Em um comunicado à BBC, o Pornhub disse: "Essas terríveis alegações
datam de 2009, anos antes de o Pornhub ser adquirido por seus atuais
proprietários, portanto não temos informações sobre como o caso foi
tratado naquele momento. Desde a mudança de propriedade, a Pornhub
implementa continuamente as mais rigorosas salvaguardas e políticas do
setor quando se trata de combater conteúdo não autorizado e ilegal, como
parte de nosso compromisso em combater material de abuso sexual
infantil. A empresa emprega a Vobile, que verifica possíveis novos
envios em busca de material não autorizado e garante que o vídeo não
volte à plataforma".
Quando perguntados por que vídeos com títulos
semelhantes aos carregados com o estupro de Rose, como "adolescente
estuprada durante o sono", "abuso de adolescentes bêbadas dormindo",
"abuso de adolescentes" ainda estão ativos no Pornhub, a empresa
afirmou: "Permitimos todas as formas de expressão sexual que segue
nossos Termos de Uso e, embora algumas pessoas possam achar essas
fantasias inadequadas, elas atraem muitas pessoas e são protegidas por
várias leis de liberdade de expressão".
O Pornhub introduziu um
mecanismo de sinalização para conteúdo inadequado em 2015, mas as
histórias sobre vídeos de abuso no site continuam aparecendo.
Em
outubro do ano passado, um homem de 30 anos da Flórida, Christopher
Johnson, foi acusado de abusar sexualmente de um garoto de 15 anos e
postar vídeos do ataque no Pornhub.
Em um comunicado à BBC sobre
este caso, a Pornhub disse que sua política é "remover conteúdo não
autorizado assim que for informada, o que é exatamente o que fizemos
neste caso".
Em 2019, a Pornhub também removeu um canal chamado
Girls Do Porn, após 22 mulheres processarem o canal por forçá-las a
participar de vídeos. Os proprietários do canal foram acusados de
tráfico sexual.
"As pessoas podem dizer que o que aconteceu comigo
uma década atrás não é uma realidade de hoje, mas isso simplesmente não
é verdade", diz Rose.
"Mulheres me disseram que ainda está
acontecendo, depois que viram o meu post. E são mulheres de países
desenvolvidos, com acesso às mídias sociais. Não duvido que em outras
partes do mundo, em lugares em que sabemos que a pornografia é consumida
em grandes quantidades, como Oriente Médio e Ásia, a vítima possa
sequer estar ciente de que seu abuso está sendo compartilhado."
A
BBC também falou com uma mulher que enviou um e-mail a Rose. Um vídeo
mostrando um abuso que sofreu permaneceu por anos em um site menor,
embora ela tenha enviado vários e-mails para a empresa e deixado um post
na seção de comentários abaixo do vídeo.
A mulher, da
Califórnia, diz que o vídeo também foi baixado e compartilhado em outros
sites pornográficos. Os advogados do site disseram à BBC que seus
clientes "não tinham conhecimento de tal situação". A BBC então forneceu
um link para o vídeo, bem como capturas de tela de comentários da
mulher solicitando sua remoção. Finalmente, ele foi removido.
"O que aconteceu com Rose em 2009 ainda está acontecendo hoje em
vários sites pornográficos de streaming gratuito — e não apenas no
Pornhub", diz Kate Isaacs, do Not Your Porn, um grupo que investiga
sites pornográficos. "Não há nada que possamos fazer em relação a sites
pornográficos desonestos menores criados por indivíduos, mas sites
comerciais grandes como o Pornhub precisam ser responsabilizados e eles
não estão sendo. Nenhuma lei se aplica a eles."
Muitos desses
vídeos de conteúdo sexual publicados sem o consentimento das pessoas
envolvidas são publicados no contexto da chamada pornografia de vingança
— a distribuição, principalmente online, de imagens ou vídeos
sexualmente explícitos com o objetivo de causar angústia ou
constrangimento.
O material normalmente é exposto por um
ex-parceiro, mas também pode ter sido roubado do arquivo digital da
vítima ou de sistemas de armazenamento em nuvem.
A pornografia de
vingança é crime na Inglaterra e no País de Gales desde 2015 e
atualmente é punível com prisão de até dois anos. No entanto, as
plataformas que compartilham esse conteúdo não foram responsabilizadas
até o momento.
No Brasil, a conduta passou a ser considerada crime
em 2018. Foi inserida no Código Penal a figura do crime de divulgação
de cena de estupro ou de cena de sexo ou pornografia.
Um dos
artigos prevê como condutas criminosas atos de oferecer, trocar,
disponibilizar, transmitir, vender ou expor à venda, distribuir,
publicar ou divulgar, por qualquer meio, fotos, vídeo ou material com
conteúdo relacionado à pratica do crime de estupro, ou com cenas de
sexo, nudez ou pornografia, que não tenham consentimento da vítima.
A
pena prevista é de 1 a 5 anos de reclusão. Se for comprovada a
pornografia de vingança, ela pode aumentar a pena em até dois terços.
"Os
sites pornográficos sabem que existe conteúdo perturbador e não
consensual em suas plataformas", diz Kate Isaacs. "Eles sabem que não há
como diferenciar a representação de fantasia ou cenários de produção
falsos de um abuso real."
Ela criou o Not Your Porn quando um
vídeo sexual de um amigo dela (que tinha menos de 16 anos na época) foi
colocado no Pornhub. Kate diz que mais de 50 mulheres no Reino Unido a
procuraram nos últimos seis meses para dizer que vídeos sexuais seus
foram postados sem o consentimento delas em sites pornográficos. Trinta
deles foram enviados para o Pornhub.
Ela também ressalta que o
Pornhub e outros sites permitem que os espectadores baixem vídeos em seu
próprio computador — mesmo que o vídeo seja retirado de um site, é
fácil para qualquer um desses usuários compartilhá-lo ou enviá-lo
novamente para outro.
A Not Your Porn está em campanha por leis no
Reino Unido que tornariam o compartilhamento de vídeos pornográficos
não consensuais um crime.
Rose tem esperança. Aos 20 anos, ela
conheceu o namorado, Robert, que, segundo ela, a ajudou a discutir e a
lidar com o abuso. Ela espera que eles se casem e tenham uma filha.
"Em muitos sentidos, vivo uma sentença de prisão perpétua", diz Rose. "Mesmo agora eu me pergunto se um estranho viu meu vídeo."
Mas ela não quer mais ficar calada, diz.
Leia as Parte 1 e Parte 2
Fonte:BBC Brasil
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