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sábado, 5 de julho de 2014

Choramos por Neymar

Choramos por Neymar
O Fato - O choro não era à toa. Neymar sofreu uma fratura na terceira vértebra lombar após sofrer uma joelhada do colombiano Zúñiga, nas costas, pouco antes do final do segundo tempo, e está fora da Copa do Mundo. O jogo terminou com vitória do Brasil, por 2 a 1, e classificação para a semifinal, mas ficar sem o jogador para o restante do Mundial é uma grande derrota para a equipe e o torcedor brasileiro.
Apesar do drama, o jogador segue com o grupo e vai usar uma cinta. A primeira previsão seria de quatro a seis semanas necessárias para a recuperação. No entanto, ainda há a necessidade de se verificar todos os resultados dos exames feitos pelo camisa 10, que deixou o hospital por volta das 21h28 (de Brasília) e seguiu para a Base Aérea, de onde voa normalmente com a delegação para o Rio de Janeiro. Ele seguirá com a equipe na Granja Comary.
 É uma fratura que evolui. Não tem condição de jogar na próxima semana. São poucas semanas para recuperação. Terceira vértebra lombar, no processo transverso. Tempo nós vamos ver depois. Primeiro momento é fazer o diagnóstico e vamos ver o que vai acontecer. Precisamos do resultado desses exames - afirmou Rodrigo Lasmar, médico da CBF.
Choramos por Neymar

