Impossibilidade do desejo dos dirigentes sionistas abriu espaço para a solução em vigência: guerra e expulsão permanente dos nativos palestinos
Passou desapercebido de quase todos no Brasil uma surpreendente revelação feita em maio deste ano.
A desclassificação de arquivos confidenciais israelenses sobre o período da Guerra dos Seis Dias de 1967 revelou um desejo do então primeiro-ministro de Israel, Levi Eshkol, de despachar para o Brasil os milhões de palestinos habitante dos territórios ocupados na guerra. “Se dependesse de nós, gostaríamos de enviar todos os árabes para o Brasil“, afirmou Eshkol durante reunião do gabinete de segurança em 15 de junho de 1967.
A desclassificação de arquivos confidenciais israelenses sobre o período da Guerra dos Seis Dias de 1967 revelou um desejo do então primeiro-ministro de Israel, Levi Eshkol, de despachar para o Brasil os milhões de palestinos habitante dos territórios ocupados na guerra. “Se dependesse de nós, gostaríamos de enviar todos os árabes para o Brasil“, afirmou Eshkol durante reunião do gabinete de segurança em 15 de junho de 1967.
A conversa sobre a continuação do processo de limpeza étnica na Palestina iniciado em 1948 não parou por ai. Ao que o ministro da Justiça, Yaacov Shimshon Shapira, objetou: “Eles são os habitantes desta terra e agora vocês os controlam. Não há nenhuma razão para expulsar os árabes e transferi-los para o Iraque“. E Eshkol respondeu: “Não seria um grande desastre (…) Nós não nos infiltramos aqui, o território de Israel é nosso por direito“.
Os arquivos nacionais israelenses publicaram para consulta pública milhares de documentos, gravações e depoimentos da guerra de 05 a 10 de junho de 1967, bem como das semanas anteriores e seguintes. Naqueles dias, Israel lançou um ataque preventivo contra Egito, Jordânia e Síria e acabou por ocupar os territórios da Península do Sinai, Faixa de Gaza, Cisjordânia e Colinas do Golã — todos, à exceção do Sinai, ainda sob o domínio israelense.
Militares israelenses, liderados por Dayan, caminham sobre
a Esplanada das Mesquitas após a ocupação de Jerusalém, em 1967
a Esplanada das Mesquitas após a ocupação de Jerusalém, em 1967
Na mesma reunião de 15 de junho de 1967, o ministro das Relações Exteriores da época, Abba Eban, alertou para um potencial “barril de pólvora” e os desdobramentos do regime de apartheid que Israel estabeleceu nos territórios ocupados.
“Aqui temos a presença de duas populações, uma beneficia de todos os direitos civis e a outra tem todos esses direitos negados”, declarou Eban. “É um quadro com duas classes de cidadãos que é difícil de defender, mesmo no contexto da história judaica. O mundo tomará partido do movimento de libertação deste um milhão e meio” de palestinos, acrescentou.
O MÁXIMO DE TERRAS COM O MÍNIMO DE ÁRABES
Os documentos não revelam o raciocínio por traz da escolha do Brasil como anfitrião escolhido pelos israelenses para receber os milhões de palestinos que viviam em Cisjordânia e Faixa de Gaza. O mais provável é que fosse apenas o local mais longe e vasto que Eshkol tenha conseguido pensar na hora. Em outra ocasião, o Canadá também teria sido cogitado. No entanto, os diálogos são reveladores de algumas interpretações que historiadores fazem sobre os dias que levaram à ocupação dos territórios palestinos.
Em primeiro lugar, mostra uma indecisão das lideranças sionistas sobre como realizar o antigo sonho sionista: o máximo de terras com o mínimo de árabes. Em segundo lugar, confirma, mais uma vez, o imperativo por traz das políticas israelenses para os palestinos: guerra e expulsão.
A conquista de toda a Palestina histórica sempre foi um objetivo dos pais fundadores do Estado sionista. Entretanto, sempre foi descartada pelo ônus de trazer consigo milhões de nativos palestinos, uma ameaça demográfica ao caráter judeu do Estado. A série de documentos desclassificados neste ano confirmam que, em 1967, os dirigentes sionistas deixaram de lado a razão que servia de constrangimento para os seus antecessores.
Militares e religiosos israelenses reúnem em frente ao Muro das Lamentações
para celebrar a conquista de Jerusalém, em 1967
para celebrar a conquista de Jerusalém, em 1967
Pressionado pelos militares, o gabinete do primeiro-ministro foi tomado pela euforia da oportunidade de tornar realidade a bíblica Terra de Israel, além de tomar para si o Muro das Lamentações, o que os israelenses lamentavam não terem conseguido na guerra de 1948. Os territórios conquistados eram ainda entendidos como uma cinturão de defesa contra os inimigos externos.
A confusão vista entre as principais lideranças israelenses em relação ao destino da população nativa palestina, também ocorreu no debate sobre o status da Cisjordânia. Nos dias seguintes à ocupação, os dirigentes sionistas cogitaram estabelecer um estado palestino, discutiriam a possibilidade de dar-lhes autonomia ou um estatuto temporário. A solução, entretanto, foi a permanência da guerra.
O conflito cotidiano possibilitou conciliar os interesses divergentes dos israelenses. Por meio dela, os sionistas obtiveram acesso ao máximo de terra, colonizando-a, enquanto manteve os habitantes palestinos excluídos do coeficiente demográfico, em um processo lento e gradual de expulsão e morte. Como resultado, os territórios palestinos estão submetidos ao mesmo raciocínio até hoje. Conforme avalia o historiador israelense Tom Segev, ainda estamos presos em 1967. O sétimo dia continua em curso.
Fonte: Opera Mundi
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