Há estradas e ruas bloqueadas em
várias cidades, os transportes estão em greve geral por tempo indeterminado, e
as aulas foram suspensas em todo o país
O Governo do Equador decretou
o estado de exceção nesta quinta-feira para enfrentar os protestos causados
pela alta do preço do combustível. Com essa medida, que irá vigorar por 60 dias
em todo o território nacional, o presidente Lenín Moreno pretende
"garantir a segurança" perante os "focos localizados" de
violência. Desde a meia-noite desta quarta-feira não há transporte, e as aulas
foram suspensas em todo o Equador. Na manhã de quinta, os manifestantes
elevaram o tom dos protestos, queimando pneus para bloquear ruas e estradas em
várias cidades. Houve investidas policiais na capital, e militares foram
mobilizados na sede do Governo, o palácio de Carondelet. As autoridades disseram
que 19 pessoas foram presas em todo o país, sendo pelo menos 5 acusadas do
crime de paralisação de serviços públicos.
A onda de
mobilizações é uma reação ao aumento do preço do diesel e da gasolina
aditivada, por causa da eliminação de um subsídio estatal. A medida, com a qual
o Governo pretende economizar 1,4 bilhão de dólares (mais de 5,7 bilhões de
reais) por ano, é parte de um pacote de ajustes anunciado pelo presidente na
noite de terça.
“Quero insistir em
que as medidas anunciadas na terça-feira estão mantidas, especialmente as
relacionadas com um subsídio perverso que estava causando muito dano ao país e
que distorcia a economia", afirmou o mandatário equatoriano ao anunciar o
estado de emergência em uma entrevista coletiva. “A fim de controlar os que
desejam impor o caos, dispus o estado de exceção em nível nacional. Os direitos
se exigem, [mas] sem prejudicar”, recriminou o presidente.
O novo preço do
combustível começou a vigorar à meia-noite desta quarta, ao mesmo tempo em que
tinha início uma greve geral dos transportes. Nem os ônibus urbanos, nem
interprovinciais, nem guinchos, nem vans escolares nem táxis. A convocação,
feita em princípio para esta quinta-feira, já foi prorrogada pelos
representantes dos trabalhadores de forma indefinida.
“Esta medida é
indefinida. Espero que o presidente tome a decisão correta. Sei que esta
suspensão vai prejudicar o povo equatoriano, mas exigimos nossos direitos”,
anunciou, pelas redes sociais, Abel Gómez, presidente da
Federação Nacional de Cooperativas de Transporte Interprovincial de Passageiros
(Fenacotip).
Diante da
convocação de greve geral dos transportes, na noite de quarta o Governo
anunciou a suspensão das aulas e enviou um aviso a um previsível aquecimento
dos protestos. “A decisão tomada pelo Governo é crucial para o presente e o
futuro do Equador, e vamos defendê-la”, dizia o comunicado oficial. “Se for
necessário, invocaremos as normas constitucionais e legais que proíbem a
paralisação de serviços públicos”, advertia o boletim da Presidência.
A gasolina extra
subiu de 1,85 dólares para 2,22 dólares por galão (ou seja, de 1,66 para 1,98
reais por litro). O diesel, combustível habitual para o transporte de
mercadorias, estava entre 1 dólar e 1,37 dólar por galão (de 0,90 a 1,23 real
por litro), dependendo do tipo, e agora sobe a quase o dobro, chegando a pouco
mais de 2,10 dólares por galão (1,89 real por litro).
O Secretário
Particular da Presidência, Juan Sebastián Roldán, reiterou nesta quinta-feira
que a retirada das ajudas estatais ao consumo de combustíveis é irrevogável. E
afirmou que o Executivo não aceitará “chantagens”. “Agora são os equatorianos
quem têm que decidir que país querem. Se cedemos aos grupos que querem
chantagear o país, ou se os chamamos para que também empurrem o carro conosco”,
propôs o secretário numa entrevista à imprensa local. O vice-presidente do
país, Otto Sonnenholzner, já tinha pedido “compreensão” aos equatorianos uma
semana antes do anúncio das medidas.
Fonte: El País
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