Mobilização nacional já dura 14 dias, paralisando 108 unidades do sistema Petrobras e envolvendo 20 mil trabalhadores
Eram cinco horas da manhã e uma fila já se formava na rodovia Arthur Bernardes, em Belém do Pará, garantir a compra de gás de cozinha a R$ 40. A iniciativa foi realizada nesta sexta-feira (14), para reforçar a adesão do Sindicato dos Petroleiros do Pará, Amazonas, Maranhão e Amapá à greve nacional -- e também para fazer um convite ao povo paraense e brasileiro para refletir sobre a política de preços dos combustíveis e o papel social da Petrobras.
Em Belém, o preço do botijão de 13 quilos varia entre 68 e 82 reais, conforme levantamento realizado entre os dias 02 e 8 de fevereiro pela ANP - A Agência Nacional do Petróleo.
Para Bruno Terribas, diretor de comunicação do Sindicato, a ação cumpriu o papel de informar a sociedade.
"Foi boa a repercussão na mídia também a gente conseguiu pautar bastante o assunto e realmente conseguimos passar para as pessoas que estavam ali que realmente a gente é contrário à política de preços."
Essa medida tem sido constantemente criticada pela Federação Única dos Petroleiros (FUP), uma vez que o reajuste dos combustíveis passou a ser atrelado ao mercado internacional.
A trabalhadora Socorro Siqueira, de 53 anos, não conseguiu comprar o gás porque não é beneficiada pelo Bolsa Família -- uma exigência feita pelo sindicato --, mas conta que poder adquirir gás de cozinha a um preço justo seria muito bom para sua família. Na casa dela, moram 10 pessoas e o gasto mensal com o gás é de R$ 160.
"Acho que eles devem fazer isso para ajudar a população, porque se a gente pudesse pagar o gás mais barato seria bom. Seria muito bom se a gente pudesse pagar R$ 40 no gás", diz.
Dona Socorro diz que apoia o movimento e não sabia que o preço que ela pagava pelo gás era definido governo federal. "A primeira vez que ouvi falar sobre isso foi agora", afirma.
Para Gilmar Cruz, que trabalha com serviços gerais e ganha um salário mínimo por mês, comprar o gás a R$ 40 é um grande benefício, mas ele gostaria de poder pagar esse preço todos os dias.
"Seria uma ajuda e tanto para nós trabalhadores. que ganha salário mínimo seria uma ajuda a tanto. Seria ótimo, seria bom demais. A pessoa pagar R$ 70, R$80 no gás, isso é já leva quase 10%, 20% do que a pessoa ganha."
Gilmar soube da ação por meio dos amigos do trabalho e disse que apoia a greve dos petroleiros e fica feliz que ainda há pessoas que lutam pelos trabalhadores.
"Eu apoio essa ação deles. É ótima. Se for pra eles continuarem assim que vá na frente mesmo e é uma boa forma de mostrar ainda existe quem lute por nós, que luta pela gente", afirma.
Balanço
A greve está em seu 14º dia. Segundo a Federação Única dos Petroleiros (FUP), cerca de 20 mil trabalhadores aderiram à paralisação em 108 unidades da companhia, entre plataformas, refinarias e terminais.
Enquanto a greve dos petroleiros se fortalece, a gestão da Petrobras se recusa a negociar com a FUP . No último dia 12 de fevereiro, o ministro Dias Toffoli, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) manteve a decisão do ministro Ives Granda Martins Filho, que determinou que os petroleiros mantivessem 90% dos trabalhadores em serviço durante a greve da categoria.
Toffoli suspendeu a decisão da Seção Especializada em Dissídios Coletivos (SDC) do Tribunal Superior do Trabalho (TST), que julgou inconstitucional a liminar do ministro Ives Gandra contra a greve dos petroleiros, no final de 2019.
Em novembro de 2019, ele proibiu antecipadamente a greve, determinando o bloqueio das contas da FUP e dos sindicatos, além da suspensão do repasse das mensalidades dos associados e cobrança de multas que chegaram na época a R$ 32 milhões.
A FUP irá recorrer da decisão do ministro Dias Toffoli tanto por vias judiciais, como por meio de denúncias à Organização Internacional do Trabalho (OIT). A greve é um direito garantido a todos os brasileiros pela Constituição de 1988.
Bruno Terribas, diretor de comunicação do Sindipetro PA/AM/MA/AP, afirma que é essa movimentação deixa muito claro o temor do governo com relação ao movimento.
"Mostra que há um temor muito forte por parte o governo e seus aliados em que essa luta se desenvolva e angarie cada vez mais apoio da população com essas ações."
Fonte: Brasil de Fato
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