Correa pede novo pleito, "em estrito apego à Constituição, que
permite adiantar eleições em caso de grave comoção social"; segundo ele,
"problema é que sabem que a resposta que dará o povo será mais contundente
do que a que estão dando nas ruas"
O
ex-presidente do Equador, Rafael Correa, pediu nesta terça-feira (08/10) a
renúncia do atual mandatário, Lenín Moreno, e a convocação de eleições
antecipadas no país, que enfrenta uma onda de manifestações populares contra o
governo do atual líder.
Mais cedo,
pelo Twitter, Correa postou um vídeo de repressão a manifestantes na ponte de
São Roque, no sudoeste de Quito, e pediu a saída de Moreno. “Por favor, Moreno,
renuncie! Não faça mais isso à nossa gente! #SOSEquador”
Pouco tempo
depois, na mesma rede social, Correa postou um vídeo em que pede a convocação
de um pleito antecipado no Equador.
“Agora, nos
chamam de golpistas, mesmo que quem sempre tenha destroçado a Constituição e
democracia sejam eles. Dois anos depois da pior perseguição política [que houve],
entendamos que aqui não há golpismo. Conflitos na democracia se resolvem nas
urnas. E é precisamente o que pedimos, em estrito apego à Constituição, que
permite adiantar eleições em caso de grave comoção social, como a que estamos
vivendo. O problema é que sabem que a resposta que dará o povo, nas urnas, será
mais contundente do que a que estão dando nas ruas”, afirmou.
Para o
ex-presidente, nunca houve a necessidade de um pacote de ajuste econômico, tal
qual Moreno firmou com o FMI (Fundo Monetário Internacional). “Nunca houve
necessidade de um ‘paquetaço’. Não caiu o preço do petróleo, não ocorreu nenhum
desastre natural, nada. É pura corrupção e inapetência - enquanto eles reduzem
seus impostos. Minha solidariedade com todas as vítimas da mais brutal
repressão que minha geração recorda.”
Moreno foi
vice de Correa e candidato à presidência com o apoio do hoje ex-mandatário -
que se diz arrependido da escolha. “Equivoquei-me com Moreno, o maior farsante
de nossa era. Não me equivoquei quando disse-lhes que tudo era questão de
tempo. E que nosso povo, paciente, mas nunca ausente, prudente, mas jamais
covarde, despertaria com a força de um furacão.”
Lo qué pasó en el puente de San Roque.— Rafael Correa (@MashiRafael) October 8, 2019
¡Por favor, Moreno, renuncia! ¡Ya no le hagas esto a nuestra gente!#SOSEcuador pic.twitter.com/v93PvP2TK8
Desde
que deixou o governo, Correa, que mora em Bruxelas, acusa o governo de Moreno
de perseguição e corre o risco de ser preso caso volte ao Equador - a Justiça
do país não aceitou que o ex-presidente depusesse na embaixada equatoriana na
Bélgica sobre um processo de sequestro que corre contra ele, em que pese a
falta de provas e de envolvimento do político.
Crise no Equador
As
manifestações no Equador começaram logo após o presidente anunciar o fim dos
subsídios nos combustíveis, devido ao acordo de US$ 4,2 bilhões firmado em
fevereiro com o FMI, que prevê reformas tributárias, trabalhistas e monetárias
no país.
Os protestos
levaram Moreno a decretar um estado de
exceção em todo o país, por 60 dias. Pelo menos 379 pessoas
foram presas desde a noite da última quinta (03/10) – dentre os quais, vários
líderes dos sindicatos de transporte.
Segundo
a polícia equatoriana, já foram presas mais de 470 pessoas, incluindo líderes
de movimentos populares e dirigentes sindicais.
Os sindicatos
de trabalhadores e o movimento indígena do Equador, junto a outros grupos da
sociedade civil organizada, convocaram no último sábado (05/10) uma greve a
nível nacional para o próximo dia 9 de outubro e anunciaram um estado de mobilização
permanente até que Moreno desista do pacote de arrocho econômico.
Leia a transcrição do vídeo de Correa:
Queridos compatriotas,
Destroçaram a pátria. Mas nos levantaremos, seguiremos em
frente. Desta duríssima lição, todos devemos aprender: nossos jovens não
conheceram o velho país. Alguns outros o esqueceram. Agora, ele está de volta.
Que jamais nos voltem a enganar. Que jamais voltem a colocar em nós tanto ódio,
tanta história.
Nunca houve necessidade de um ‘paquetaço’. Não caiu o preço do
petróleo, não ocorreu nenhum desastre natural, nada. É pura corrupção e
inapetência - enquanto eles reduzem seus impostos. Minha solidariedade com
todas as vítimas da mais brutal repressão que minha geração recorda.
O dano ao país é imenso. Não só ao interior, mas sim a seu
prestígio internacional. Nunca se esqueçam do papel da imprensa e dos cúmplices
desta ditadura. [O ex-prefeito de Guayaqui, Jaime] Nebot, [o ex-candidato à
Presidência Guillermo] Lasso, [o ex-presidente Abdalá] Bucaram, a esquerda
falsária. Por ódio e temor a Correa, permitiram o pior governo da
história.
Agora, nos chamam de golpistas, mesmo que quem sempre tenha
destroçado a Constituição e democracia sejam eles. Dois
anos depois da pior perseguição política [que houve], entendamos que aqui não
há golpismo. Conflitos na democracia se resolvem nas urnas. E é precisamente o
que pedimos, em estrito apego à Constituição, que permite adiantar eleições em
caso de grave comoção social, como a que estamos vivendo. O problema é que
sabem que a resposta que dará o povo, nas urnas, será mais contundente do que a
que estão dando nas ruas.
Equivoquei-me com [Lenín] Moreno, o maior farsante de nossa era.
Não me equivoquei quando lhes disse que tudo era questão de tempo. E que nosso
povo, paciente, mas nunca ausente, prudente, mas jamais covarde, despertaria
com a força de um furacão.
Recuperaremos a pátria. Voltaremos a fazê-la próspera e feliz,
orgulho de seus filhos, exemplo para o mundo.
Os dias de glória voltarão. Até a vitória sempre, companheiros!
Fonte: Opera Mundi
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