Mas agro também é bala, que junto à indústria da bala (armamentos, munição e segurança privada) está financiando o périplo do deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ) pelas cidades do Brasil para fazer palestras e campanha eleitoral.
Bolsonaro aparece em segundo lugar nas pesquisas de intenção de voto para a Presidência da República na eleição de 2018.
Bolsonaro aparece em segundo lugar nas pesquisas de intenção de voto para a Presidência da República na eleição de 2018.
Levantamento feito pelo DCM junto à imprensa, organizações do agronegócio no Mato Grosso e redes sociais do próprio deputado federal aponta que em 33 cidades visitadas, 16 tiveram patrocínio da “bala”, sete do agronegócio e dez de políticos, do partido e da cota parlamentar de Bolsonaro.
Outro destaque desses dados é que em 2016 Bolsonaro utilizou bastante dos contatos políticos para percorrer o Brasil em campanha, assim como a verba de gabinete que custeia viagens.
Foram oito cidades visitadas pelo Brasil com custos arcados pela área política, três pelo agronegócio e duas pela indústria da bala. Já nesse ano a cota parlamentar foi deixada de lado e as viagens passaram a sair dos bolsos da indústria da bala e segurança, com 14 viagens contra apenas uma da cota parlamentar.
O agronegócio bancou três passeios. Mas são para Mato Grosso, o estado do agronegócio onde Bolsonaro participou de debates em feiras do setor, que reúnem milhares de pessoas.
De dezembro de 2016 a abril último, Bolsonaro utilizou cerca de R$ 22 mil de sua verba parlamentar na Câmara para viajar a vários pontos, segundo a Folha de S.Paulo. Foi participar de palestras ou fazer visitas políticas, onde sempre foi recebido como candidato a presidente do Brasil. Ele nega estar em campanha.
No ano de 2016, das 13 localidades visitadas por Bolsonaro segundo o levantamento do DCM, duas tiveram custos arcados pela indústria da bala, três pelo agronegócio e oito por políticos e pela cota de passagens do deputado na Câmara Federal. Em duas ocasiões, em novembro e dezembro de 2015, uma foi bancada pelo agronegócio e outra por fundo político.
Ciceroneado pelo deputado federal pelo Solidariedade do Paraná, Francisco Francischini, delegado da Polícia Federal e ex-oficial do Exército e da Polícia Militar do Paraná, Bolsonaro esteve em Londrina e também Maringá em maio.
Na segunda semana de julho foi a Nioaque, Sidrolândia e Campo Grande, ambas no Mato Grosso do Sul, onde foi recebido em almoço pelo governador Reinaldo Azambuja (PSDB).
Essa viagem foi organizada pelo deputado estadual Coronel David (PSC). A bancada da bala tem ampla ação contra o desarmamento, pelo endurecimento das punições a criminosos, além de reivindicar a redução da maioridade penal. É uma sólida base de apoio a Bolsonaro.
No vizinho Mato Groso, o militar da reserva discursou, em março último, durante a abertura da Farm Show 2017, na cidade de Primavera do Leste. Esta é a maior festa do agronegócio do sul do Mato Grosso.
Lá, Bolsonaro, que viajou a convite do presidente do Sindicato Rural de Primavera do Leste, José Nardes, afirmou ser favorável aos produtores rurais se defenderem de possíveis invasões com armas de fogo. “O cartão de visitas para o MST é um fuzil na cara”, disse. Nardes fez questão de ir a Brasília, no gabinete do parlamentar, para concretizar o convite para o evento.
Em março do ano passado, Bolsonaro já havia participado da abertura da mesma feira do agronegócio em Primavera do Leste. E trinta dias depois estava de volta, para participar da 9ª Feira de Tecnologia do Agronegócio, em Campo Novo de Parecis.
A presidente do Sindicato Rural de Campo Novo de Parecis, Giovana Velke, destacou na ocasião a importância para os produtores locais estarem participando desse tipo de debate, para ficar no “centro” desse debate, referindo-se à escolha dos candidatos à presidência da República.
Nas duas viagens ao Mato Grosso, o avião foi bancado pelo agronegócio. Bolsonaro voou pela WDA Táxi Aéreo. O proprietário Edson Guerra Dias escreveu numa rede social, quando postou uma foto ao lado do candidato palestrante, ainda no aeroporto: “Futuro presidente? Só se der zebra”.
Em Parecis, Bolsonaro não esteve sozinho. No palco de exposições agrícolas também tiveram participação o ex-capitão do Batalhão de Operações Especiais da Polícia Militar do Rio de Janeiro (BOPE), Paulo Storani, que em sua palestra falou como construir equipes de alto desempenho baseado em método de treinamento militar.
“Uma tropa de elite é uma equipe de alta performance, que congrega os melhores resultados. Isso pode ser aplicado a qualquer time, seja do BOPE ou no Sindicato Rural, associação e empresas de qualquer setor da economia”, afirmou o militar, prontamente aplaudido pelos presentes e por Bolsonaro. A feira recebeu público aproximado de 32 mil pessoas.
Junto aos ruralistas, o possível candidato à presidência da República falou o que o público local queria ouvir. Destacou que as reivindicações ambientais, indígenas e quilombolas são empecilhos ao agronegócio, setor que realmente produz riqueza no Brasil. “Agronegócio é a locomotiva da nossa economia”, definiu.
Em janeiro deste ano, Bolsonaro foi visitar a pacata cidadezinha de Ribeira, de pouco mais de 3 mil habitantes, no paupérrimo Vale do Ribeira, em São Paulo. Ele morou no local com o pai, Geraldo, nos anos de 1962 a 1968. Visitou a prefeitura, andou pelas ruas e discursou na pracinha. No ano passado, bancado pelo PSC, partido que congrega várias alas evangélicas, esteve em Israel, onde foi filmado na terra sagrada.
Os movimentos Direita Paraíba, Ordem dos Conservadores, Foro Campina Grande e Legítima Defesa o levaram para as cidades de Campina Grande e Cabedelo, na Paraíba, em fevereiro último. Outra organização de direita, Movimento Direita Ceará, custeou uma passagem pelo estado em março de 2017.
O empresário Heitor Freire, que já foi candidato a vereador pelo PSC e vice-presidente da legenda no estado, pagou as despesas. Freire já havia levado o militar para participar do I Simpósio Direita na Terra da Luz em Fortaleza, julho de 2016.
Mas a aposta do PSC na candidatura presidencial de Bolsonaro pode ir por água abaixo. O deputado abriu conversas com vários outros partidos e pode migrar de legenda na possível disputa em 2018.
O gabinete de Bolsonaro em Brasília nega que o parlamentar esteja em campanha ou mesmo em pré-campanha eleitoral. Sobre as despesas pagas através da cota a que tem direito na Câmara dos Deputados, alegam que tudo está sendo realizado dentro dos preceitos legais e regimentais da Casa.
E que qualquer “denúncia” sobre mau uso da verba parlamentar é uma tentativa de colocar Bolsonaro junto aos políticos corruptos. Para o parlamentar, as viagens e convites acontecem por ele integrar a Comissão de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado, em que é suplente.
Fonte: Diário do Centro do Mundo
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