Siga a gente aqui!

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2020

'Eles me estupraram e postaram o vídeo do crime em um site pornô' Parte 3

Em um comunicado à BBC, o Pornhub disse: "Essas terríveis alegações datam de 2009, anos antes de o Pornhub ser adquirido por seus atuais proprietários, portanto não temos informações sobre como o caso foi tratado naquele momento. Desde a mudança de propriedade, a Pornhub implementa continuamente as mais rigorosas salvaguardas e políticas do setor quando se trata de combater conteúdo não autorizado e ilegal, como parte de nosso compromisso em combater material de abuso sexual infantil. A empresa emprega a Vobile, que verifica possíveis novos envios em busca de material não autorizado e garante que o vídeo não volte à plataforma".


Quando perguntados por que vídeos com títulos semelhantes aos carregados com o estupro de Rose, como "adolescente estuprada durante o sono", "abuso de adolescentes bêbadas dormindo", "abuso de adolescentes" ainda estão ativos no Pornhub, a empresa afirmou: "Permitimos todas as formas de expressão sexual que segue nossos Termos de Uso e, embora algumas pessoas possam achar essas fantasias inadequadas, elas atraem muitas pessoas e são protegidas por várias leis de liberdade de expressão".

O Pornhub introduziu um mecanismo de sinalização para conteúdo inadequado em 2015, mas as histórias sobre vídeos de abuso no site continuam aparecendo.

Em outubro do ano passado, um homem de 30 anos da Flórida, Christopher Johnson, foi acusado de abusar sexualmente de um garoto de 15 anos e postar vídeos do ataque no Pornhub.

Em um comunicado à BBC sobre este caso, a Pornhub disse que sua política é "remover conteúdo não autorizado assim que for informada, o que é exatamente o que fizemos neste caso".
Em 2019, a Pornhub também removeu um canal chamado Girls Do Porn, após 22 mulheres processarem o canal por forçá-las a participar de vídeos. Os proprietários do canal foram acusados de tráfico sexual.

"As pessoas podem dizer que o que aconteceu comigo uma década atrás não é uma realidade de hoje, mas isso simplesmente não é verdade", diz Rose.

"Mulheres me disseram que ainda está acontecendo, depois que viram o meu post. E são mulheres de países desenvolvidos, com acesso às mídias sociais. Não duvido que em outras partes do mundo, em lugares em que sabemos que a pornografia é consumida em grandes quantidades, como Oriente Médio e Ásia, a vítima possa sequer estar ciente de que seu abuso está sendo compartilhado."

A BBC também falou com uma mulher que enviou um e-mail a Rose. Um vídeo mostrando um abuso que sofreu permaneceu por anos em um site menor, embora ela tenha enviado vários e-mails para a empresa e deixado um post na seção de comentários abaixo do vídeo. 

A mulher, da Califórnia, diz que o vídeo também foi baixado e compartilhado em outros sites pornográficos. Os advogados do site disseram à BBC que seus clientes "não tinham conhecimento de tal situação". A BBC então forneceu um link para o vídeo, bem como capturas de tela de comentários da mulher solicitando sua remoção. Finalmente, ele foi removido.

"O que aconteceu com Rose em 2009 ainda está acontecendo hoje em vários sites pornográficos de streaming gratuito — e não apenas no Pornhub", diz Kate Isaacs, do Not Your Porn, um grupo que investiga sites pornográficos. "Não há nada que possamos fazer em relação a sites pornográficos desonestos menores criados por indivíduos, mas sites comerciais grandes como o Pornhub precisam ser responsabilizados e eles não estão sendo. Nenhuma lei se aplica a eles." 

Muitos desses vídeos de conteúdo sexual publicados sem o consentimento das pessoas envolvidas são publicados no contexto da chamada pornografia de vingança — a distribuição, principalmente online, de imagens ou vídeos sexualmente explícitos com o objetivo de causar angústia ou constrangimento.
O material normalmente é exposto por um ex-parceiro, mas também pode ter sido roubado do arquivo digital da vítima ou de sistemas de armazenamento em nuvem.

A pornografia de vingança é crime na Inglaterra e no País de Gales desde 2015 e atualmente é punível com prisão de até dois anos. No entanto, as plataformas que compartilham esse conteúdo não foram responsabilizadas até o momento.

No Brasil, a conduta passou a ser considerada crime em 2018. Foi inserida no Código Penal a figura do crime de divulgação de cena de estupro ou de cena de sexo ou pornografia.

Um dos artigos prevê como condutas criminosas atos de oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir, vender ou expor à venda, distribuir, publicar ou divulgar, por qualquer meio, fotos, vídeo ou material com conteúdo relacionado à pratica do crime de estupro, ou com cenas de sexo, nudez ou pornografia, que não tenham consentimento da vítima.

A pena prevista é de 1 a 5 anos de reclusão. Se for comprovada a pornografia de vingança, ela pode aumentar a pena em até dois terços. 

"Os sites pornográficos sabem que existe conteúdo perturbador e não consensual em suas plataformas", diz Kate Isaacs. "Eles sabem que não há como diferenciar a representação de fantasia ou cenários de produção falsos de um abuso real."

Ela criou o Not Your Porn quando um vídeo sexual de um amigo dela (que tinha menos de 16 anos na época) foi colocado no Pornhub. Kate diz que mais de 50 mulheres no Reino Unido a procuraram nos últimos seis meses para dizer que vídeos sexuais seus foram postados sem o consentimento delas em sites pornográficos. Trinta deles foram enviados para o Pornhub.

Ela também ressalta que o Pornhub e outros sites permitem que os espectadores baixem vídeos em seu próprio computador — mesmo que o vídeo seja retirado de um site, é fácil para qualquer um desses usuários compartilhá-lo ou enviá-lo novamente para outro.

A Not Your Porn está em campanha por leis no Reino Unido que tornariam o compartilhamento de vídeos pornográficos não consensuais um crime.

Rose tem esperança. Aos 20 anos, ela conheceu o namorado, Robert, que, segundo ela, a ajudou a discutir e a lidar com o abuso. Ela espera que eles se casem e tenham uma filha. 

"Em muitos sentidos, vivo uma sentença de prisão perpétua", diz Rose. "Mesmo agora eu me pergunto se um estranho viu meu vídeo."

Mas ela não quer mais ficar calada, diz.

Leia as Parte 1Parte 2

Fonte:BBC Brasil

Nenhum comentário:

Postar um comentário