Anticorpos são proteínas produzidas pelas células brancas do organismo. Elas atuam na defesa contra toxinas, vírus e bactérias ao se ligar à sua superfície.
Quando se ligam às bactérias e vírus, os anticorpos podem impedir seu movimento através das paredes das células e barrar sua atuação e propagação. Um grande número de anticorpos também pode se ligar a um invasor e sinalizar que o corpo precisa se livrar dele.
Em parceria com o laboratório francês Sanofi, pesquisadores do National Institutes of Health, uma instituição de pesquisa do governo americano, anunciaram no dia 20 de setembro que planejam testar uma combinação de características de três tipos de anticorpos para combater o vírus do HIV em um único anticorpo. Esse tipo de anticorpo é chamado de “triespecífico”.
Os testes devem ocorrer até o final de 2018 e, caso tenham sucesso, podem resultar no futuro em um tratamento de longa duração ou mesmo uma vacina contra o vírus. As entidades não falam na perspectiva de cura do HIV.
Atualmente não há uma vacina contra o vírus, mas há coquetéis de medicamentos que barram seu avanço, impedem que o sistema imunológico da pessoa infectada seja debilitado e que ela desenvolva a Aids (sigla em inglês para síndrome da imunodeficiência humana adquirida).
Eles diminuem a quantidade de vírus em circulação no sangue até um ponto em que a pessoa infectada se torna incapaz de transmiti-lo. Está em circulação também um medicamento que serve como prevenção e diminui significativamente a chance de contaminação pelo HIV. Esse remédio é conhecido pelo nome comercial de Truvada e é disponibilizado desde junho pelo Sistema Único de Saúde, mas até o momento apenas para um número reduzido de usuários.
O tratamento que será testado em 2018 em humanos teve sucesso em impedir que macacos fossem infectados por dois tipos de HIV. Os resultados foram publicados em setembro de 2017 na revista acadêmica Science.
Os testes clínicos a serem realizados em humanos são de fase 1, o que significa que eles focam em grupos pequenos e têm como objetivo medir a segurança e potencial de dano sobre o corpo humano. Esse tipo de teste não é capaz de confirmar se a técnica funciona de forma generalizada, como seria desejável para liberá-la para aplicação em grandes populações.
Para que um eventual tratamento chegue a um público amplo, ainda seriam necessários testes com grupos maiores em duas outras fases. Ou seja, uma eventual aplicação da técnica ainda demorará, mesmo se ela tiver bons resultados nesse primeiro momento.
Segundo informações do National Institutes of Health, os planos são realizar testes em pessoas saudáveis e verificar se a ferramenta é capaz de impedir infecções por HIV.
Há negociações para testar a técnica também em pessoas infectadas e observar se ela serve como tratamento contra o vírus, assim como ocorre hoje com os coquetéis de medicamentos contra HIV.
O anticorpo triespecífico
A combinação de características de três anticorpos é uma técnica nova. Ela pode se provar especialmente valiosa contra o HIV porque esse vírus tem uma grande variedade genética, o que o torna resistente a tratamentos.
Cada uma das variedades de anticorpos combinadas é capaz de combater diversas linhagens específicas do vírus. Unidas, elas têm o potencial de se ligar a três tipos de alvos diferentes ao mesmo tempo, o que pode aumentar sua efetividade.
“Anticorpos triespecíficos mostraram uma potência e alcance maior do que qualquer tipo de anticorpo descrito separadamente [...] e conferiram imunidade completa contra uma mistura de tipos de HIV em primatas não humanos”, afirma o trabalho.
Segundo o mesmo documento, é possível que, futuramente, anticorpos triespecíficos sejam utilizados para tratar outras doenças, como infecções bacterianas, câncer e doenças autoimunes.
Os testes em macacos
Para chegar à potencial nova arma contra o HIV, os pesquisadores testaram dezenas de combinações de anticorpos biespecíficos, ou seja, que combinavam duas variedades, além dos triespecíficos, que combinavam três.
Ao final, a fórmula com maior sucesso é triespecífica. Ela une estruturas que vêm dos anticorpos VRC01, PGDM1400 e 10E8v4, que atuam contra o HIV.
Até o momento, a terapia teve sucesso quando aplicada em macacos contra tipos de HIV que atingem esses animais. Nos testes, os pesquisadores aplicaram os anticorpos VRC01 em oito macacos, PGDM1400 em outros oito e a combinação de VRC01, PGDM1400 e 10E8v4 em outros oito.
Após cinco dias, todos os 24 macacos foram expostos a duas variedades de HIV. Dos 8 que receberam tratamento apenas com PGDM1400, cinco se infectaram com HIV. Dos 8 que receberam tratamento com VRC01, seis se infectaram com o vírus. Mas nenhum dos que receberam a combinação de três anticorpos foi infectado.
Fonte: Nexo
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