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segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Os desafios da política econômica de Dilma

Vamos por partes. A indicação de Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda é politicamente relevante por permitir baixar a poeira do mercado, aplacar o nervosismo em um momento politicamente delicado – quando está em andamento o terceiro turno das eleições. relevante também por permitir uma freada de arrumação preliminar nas contas públicas. É um passo inicial, mas que não rompe com a armadilha financista dos últimos vinte anos. Se se ficar só nisso, serão mais quatro anos empurrando o país com a barriga. A armadilha reside no binômio inflação-juros. Numa ponta levanta-se permanentemente o fantasma do descontrole inflacionário. Na outra, acena-se com a alta dos juros para enfrentar o monstro. Para definir a estratégia, não há análise das causas da inflação, dos fatores pontuais em jogo, se decorrente de alta estrutural de serviços, se de especulação internacional de commodities, de choque de oferta, pouco importa: cria-se o terrorismo em cima da alta de qualquer tomate e força-se a elevação dos juros. A cada aumento da expectativa de inflação, o Copom (Comitê de Política Monetária) aumenta mais que proporcionalmente a taxa Selic, para manter (muito) positiva a taxa de juros real (diferença entre a taxa e a inflação esperada). 
Em dólares, a taxa de juros real é bem maior. Exemplo: se a Selic está em 12,5 e a inflação esperada é de 6,5% ano, a taxa real em reais será de 5,6%. Mas com a Selic em 12,5% e o dólar estacionado, a taxa real em dólares será de 12,5%. Se o dólar cair para, digamos, R$ 2,30, nesse caso a taxa real será de 21% ano. O diferencial entre juros internacionais e internos estimula os investidores a montar operações de captação de empréstimos em outras moedas (a juros negativos) para aplicar em títulos brasileiros. Essa onda promove uma apreciação do câmbio. A enxurrada de dólares obriga o Banco Central a emitir títulos da dívida, aumentando as reservas cambiais para evitar uma sobre apreciação do câmbio ou a emissão excessiva de reais. O diferencial entre os custos da dívida brasileira e as taxas de remuneração das reservas cambiais significa um impacto fiscal adicional.
Vamos por partes.
A indicação de Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda é politicamente relevante por permitir baixar a poeira do mercado, aplacar o nervosismo em um momento politicamente delicado – quando está em andamento o terceiro turno das eleições.
É relevante também por permitir uma freada de arrumação preliminar nas contas públicas. É um passo inicial, mas que não rompe com a armadilha financista dos últimos vinte anos. Se se ficar só nisso, serão mais quatro anos empurrando o país com a barriga.
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A armadilha reside no binômio inflação-juros.
Numa ponta levanta-se permanentemente o fantasma do descontrole inflacionário. Na outra, acena-se com a alta dos juros para enfrentar o monstro. Para definir a estratégia, não há análise das causas da inflação, dos fatores pontuais em jogo, se decorrente de alta estrutural de serviços, se de especulação internacional de commodities, de choque de oferta, pouco importa: cria-se o terrorismo em cima da alta de qualquer tomate e força-se a elevação dos juros.
A cada aumento da expectativa de inflação, o Copom (Comitê de Política Monetária) aumenta mais que proporcionalmente a taxa Selic, para manter (muito) positiva a taxa de juros real (diferença entre a taxa e a inflação esperada).
Em dólares, a taxa de juros real é bem maior. Exemplo: se a Selic está em 12,5 e a inflação esperada é de 6,5% ano, a taxa real em reais será de 5,6%. Mas com a Selic em 12,5% e o dólar estacionado, a taxa real em dólares será de 12,5%. Se o dólar cair para, digamos, R$ 2,30, nesse caso a taxa real será de 21% ano.
O diferencial entre juros internacionais e internos estimula os investidores a montar operações de captação de empréstimos em outras moedas (a juros negativos) para aplicar em títulos brasileiros. Essa onda promove uma apreciação do câmbio.
A enxurrada de dólares obriga o Banco Central a emitir títulos da dívida, aumentando as reservas cambiais para evitar uma sobre apreciação do câmbio ou a emissão excessiva de reais. O diferencial entre os custos da dívida brasileira e as taxas de remuneração das reservas cambiais significa um impacto fiscal adicional.
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A armadilha não é meramente fiscal, comprometendo parcelas relevantes do orçamento. Contamina qualquer estratégia de desenvolvimento.
Para a próxima etapa de desenvolvimento, é essencial o remanejamento da poupança privada para o setor real da economia, alongando os prazos de aplicação. Há um leque de alternativas de investimento, que jamais deslancharão enquanto as taxas não convergirem para padrões internacionais.
Em relação aos setores comercializáveis – que concorrem internacionalmente – há um movimento de pinça. Numa ponta, a apreciação do real reduz a rentabilidade esperada do investimento. Na outra, a Selic elevada exige taxas de retorno muito maiores. Investir, como?
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No primeiro governo, Dilma tentou trazer a Selic para níveis civilizados. Mas não contava com operadores de fôlego para a empreitada.
Mesmo assim, durante pouquíssimo tempo, o país soube o que é conviver com taxas de juros civilizadas. Teve início uma disputa dos grandes bancos pela oferta de crédito até a pequenas empresas; fundos de investimento correram para se adaptar aos novos tempos, de investimentos em renda variável. O país parecia pronto para o deslanche.
No primeiro soluço da inflação – provocado por alta nos preços de commodities – o Banco Central piscou e deu início a nova rodada de alta da Selic. Toda essa construção foi interrompida por falta de operadores de peso e de estratégias melhor planejadas.
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Este será o desafio do segundo governo: montar um diganóstico correto sobre as causas da inflação, desmontar a armadilha das tarifas indexadas, separar questões pontuais, de choques de oferta, das questões estruturais - como a inflação de serviços que reflete melhoria de renda.
Se a nomeação de Joaquim Levy significar uma breve freada de arrumação para remontar a estratégia – já que ele próprio é um defensor da redução de juros – Dilma poderá partir para a guerra decisiva cercada de bons oficiais.
Caso contrário, serão mais quatro anos empurrando com a barriga.
Fonte: Luis Nassif Online

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