O assunto, é claro, provoca controvérsia. É livre ou não é livre? Seu uso (da Niqab) penaliza ou não as mulheres? Afinal, penso eu, em minha vida de professor nunca pedi que freira nenhuma deixasse minha aula, nem faria isso. E agora, José? Mas, lembra minha esposa Zinka, o que pensará ela daqui a vinte anos? E se tiver uma filha, o que acontecerá?
Este foi um dos tantos momentos deste primeiro dia efetivo do Fórum Social Mundial, realizado no campus da Universidade El Manar, no subúrbio da capital tunisiana. No dia anterior houve a marcha de abertura, que atravessou a cidade da praça 14 de Janeiro, assim batizada em lembrança do movimento que, dois anos atrás, derrubou o ditador Zine Ben Ali, até o longínquo estádio Menzah. Muita música, festa, palavras de ordem sobre meio-ambiente, Palestina, emprego, fim do imperalismo e do capitalismo e… mulheres.
Elas são, de fato, tema e presença dominante neste fórum. Previamente, uma conferência de seus movimentos antecedeu o próprio evento e a marcha de abertura. Ao fim da marcha, no estádio, houve uma sessão de discursos, antes do esperado show de Gilberto Gil. Falaram só mulheres, de todos os quadrantes da África. A representante do Mali atacou o desemprego em seu país e a guerra dividida entre a presença de partidários da Al Qaeda e/ou dela emanados e a das tropas francesas como uma guerra pelos recursos minerais do deserto, não por liberdade deste ou daquele lado. Foi o discurso decididamente mais vigoroso dentre todos os vigorosos ali pronunciados.
Vê-se que os movimentos de mulheres estão tecendo uma rede pan-africana (bons dias em que as Penélopes teciam em casa, dirão os Ulisses) e que, com ela, estão pondo o continente em contato com o resto do mundo. Afinal, esta é uma das finalidades precípuas dos fóruns sociais mundiais e seus desdobramentos temáticos ou regionais, desde sua primeira edição em Porto Alegre, em 2001.
Também é importante que essa rede se teça entre as nações do mundo árabe, sacudidas por suas primaveras, conquistas, impasses, dramas e tragédias. Os contatos entre os povos destas nações, em que pesem tradições, línguas e religião comuns, são na verdade muito tênue, bloqueados pelos muros das ditaduras, monarquias retrógradas e regimes presidenciais ou parlamentares de fancaria que governaram a região durante as últimas décadas. E as redes entre movimentos de trabalhadores, desempregados, jovens estudantes, ONGs (muito dependentes, muitas vezes, das europeias) são também ainda muito incipientes e tênues. Neste sentido, os movimentos de mulheres, animados por ideais e uma linguagem comum diante das sociedades tradicionalmente machistas de diferentes matizes que enfrentam, estão na vanguarda.
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Fonte texto: Portal UJS
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