Segundo o doutor, o jogador está muito abatido, mas sua lesão só terá um diagnóstico totalmente completo após os resultados de mais alguns exames serem analisados.
Primeiro, Neymar foi examinado na clínica do estádio, segundo o próprio Felipão. Depois, acabou sendo encaminhado com o doutor José Luiz Runco para uma clínica particular. Ele saiu de campo na maca, chorando bastante, sem sequer conseguir andar nos primeiros momentos, e foi avaliado no Hospital São Carlos, na zona norte de Fortaleza, onde chegou também chorando, de maca, e já com medicamento na veia.- Ele volta conosco, volta bem, só com uma cinta. Precisa de cinta lombar pra alivio da dor, vai precisar de algumas semanas para estar de volta. Outros exames serão feitos, mas para a Copa não tem condições. Está muito abatido, triste, chateado, muito triste. Uma expectativa tão grande passando pra semifinal e ele, infelizmente, não vai poder - completou Lasmar.
- Sabendo agora realmente que ele está fora, é uma tristeza enorme. A gente sabe quanto o Ney queria brilhar nessa Copa, o quanto ele se sente feliz levando alegria para o povo brasileiro. Fui pego de surpresa, a tristeza é enorme e é até difícil falar, porque é um garoto espetacular. Acho que o Neymar, se tivesse que mandar um recado para a gente, diria "Galera, bola para a frente que eu quero estar lá no dia 13 com vocês". Ele é um garoto espetacular, simples e que ensina muito para a gente todo dia. Mas não estou acreditando até agora que o Ney não vai jogar na terça-feira. Se eu pudesse, queria dar um abraço e um beijo nele agora - afirmou o goleiro Julio César.
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Choramos por Neymar
Na coletiva de imprensa da véspera da estreia na Copa do Mundo, um repórter desafiou Neymar a fazer uma pergunta ao chefe, Luiz Felipe Scolari.
-Eu jogo amanhã, professor?, perguntou o camisa 10, provocando não um riso, mas uma gargalhada no treinador e nos jornalistas que acompanhavam a entrevista.
A pergunta era quase um drible característico: tão improvável quanto absurdo. Que ele jogaria estava claro desde que vestiu pela primeira vez a camisa da seleção brasileira, em um amistoso contra a seleção dos EUA, em 2010, ainda sob o comando de Mano Menezes. Desde então, a equipe se resumia a uma frase: era ele e mais dez. Ele e mais dez contra a rapa.
O drible de Neymar na coletiva era o drible em uma armadilha. O que todos queriam saber, dentro e fora daquela sala de imprensa, era se ele, a partir do dia seguinte, suportaria todo o peso do mundo em suas costas. Durante cinco partidas ele suportou. Nem sempre com brilho, mas suportou: foram quatro gols, um pênalti derradeiro contra o Chile, e duas assistências, uma delas no duelo das quartas, quando fez a bola atravessar, oblíqua e dissimulada, a área colombiana até chegar aos pés do capitão Thiago Silva.
Àquela altura já imaginávamos como seria o duelo com os alemães, na semi: o Brasil, um time entre médio e esforçado, contra uma equipe tão fria e previsível quanto mortal (um amigo costuma dizer: “nada contra a seleção alemã, mas eu prefiro futebol”). Mas os anfitriões tinham um trunfo, ele vestia a camisa 10 e era o único dos 22 em campo capaz de desembaralhar um castelo de cartas construído na base da ciência, da técnica e da aplicação.
Triste ironia: as costas que suportaram o mundo não suportaram a covardia, uma entre tantas sofridas desde que pisou em campo como profissional. Dessa vez, a joelhada do lateral Camilo Zuñiga, aos 40 minutos do segundo tempo de um jogo quase ganho, doeu mais. Não a dor física, a menor das dores, ainda que imensa. Mas a dor de ser içado, com um gancho de guindaste, do próprio espetáculo: uma Copa, em casa, no auge da forma técnica e física.
O Brasil que se chocou ao ver a fratura do fêmur de Anderson Silva, a rótula exposta de Ronaldo Fenômeno e a batida fatal de Ayrton Senna assistia, assim, ao seu principal jogador na década deixar o estádio a caminho do hospital na maca, aos prantos, com um lenço no rosto como um sudário. Não, não precisávamos de um outro mártir, não a essa altura do campeonato. Porque, no fundo, sabemos: não há lição na perda se não a dor, e esta não deixa legados. Mas se há didatismo em toda tristeza é que no esporte, como na vida, não são os músculos e o desejo que moldam o destino, mas as rasteiras. As rasteiras e suas variações: uma joelhada nas costas, um pênalti cavado, uma mordida no rival, um carrinho criminoso. O arsenal entra na lista das habilidades humanas, e tudo o que é humano é imponderável.
No mundo ideal, o futebol seria só futebol, um intervalo lúdico de uma rotina ordinária. Na vida real o esporte é mais que isso: é a rotina ordinária em retrato instantâneo. A rotina ordinária e suas contradições. Nele reconhecemos a beleza, como o consolo de David Luiz sobre James Rodríguez ao fim do jogo. Mas reconhecemos também nossas misérias.
Dentro de campo é possível identificar em tempo real a potencialidade destruidora da nossa preguiça, da nossa mesquinharia, da nossa covardia, da nossa pequenez, da nossa arrogância, da nossa presunção. No esporte, como na vida, ensinam apenas que o importante é vencer. E que não há superação sem conquistas. Por causa dessa lógica, muitos foram limados do esporte, e da vida, sem ter a chance da redenção. Neymar é jovem, vai ser reerguer, vai disputar outras Copas e pode levantar a taça ainda este ano. Mas será sempre, e a partir de agora, a imagem, carregada na maca, de um tempo projetado por Carlos Drummond de Andrade: o tempo em que as mãos tecem apenas o rude trabalho, e o coração está seco – por mais que chorem, eu diria, porque choram de aflição e medo. Justo ele, que suportou o peso do mundo sobre os ombros.
Neymar não é só vítima do absurdo: é vítima de um risco calculado, a estratégia que ensina obediência tática pela imprudência física. Uma imprudência modelada na preleção: se for para perder o jogo, é melhor não perder a viagem. Zuñiga obedeceu às ordens, como os rivais brasileiros, e suas botinadas não menos imprudentes, ao longo de toda a Copa.
A fratura na terceira vértebra lombar tirou Neymar da Copa, e tirou do mundo a oportunidade de assistir, na próxima terça-feira, ao duelo mais nítido entre a razão e o improviso, entre a matemática e a falta de juízo. Não só: tirou o mundo das costas de Neymar e o distribuiu aos outros jogadores da equipe. Nem o mais pessimista dos torcedores imaginaria um roteiro tão cruel, mas do absurdo pode nascer a redenção. Agora não é mais Neymar e mais dez. É Neymar e mais onze. O mundo agora, diria Drummond, não pesa mais que a mão de uma criança.
Choramos por Neymar
Passamos a última semana discutindo sobre o equilíbrio emocional da Seleção brasileira. Em campo, os jogadores mostraram que o abalo contra o Chile ficou para trás. O Brasil fez a sua melhor partida na Copa do Mundo, diminuindo a distância entre defesa e ataque e adiantando a marcação.
O 2 a 1 contra a Colômbia deveria ser apenas de comemoração. Mas quase no final da partida, um lance besta, no campo de defesa do Brasil. A joelhada do colombiano Zuñiga na vértebra de Neymar. O camisa 10 deitado no gramado. O único movimento provocado pelos soluços incontroláveis do jogador.
A fratura de Neymar é uma espécie de Maracanazo individualizado. Como vencer a Copa sem aquele garoto de 22 anos que assumiu a responsabilidade de carregar o time em busca da sexta estrela? Como furar agora a defesa da Alemanha sem aquele drible incontrolável? Neymar não foi brilhante em todos os jogos disputados até aqui, mas procurou ser. E isso é rapidamente percebido pelo torcedor, que despeja seus olhos e suas esperanças sobre ele.
Esperamos agora a terça-feira numa mistura de ansiedade e frustração. A festa estará preparada, mas o convidado principal não dará as caras. Há, claro, a sensação de que o time jogará por ele, mas, sem ele, conseguirá jogar? O histórico mostra que Felipão jamais abdicou de Neymar e sua unanimidade impediu até mesmo que se preparasse um substituto. Porque Neymar apanhava e levantava. Apanhava e levantava. Como um brinquedo de borracha castigado nas mãos de uma criança, mas que nunca perde o sorriso do rosto.
Ver Neymar deixar o Castelão aos prantos, carregado naquela maca mórbida da Fifa, foi impactante demais. A imagem aérea parece reforçar a intensidade de tragédia. Uma distância que separa Neymar da bola. O torcedor, do seu ídolo. O gênio, da Copa do Mundo. Impossível não se emocionar ainda mais, ao se deparar com as reações dos colegas. Como Fred, surpreendido ao vivo pelo repórter com a notícia. Perdeu a firmeza da voz. Gaguejou, olhos vermelhos pelas lágrimas que brotaram em segundos. Desmoronou.
Não nos cobrem equilíbrio emocional numa hora dessas. Nenhum psicólogo será capaz de uma palavra que disfarce a tristeza de perder Neymar na reta final da Copa do Mundo. Hoje, o Brasil venceu em campo e nenhum jogador chorou em campo. Choramos nós. Porque a expressiva vitória não evita a percepção de que perdemos algo único. Desmoronamos.
Fonte: Portal Globo Esporte/A Carta Capital

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