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sexta-feira, 22 de novembro de 2019

Mulher negra trabalha quase o dobro do tempo para obter salário de homem branco

Análise do Dieese mostra que população negra trabalha mais e ganha menos e que as mulheres são as mais afetadasA população negra no Brasil ainda sofre com condições desiguais no mercado de trabalho. Além do nível de desocupação maior, aqueles que conseguem uma vaga de emprego trabalham mais e recebem menos. A distância entre brancos e negros passa também pela escolaridade e por postos de trabalho ocupados – que influenciam, por exemplo, a mobilidade para cargos de chefia, liderança ou comando.
A população negra no Brasil ainda sofre com condições desiguais no mercado de trabalho. Além do nível de desocupação maior, aqueles que conseguem uma vaga de emprego trabalham mais e recebem menos. A distância entre brancos e negros passa também pela escolaridade e por postos de trabalho ocupados – que influenciam, por exemplo, a mobilidade para cargos de chefia, liderança ou comando.
A análise foi sistematizada pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na última terça-feira (19)
Divididos por gênero, raça-etnia e região do país, os dados do segundo trimestre deste ano são traçados em um ponto a ponto em torno do racismo e machismo no Brasil. Uma mulher negra, por exemplo, precisa trabalhar 55 minutos a mais para recolher o mesmo que um homem branco ganha em uma hora. Já para os homens negros, o número é de 45 minutos a mais de trabalho.
“Os dados comprovam um sentimento que está posto na sociedade de que existe uma desigualdade enorme no mercado de trabalho quando nós olhamos entre negros e não negros. Com o recorte também de gênero essa desigualdade se aprofunda ainda mais”, argumenta a economista Patrícia Pelatieri, coordenadora de pesquisas do Dieese. 
O rendimento médio por hora trabalhada também apresenta desigualdades de gênero e raça-etnia. Enquanto a média entre os negros é de R$ 11 para homens e R$ 10 para mulheres. Para pessoas brancas é de R$ 19 para homens e R$ 17 para mulheres. 
"Em todos os estados do Brasil, os negros recebem menos do que os não negros. Em alguns lugares mais, em outros menos. Mas, a média é de 30% menos em comparação com os não negros", comenta Pelatieri. 
"Olhando a evolução do rendimento, nós temos, entre 2014 e 2019, uma pequena melhoria para os negros na população ocupada total. Mas, na população ocupada com ensino superior há uma queda de 13% no rendimento, o que é bastante significativo. Ou seja, os postos de trabalho estão exigindo mais e pagando menos", completa a economista do Dieese. 


O levantamento "Desigualdades Sociais por Cor ou Raça no Brasil", divulgado pelo IBGE no último dia 13, também mostrou que, pela primeira vez, a população autodeclarada preta ou parda passou a representar mais da metade (50,3%) dos estudantes de ensino superior da rede pública. Os dados se referem ao ano de 2018. 
Apesar desse avanço, no mercado de trabalho a situação é precária. No item “com ensino superior em função que exige a formação”, por exemplo, a população negra conta com rendimento médio por hora de R$ 34 para homens e R$ 24 para mulheres. O valor para homens brancos é de R$ 47 e de R$ 35 para mulheres não negras. 
A taxa de desocupação de mulheres negras é de 16,7% enquanto a de homens brancos, por exemplo, fica em 8,2%. Com referência à população total do país, os negros empregados com ensino superior estão na margem de 35,3% ao passo de 64,7% para os brancos. 
No Brasil, apesar de a população negra ser maioria (56,1%), a desigualdade de oportunidades se repete nas cinco regiões e em todos os estados. Em São Paulo, por exemplo, enquanto uma mulher negra ganha R$ 10,82 como rendimento médio por hora, um homem branco angaria R$ 21,84.
Reforma trabalhista 
Pelatieri argumenta que as desigualdades, presentes em todos os estados brasileiros, vinham reduzindo, mas voltaram a se subir a partir de 2014-2015, com o aprofundamento da crise econômica.
Para ela, o cenário do mercado de trabalho não é otimista para nenhum segmento, tendo em vista as últimas políticas implementadas, como a reforma trabalhista em vigor desde novembro de 2017. "Nós vemos um novo ataque do governo [de Jair] Bolsonaro [PSL] e do ministro [da Economia Paulo] Guedes para flexibilizar e retirar ainda mais direitos. Neste caso, você prejudica ainda mais quem está em situação vulnerável, que é o caso dos negros e negras. Então, as perspectivas não são nada animadoras", conclui.

Fonte: Brasil de Fato 

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