Retrospectiva dos equipamentos apresentados na CES desde 1970 mostra como nos últimos 4 anos a indústria de televisão vem se transformando em uma velocidade muito grande, forçando uma rápida adaptação às novas demandas dos espectadores, o que as vezes nem sempre é possível.
Me lembro bem do primeiro contato que tive com os equipamentos U-matic quando comecei a trabalhar em televisão. Eram pesados e já ultrapassados (1991), mas ainda assim, eram os equipamentos profissionais em televisão que proporcionaram uma grande mudança nos modos de produção dos programas, principalmente no telejornalismo. A partir de 1971 a Sony comercializa os Video-Tapes, o que permitia gravar e editar os programas. Nos anos seguintes, os equipamentos seguiram se atualizando e, cada vez mais, aprimorando a qualidade das imagens e do som. Contudo, o modo de produção e distribuição do conteúdo não foi alterado. A cada câmera de maior resolução de captação, os aparelhos de TV também aumentavam de tamanho e de tecnologia de exibição da imagem. Em 2001, os aparelhos de Plasma em telas grandes, foram as vedetes das CES naquele ano. Por aqui, um aparelho destes chegou a custar 15 mil reais. Hoje, já estão deixando de ser fabricados.
É comum afirmar que com o lançamento comercial da internet é que as emissoras de televisão passaram a ter um concorrente capaz de rivalizar com ela a atenção dos espectadores. Porém, com uma análise mais aprofundada, percebemos que é a partir do lançamentos dos dispositivos realmente móveis (tabletes e Smartphones) é que o verdadeiro rival da programação televisiva se revelou.
O que vem primeiro? O ovo ou a galinha? A tecnologia faz surgir a demanda ou a demanda faz surgir a tecnologia? Ao meu ver, a demanda faz surgir a tecnologia. Em meados da década de 1970, o processo de desindustrialização promovido em países como EUA e Grã-Bretanha fez surgir uma nova classe de trabalhadores. A indústria que anteriormente ditava o ritmo das cidades, empregava cada vez menos trabalhadores, o que os levou a investir em outras atividades. A Educação passou a ter um valor ainda mais importante na formação da mão de obra e as pessoas passaram a investir na formação em níveis cada vez maior (graduação, especialização, mestrado, doutorado, etc.). Com as novas tecnologias da informação e a transferência de grandes empresas para os países asiáticos o mundo se tornou um lugar menor e as atividades deixaram de ter o fuso horário local. Países como Índia, China, se tornaram cede de grandes empresas ocidentais. O grande rival da televisão é a nova configuração da sociedade, grupos de nichos e não mais uma audiência homogênea.
Longe da indústria o emprego se transformou. Agilidade, rapidez, mobilidade se tornaram fatores decisivos na produtividade das empresas transnacionais. Essa demanda fez surgir o telefone celular, o notebook (o escritório vai aonde você for), equipamentos que permitiam executar as atividades fora das salas de escritórios. Ao mesmo tempo, a prestação de serviços e atividades ligadas ao turismo se desenvolveram para atender a esta nova massa de trabalhadores. Massa, porém heterogênea, muito distante das massas de homogêneas de trabalhadores da Era Industrial. A fragmentação da audiência televisiva no sistema aberto no EUA, impulsionou a industria do Home Vídeo e a TV por assinatura.
Em 1980, Manhattan, em Nova York não possuía TV por cabos. A MTV e seu slogan: "Eu quero a minha TV", fez com que muitas pessoas aderissem a TV por cabos. A personalização do conteúdo passa a se mostrar um tendência, mas que se limitava à tecnologia e aos modelos de negócio das operadoras de TV por cabos e emissoras de TV.
Mas a partir de 2010 tudo mudou. A CES apresenta os tabletes, dispositivos com Androide, Notebook's mais baratos e potentes. Equipamentos voltados, não para as atividades de trabalho, mas para o entretenimento.
De 2005 até agora, vimos surgir a TV pela Web, o Youtube, o IPTV, os serviços de vídeo on demand, os serviços de OTT, TV conectada, Apple TV, Google TV, Amazon Fire, Chromecast, Roku, TV híbrida e a Ultra resolução do vídeo em 4K e 8K. Nos EUA a audiência do Youtube já é maior do que a da televisão. a equação aparenta ser simples: quanto maior o poder de compra da população e a aquisição deste dos dispositivos que permitem conexão à internet e a adesão de planos de banda larga, maior é a fuga da audiência para a programação personalista e não linear de produtos audiovisuais. As emissoras respondem com aplicativos para segunda tela, TV Social, investimentos na programação, programas ao vivo, reality shows, mas está cada vez mais certo que de o consumo maior dos conteúdos se dará nas plataformas digitais e não mais pelo espectro de radiofrequência. Um veículo que impactou toda a humanidade como a televisão em massa por mais de 70 anos perderá seu posto? A democracia está preparada para atuar em um espaço personalista e não generalista?
O que realmente significaria para a sociedade, se a TV aberta deixasse de existir? Qual ou quais seriam os reais impactos? Não podemos acreditar que substituição do sistema aberto de televisão pelo sistema broadband é um caminho natural oferecido pelas inovações tecnológicas. Vivemos um período perigoso, mas encoberto pelo maravilhamento com a tecnologia atual.
Fonte: Convergência Midiática
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