho, com a redução no número de contágios, o confinamento na favela foi encerrado.

No final de março, o ex-presidente Macri (que hoje está envolvido em um caso de investigação de espionagem ilegal durante seu governo) havia aconselhado Alberto Fernández a seguir o modelo da Inglaterra e, em abril, assinou um pedido para suspender a quarentena. Muitos também sugeriram que a Argentina seguisse os passos da Suécia, onde nenhuma medida preventiva havia sido tomada.



Hoje são os próprios suecos que reconhecem que seu modelo falhou. A taxa de mortalidade por milhão de habitantes da Suécia é de 453,4 e a da Argentina, 13,6. Também houve quem destacasse as medidas de Bolsonaro no inicio da pandemia em comparação com as de Fernández, e a taxa no Brasil hoje é 12 vezes maior que a da Argentina: 162,2. O que teria acontecido aos argentinos se o governo tivesse seguido estas “sugestões”?



Todas as decisões sobre a pandemia que o governo toma são baseadas nas recomendações de infectologistas, epidemiologistas e especialistas em saúde. O próprio presidente admitiu que ele, como professor de Direito, não pode comentar sobre uma área em que não é especialista, bem ao contrário de Bolsonaro, que se comporta como médico e até indica um remédio como “cura”, a cloroquina.

Em uma de suas últimas entrevistas coletivas, Fernández foi questionado por uma jornalista sobre as angústias que as pessoas sentem com a quarentena e deu uma resposta demolidora. “É angustiante salvar-se? Angustiante é ficar doente, não se salvar. Angustiante é que o Estado te abandone e te diga para se virar como possa, que o Estado não esteja presente”, disse o presidente.




O fato é que, sabotagens à parte, a estratégia de Alberto Fernández está funcionando: após 75 dias de quarentena e com cerca de 22 mil casos e 670 mortes, 18 das 24 províncias já não têm circulação do vírus e estão passando para a fase 5 do “distanciamento social”, onde diferentes atividades serão permitidas, cumprindo as protocolos respectivos. O jornal Página 12 deu o apelido de “Cuarenflex” para a nova fase.

Fonte: Socialista Morena 

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