Estado registra média diária de 55 ataques nas instituições de ensino. 'Temos que propor políticas para que as escolas possam formar cidadãos', defende diretor do Sind-UTE
O dia deveria ser de festejar, mas a realidade nas
escolas é motivo de preocupação e reflexão. No Dia dos Professores,
comemorado ontem, chama a atenção a realidade com a qual educadores têm de
lidar e que vai muito além do ensino. Casos de violência já
fazem parte do cotidiano escolar e não são raros os relatos de agressões
de estudantes contra professores ou depredações das escolas. Esse cenário
expõe a desvalorização dos profissionais que zelam pela educação. Em Belo
Horizonte, a violência aumentou 6,3%, nos primeiros oito meses de 2019, em
relação ao mesmo período de 2018.
No estado, mesmo apresentando diminuição, os casos
impressionam, com uma média de 55 por dia, ou seja, dois a cada hora.
Dados da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp) mostram
que, de janeiro a agosto deste ano, foram 13.334 ocorrências de
infrações em instituições de ensino público municipal, estadual,
federal e particular, além de creches, que envolvem danos a pessoas, entre eles
ataques a professores e ao patrimônio.
De acordo com Paulo Henrique Santos Fonseca,
diretor estadual do Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação de Minas Gerais
(Sind-UTE) e professor da rede pública há 13 anos, o problema da violência
nas escolas é reflexo do que acontece na sociedade. "A violência que
está na sociedade como um todo também vai parar dentro da sala de aula",
declara. Para ele, o desrespeito dos alunos e a falta de atenção nas aulas são
alguns dos problemas. "Isso abre as portas em um primeiro momento para as
agressões verbais", comenta.
Ele alerta que a violência dentro e fora do
ambiente escolar ocorre em todas as regiões do estado, portanto não é um
desafio a ser enfrentado apenas por educadores, pais e alunos. "É uma
questão social. Temos que fazer uma ação conjunta para propor
políticas públicas para que as escolas possam cumprir seu verdadeiro papel, que
é formar cidadãos", destacou.
"É uma questão social. Temos que propor
políticas públicas para que as escolas possam cumprir seu verdadeiro papel, que
é formar cidadãos"
Paulo
Henrique Santos Fonseca, diretor do Sind-UTE
Casos de violência em escolas de Minas Gerais
expõem a vulnerabilidade dos profissionais da educação. No
início deste mês, duas ocorrências chamaram a atenção, uma na capital mineira e
outra em Franciscópolis, na Região do Vale do Jequitinhonha. Em BH, um professor
idoso foi agredido dentro de uma sala da Escola Municipal Marlene
Pereira Rancante, no Bairro Alípio de Melo, Região da Pampulha. Um menino de 12
anos jogou uma caixa de plástico na cabeça do docente, que precisou ser levado
a um hospital. Já em Franciscópolis, uma professora foi agredida com socos,
chutes e puxões de cabelo. A violência foi cometida pela mãe de uma aluna.
Dados da Secretaria de Estado de Justiça e
Segurança Pública (Sejusp) mostram que esses não são episódios isolados. Entre
janeiro e agosto desse ano, as 13.334 ocorrências registradas em Minas Gerais
mostram apenas um leve recuo em relação aos 13.364 registros do mesmo período
de 2018. Em Belo Horizonte e cidades da região metropolitana, as ocorrências
estão em alta. Foram 2.049 infrações na capital, contra 1.947, no ano passado.
Na Grande BH, são 1.768 neste ano, contra 1.663, do período anterior.
Para o diretor estadual do Sind-UTE, os educadores
vêm sendo feitos reféns do medo, porque não há políticas públicas para a
segurança nas escolas. Ele acredita que os alunos causadores da violência não
são assistidos como deveriam e os professores são mal remunerados. "A
solução não é colocar mais policiamento nas escolas e instalar detectores de
metal. Precisamos de uma equipe multidisplinar, com psicólogos e assistentes
sociais que darão assistência não só para alunos, mas também aos
professores", afirma Paulo Fonseca.
Segundo o professor, favorecer uma cultura de paz
nas escolas não se limita à eliminação da violência física. Ele acredita que a criação
de espaços democráticos que ensinem aos estudantes como conviver com as
diferenças e ações que promovam o protagonismo juvenil são
importantes. "Precisamos substituir a repressão por meios que facilitem a
convivência entre as pessoas. Temos à nossa frente uma luta que não é só pela
categoria, mas pelo compromisso com a aprendizagem", finaliza.
Fonte: Jornal Estado de Minas
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