Os mais velhos talvez se lembrem dos tempos onde um produto japonês era considerado de má qualidade. Quem iria comprar uma TV do Japão se podia adquirir algo made in USA? Houve um tempo, também, em que produtos coreanos eram mal vistos. Samsung era, no máximo, uma fabricante de monitores CRTs dos computadores de mesa. Hoje, um Galaxy S5 se tornou objeto de desejo de milhões de jovens ao redor do planeta.
Agora, parece ser a vez dos produtos chineses, que deixam de fazer apenas o shanzai (conhecido no Brasil como “xing-ling”) para disputar o mercado de ponta de aparelhos eletrônicos de consumo. A primeira a tentar romper os limites do shanzai foi a Lenovo, que comprou a divisão de PCs da IBM e a Motorola Mobility do Google.
Logo atrás aparecem a Huawei, uma gigante no setor de telecomunicações, que agora luta para tornar seu nome conhecido do grande público, através, por exemplo, do patrocínio de clubes de futebol, como o britânico Arsenal, a ZTE, que acaba de lançar um smartphone com oito núcleos (octa core) no seu processador e a TCL (sexta maior vendedora de televisões do mundo).
Há ainda casos de empresas que se notabilizam pelo OEM (fabricar para terceiros), mas que vêm lutando para construir uma marca mais forte, ao menos no mercado asiático, como Yulong/Coolpad e Xiaomi (que retirou o brasileiro Hugo Barra da diretoria do Google para torná-lo seu vice-presidente para o mercado global).
Todas essas seis empresas têm várias características em comum. São recentes (em geral, não mais do que vinte anos), começaram fazendo shanzai, estão entre as treze únicas empresas que conseguem ter mais de 1% do mercado mundial de smartphones, partem para o mundo a partir do gigantesco mercado chinês e agora investem em suas marcas e na qualidade dos aparelhos fabricados.
Não será estranho, portanto, que em pouco tempo, uma parte dos atuais consumidores da Samsung ou da Apple estejam fazendo filas para comprar o novíssimo lançamento da Huawei.
Shanzai
A atual lógica repressiva em torno da propriedade intelectual e dos direitos autorais costuma criminalizar a prática de engenharia reversa e a produção de equipamentos largamente baseados em outros mais desenvolvidos. Essa postura parece esquecer que a engenharia reversa foi largamente praticada pelos Estados Unidos durante o século XIX e pelo Japão no imediato pós-guerra. Sem a engenharia reversa, de um lado, e a transferência de tecnologia, de outro lado, o caminho para o desenvolvimento tecnológico encontra-se bloqueado pelas patentes já registradas pelos países ditos desenvolvidos.
Essa lição parece ter sido bem aprendida pela China, que, ainda por cima, tem uma tradição cultural de cópia e paródia, conhecida como shanzai, e que vai muito além dos produtos eletrônicos.
Fonte: Blog do Gustavo Gindre
Fonte: Blog do Gustavo Gindre
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