Sem esconder suas visões racistas e homofóbicas, mas ironicamente batizado em homenagem a George Washington e Abraham Lincoln, dois dos mais liberais presidentes dos Estados Unidos, George Lincoln Rockwell é um nome controverso na história americana.
Em 1959, o ex-comandante da Marinha Americana tentou organizar uma marcha em Nova York para celebrar o aniversário de Adolf Hitler - sim, o mesmo inimigo que os americanos haviam ajudado a derrotar cerca de 15 anos antes.
Mas apesar de o fundador do Partido Nazista Americano ter sido assassinado por um de seus seguidores, em 1967, e de o partido ter caído no esquecimento, sua retórica sobrevive.
Mas apesar de o fundador do Partido Nazista Americano ter sido assassinado por um de seus seguidores, em 1967, e de o partido ter caído no esquecimento, sua retórica sobrevive.
Algo exemplificado pela manifestação de grupos de extrema direita na cidade de Charlottesville, no último dia 12. E, no último dia 25, na cidade de Arlington, um grupo de neonazistas celebrou o 50º aniversário de morte de Rockwell.
Ódio
Ao contrário de muitos adeptos da extrema direita americana, George Lincoln Rockwell não era da classe operária branca.
Estudou na prestigiosa Universidade Brown e serviu como oficial da Marinha na Segunda Guerra Mundial e na Guerra da Coreia.
Em 1955, já veiculava abertamente suas críticas à integração racial e logo adotou também o discurso antissemita e anticomunista.
E deixou sua simpatia ao nazismo clara ao colocar uma suástica na parede da sala de sua casa. Apesar de seu plano de marchar em Nova York ter fracassado, em 1961 ele dirigiu pelos Estados do sul dos EUA uma kombi batizada de "Ônibus do Ódio", em reposta ao "Ônibus da Liberdade", que transportava pela região ativistas de direitos civis.
Em 1963, Rockwell organizou uma manifestação em oposição à icônica marcha por direitos civis convocada pelo líder negro Martin Luther King Jr. em Washington.
Mas enquanto King discursou para 200 mil pessoas, o evento do Partido Nazista foi "prestigiado" por menos de 90 pessoas, incluindo agentes de inteligência infiltrados.
Ainda assim, Rockwell tinha um instinto para encenações e esse foi o legado mais importante que ele deixou para novos grupos neonazistas de extrema direita.
Suas estratégias para insuflar a mídia, como fazer discursos em universidades, promover enfrentamentos com grupos opositores e levantar debates sobre liberdade de expressão e a conservação do patrimônio histórico, estão sendo copiadas hoje em dia.
A manifestação em Charlottesville, por exemplo, foi convocada em protesto contra decisão de retirar de uma praça pública uma estátua erguida em homenagem a um general confederado - o lado da Guerra Civil Americana (1861 a 1865) que defendia a manutenção da escravidão.
Entre os discípulos de Rockwell está o supremacista branco David Duke, um dos atuais "gurus" da extrema direita americana e que esteve presente em Charlottesville.
Paralelos
En 1960, Rockwell apoiou a candidatura do republicano Richard Nixon à Presidência. No ano passado, Duke adotou postura semelhante e endossou Donald Trump.
Nixon repudiou publicamente o apoio de Rockwell, mas Trump foi mais lento tanto em se distanciar de Duke como para condenar as ações da extrema direita em Charlottesville.
Não há uma linha direta entre o partido fundado por Rockwell e os novos grupos neonazistas, mas alguns militantes se inspiraram nele.
Matthew Heimbach, de 26 anos, líder do grupo neonazista Partido Tradicionalista Trabalhista, e que também participou da marcha em Charlottesville, disse ter sido inspirado pelos discursos de Rockwell.
"Foi um dos melhores oradores do século 20. Um verdadeiro políticio nacional-socialista", disser Heimbach, em entrevista ao jornal britânico The Guardian.
O projeto político de George Lincoln Rockwell foi delirante, mas ao mesmo tempo ele foi habilidoso em converter o discurso racista e antissemita em um espetáculo midiático - além de inspirar novas correntes ultranacionalistas na atual era de comunicação de massa instantânea.
Fonte: BBC
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