Independentemente de quem vencesse a eleição para a prefeitura de Chicago, que foi realizada nesta terça-feira (2), essa pessoa faria história como primeira prefeita negra da cidade. Lightfoot, de 56 anos, é a segunda mulher a conquistar a prefeitura da “cidade dos ventos”, como Chicago é conhecida, depois de Jane Byrne, que ocupou o cargo de 1979 a 1983.
A antiga promotora federal foi indicada para importantes cargos de supervisão da polícia durante o governo do atual prefeito, Rahm Emanuel, que ocupou posições de liderança nos governos de Bill Clinton e Barak Obama, apesar de seu temperamento explosivo. Lightfoot era a favorita do atual prefeito e insider da política de Chicago, que é dominada pelo Partido Democrata, mas não tem experiência política e traz novos ares à cidade. Além de ser a primeira prefeita negra da terceira maior cidade americana, a promotora é lésbica e casada com uma mulher – o casal tem uma filha de 10 anos.
Ao contrário de Preckwinkle, que apresentou uma plataforma mais progressista, ligada a sindicatos e com críticas duras à suposta atuação com viés racista da polícia, a nova prefeita promete ser conciliadora e representar brancos, negros, latinos, além de manter um relacionamento próximo e não confrontador com o departamento de polícia. De modo geral, entretanto, as duas candidatas apresentaram plataformas bastante semelhantes com foco em educação e segurança, duas áreas que seriam aprimoradas principalmente por meio de investimentos nas regiões mais necessitadas da cidade.
Escândalo do ator Jussie Smollett pesou na eleição
Lightfoot também diz que vai por fim à corrupção presente na administração do município, algo que no momento é foco de uma investigação. Um dos fatores que contribuiu com a ampla vitória da promotora sobre sua rival foi que grande parte da população e o departamento de polícia da cidade ficaram revoltados com o escândalo protagonizado pelo ator negro e gay Jussie Smollett, do seriado de televisão Empire.
Smollett foi indiciado por ter encenado um crime de ódio ao pagar dois nigerianos para fingir que o atacavam e, depois disso, dizer que havia sido agredido por brancos, racistas e homofóbicos que apoiavam Donald Trump. Misteriosamente, o ator conseguiu que todas as suas 16 acusações fossem eliminadas, graças à provável ajuda da procuradora do Estado, Kim Foxx.
Preckwinkle foi uma das impulsoras da carreira política da procuradora. O suposto ataque envolvendo Smollett, em janeiro, mobilizou uma grande força policial e causou ainda mais tensão nas relações entre os brancos e os negros de Chicago. O caso acabou ajudando Lightfoot e sua promessa de combater a corrupção.
Desafios
A nova prefeita não vai ter descanso se quiser mesmo resolver os problemas da cidade de quase 3 milhões de habitantes. Chicago é campeã em homicídios nos Estados Unidos, com cerca de 540 assassinatos por ano, e é uma das cidades americanas com maior disparidade econômica e social entre os grupos raciais.
Brancos, negros e latinos têm praticamente a mesma representação demográfica na cidade. Cada um desses grupos representa cerca de 30% da população, mas os negros e os latinos ainda vivem como minorias em Chicago, pois não contam com as mesmas perspectivas socioeconômicas dos brancos.
Apaziguamento da tensão racial em Chicago é prioridade para 2020
Há uma certa esperança de que a prefeita promova uma nova aliança entre os negros e os latinos da cidade, como aconteceu na década de 1980. A Coalizão do Arco-íris, como era conhecida a parceria entre negros e latinos, teve um papel fundamental na eleição do primeiro prefeito negro de Chicago, Harold Washington, em 1983. No entanto, a nova prefeita vai enfrentar desafios que não existiam há 30 anos, como problemas de infraestrutura, falta de recursos nas escolas públicas, necessidade de reforma da polícia e cortes de orçamento, além de ter de continuar a satisfazer as populações de maioria branca que ocupam as partes da cidade que muito prosperaram durante os dois mandatos de Emanuel.
Para os democratas seria vantajoso que Lightfoot desse prioridade à promoção desse tipo de aliança em Chicago, servindo assim como um modelo a ser aplicado em âmbito nacional, pois estão apostando em uma forte união entre negros e latinos para derrotar Donald Trump na disputa pela Casa Branca em 2020.
Fonte: Geledes
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