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quinta-feira, 2 de maio de 2019

Pró-Esia: Fábrica de Versos... O dia chegou: o rock entrou na mira das autoridades

Parece que foi tudo orquestrado, com ação deliberada para chocar, intimidar e encolerizar a plateia. Essa é uma explicação que muitos roqueiros estão encontrando para a crueldade cometida contra mais de 3 mil pessoas que se reuniram em um domingo ensolarado para curtir heavy metal gratuito em um evento beneficente.
Parece que foi tudo orquestrado, com ação deliberada para chocar, intimidar e encolerizar a plateia. Essa é uma explicação que muitos roqueiros estão encontrando para a crueldade cometida contra mais de 3 mil pessoas que se reuniram em um domingo ensolarado para curtir heavy metal gratuito em um evento beneficente.

De forma inacreditável e absurda, fiscais da Prefeitura de São Paulo esperaram até o último segundo para impedir o show tributo a Ronnie James Dio, cantor que morreu em abril de 2010.

Músicos paulistanos se reuniram na Heaven and Hell Dio Tribute para lembrar os nove anos da morte do ídolo resolveram fazer o evento na rua, na avenida Paulista, no domingo 28 de abril, quando a via fecha para o lazer até as 17h. O evento foi divulgado por um mês nas redes sociais e atraiu pelo menos 3 mil pessoas, segundo os organizadores.

"Chegamos cedo, pela manhã, e montamos todo o equipamento. Tivemos todo o cuidado de procurar a prefeitura antes para nos adequarmos às normas. Cumprimos tudo e ainda assim fomos impedidos de tocar e fazer o evento minutos antes das 14h30. Esperaram tudo ficar pronto para comunicar a ordem de cancelar tudo", escreveu nas redes sociais Marcelo Saracino, um dos organizadores.

Envergonhado e constrangido, teve de comunicar a multidão o cancelamento. Pior: não conseguiu saber o motivo, pois os fiscais não sabiam o porquê. Segundo Saracino, disseram apenas que cumpriam ordens da Prefeitura Regional da Sé. E até o começo da tarde desta terça-feira ninguém havia explicado a razão do cancelamento. 
Depois de algumas horas de espera, a Secretaria das Subprefeituras (há pouco tempo Secretaria das Prefeituras Regionais) respondeu aos questionamentos do Combate Rock sobre o ocorrido.

Contradizendo os organizadores, a nota da prefeitura informa que o show não tinha autorização para ser realizado, "pois desrespeitava um TAC (Termo de Ajustamento de Conduta) firmado entre a prefeitura e o Ministério Público que estabelece que a realização de eventos públicos e temporários com mais de 250 pessoas em espaços públicos ou privados requerem a a expedição de alvará de autorização". 
Os organizadores, contudo, reiteram que tinham todas as autorizações requeridas pela Prefeitura de São Paulo, em um trâmite que, segundo eles, teria demorado mais de 20 dias.

A nota da prefeitura não faz alusão ao desrespeito por parte dos agentes e a recusa destes em informar o que realmente estava acontecendo para justificar o cancelamento a poucos minutos do começo do evento.

 "Clique aqui para ler na íntegra a nota enviada pela Prefeitura de São Paulo ao Combate Rock."

E a coisa fica ainda muito pior quando se constata que foi o único evento daquela tarde cancelado. A poucos metros do local do evento, outras duas bandas de rock tocavam sem serem incomodados. Mais de 50 músicos tocaram no domingo desde as 9h e não se tem notícias de que um único tenha sido impedido de tocar.

Seja qual for a explicação da prefeitura, o que aconteceu já configura como uma das atitudes mais vergonhosas de uma administração municipal contra a cultura. 
Infelizmente, o Combate Rock já vem alertando desde o ano passado a respeito das atitudes arbitrárias e intimidatórias por parte de fiscais e policiais militares contra alguns músicos e iniciativas. Alertávamos que iria piorar. 
Estávamos certos. A suposta fiscalização cometeu um desatino ainda mais revoltante do que as ações que vinham sendo observadas desde que João Doria (PSDB) assumiu, em 2017. A coisa não mudou na administração do sucessor, Bruno Covas, do mesmo partido.

Há dois meses, uma banda de blues rock foi impedida de tocar na avenida, em um domingo a tarde, por supostamente incomodar um suposto embaixador da Itália que estaria no prédio do consulado. 
A banda tocaria em frente, mas policiais militares deram explicação esdrúxula para interromper a música antes do primeiro minuto do show, quase em frente ao prédio do consulado. Tanto a PM paulista quanto o consulado italiano não responderam aos questionamentos do Combate Rock. E ficou por isso mesmo.

 "Tenho ouvido relatos frequentes de músicos e artesãos da Paulista que a 'fiscalizacao' e a PM têm abordado pontualmente e seletivamente para intimidar e atormentar. Criam tensão impedindo os shows e ameaçando apreender produtos e equipamentos. E tudo isso sem explicação alguma. Sem critério. Uma banda não pode tocar e tem de ir embora, mas duas ou três, a 15 metros de distância, tocam sem ser incomodadas. Quase sempre os alvos são bandas de rock ou grupos de rap", contou um guitarrista de banda de metal que toca todo domingo na avenida Paulista. Ele pediu para não ser identificado.

O impedimento do show perto do consulado gerou certa indignação nas redes sociais, mas a repercussão foi discreta, infelizmente. Agora a situação tomou outras proporções, não só pela postura vergonhosa dos fiscais de exigir o cancelamento do evento sem a menor explicação, ao menos naquele momento, mas principalmente pela "seletividade" da medida. Dezenas de artistas não foram incomodados na avenida, e só o tributo a Dio teve de ser cancelado? Organizadores do evento e fãs de rock que sentiram lesados tentam se articular para resistir e dar alguma resposta para o cancelamento arbitrário do evento de heavy metal. 

Da forma como tudo aconteceu, com certa truculência, intimidação e nenhuma justificativa dada aos organizadores e ao público, fica difícil não especulação a respeito (na verdade, falta de) do profundo preconceito que perdura em relação ao rock – coisa exacerbada desde campanha eleitoral de 2018, piorando com a vitória de candidatos conservadores em vários lugares, a começar pelo presidente..

Estamos alertando contra os ataques a cultura, às artes e ao conhecimento desde que começaram as transições dos governos federal e estaduais eleitos no ano passado.  Os governos de São Paulo e da capital paulista estão inseridos neste contexto conservador, mas houve um pequeno alento no primeiro trimestre quando o governador João Doria, provavelmente preocupado com a má repercussão de algumas intenções, tenha anunciado a revisão de algumas medidas ou mesmo desmentido informação a respeito de cortes orçamentários e encerramento de projetos culturais.

Também houve um pingo de esperança quando o prefeito Covas e seu secretário de Cultura, Alê Youssef, se manifestaram muito preocupados com as mudanças absurdas e catastróficas na Lei Rouanet determinadas pelo presidente Jair Bolsonaro, medidas que vão dizimar parte expressiva da produção cultural. Com ações desastradas (para ser elegante) como o cancelamento do tributo a Dio, ressurgem as velhas desconfianças de que a prefeitura se incomoda com determinadas ações e eventos culturais, sendo impossível, talvez, controlar os instintos conservadores e arbitrários de alguns de seus integrantes. O que dizem agora aqueles que acharam exagerados os temores de que o rock não seria alvo das políticas conservadoras pouco tolerantes com a cultura?

Fonte: Combate Rock

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