Uma recente experiência de agressão sexual sofrida por uma mulher canadense em um trem de Tóquio, incluindo a forma como a polícia respondeu, provocou discussões no Twittersobre o problema atual do Japão com chikan (痴 漢 ou abusadores de trem, em português).
A experiência documentada de agressão sexual se assemelha a casos recentes de alta repercussão no país envolvendo a jornalista Shiori Ito, uma blogueira conhecida comoHachu e a atriz de teatro Shimizu Meili.
Em julho de 2018, uma mulher, que atende pelo nome de “Jenna” no Twitter, começou a compartilhar uma série de tuítes em que relatava ter sido perseguida e apalpada por um homem em um trem de Tóquio. Jenna compartilhou também o que aconteceu quando o abusador foi preso e ela registrou o crime na polícia.
Em uma série de tuítes, conta:
Geralmente, casos de abuso cometidos pelos chikan são processados pela polícia sob o Artigo 176 do Código Penal como “obscenidade forçada” (強制わいせつ). De acordo com o Departamento de Polícia Metropolitana de Tóquio, 1.750 casos de abuso sexual ou molestamento foram denunciados em 2017. Mais de 50% desses casos ocorreram em trens, segundo o relatório, enquanto 20% deles aconteceram nas estações de trens. No entanto, vítimas de agressão sexual no Japão lamentam frequentemente que tais casos são difíceis de serem autuados.
Jenna continua a descrever a sua experiência de abuso sexual no trem em toda a sua linha de discussão no Twitter:
Ainda no Twitter, Jenna disse que cogitou sair da locomotiva antes de chegar ao seu destino para esperar a próxima, mas estava com medo de que o homem a seguisse. “Eu realmente não vi nenhuma opção e me senti desconfortável”, disse em um tuíte.
Quando sua parada se aproximou, Jenna se levantou e foi em direção às portas de saída do vagão:
Jenna contou que fora tomada por uma onda de adrenalina que a levou a virar e atacar seu agressor. Em seguida, ele tentou fugir. Ela o perseguiu na plataforma da estação de trem, agarrando-o pela roupa, enquanto gritava em japonês que havia sofrido abuso sexual. Os funcionários da estação interviram e a polícia chegou logo em seguida.
Relatando uma agressão sexual à polícia no Japão
De acordo com seu Twitter, Jenna foi encaminhada para uma delegacia de polícia nas proximidades, para o que se tornaria quase 7 horas de interrogatório. Contudo, sua experiência frustrada com a polícia já havia começado no carro:
Na delegacia, após seu celular, passaporte e outra identidade terem sido tirados dela, Jenna relatou que começou a ficar assustada:
Finalmente, a polícia moveu uma divisória para proporcionar privacidade, mas Jenna explicou que:
Após contar a sua história, Jenna disse que a polícia recomendou que ela não prestasse queixa porque seu suposto agressor, aparentemente, ainda era menor de idade. Irredutível, Jenna disse que ainda assim queria denunciá-lo.
A polícia mediu e fotografou o corpo de Jenna num processo que durou mais de 3 horas. Prestar queixa também significava ter que realizar uma reconstituição, um requisito comum para denunciar uma agressão sexual no Japão:
Jenna constatou que nenhuma testemunha em potencial havia sido contatada e que a decisão final sobre prestar queixa ou não estava nas mãos da polícia (no Japão, a polícia endereça as ocorrências criminais a um promotor). O celular e outros pertences foram devolvidos à Jenna. Quase 7 horas depois de ter sido abusada sexualmente no trem, ela foi liberada para ir pra casa.
Depois da exaustiva experiência na delegacia, Jeena concluiu:
Twitter japonês responde à história de Jeena
Nos dias que se seguiram, os tuítes de Jeena foram compartilhados e discutidos por muitas pessoas que demonstraram apoio e empatia ao redor do mundo. Algumas usuárias japonesas do Twitter também compartilharam suas próprias experiências com assédio e abuso sexual, a fim de prestar solidariedade:
Oi, eu li seus tuítes. Sinto muito que você tenha passado por isso. Gostaria de poder jogar uma maldição sobre ele! Absolutamente inaceitável! Eu costumava ser assediada quase todos os dias por chikan quando eu era criança. Estou com raiva, pois o abuso contra mulheres e crianças no Japão não é levado a sério.
Uma outra usuária do Twitter criou um “momento Twitter” dos tuítes de Jenna:
Nós estamos com você.
Alguns traduziram os tuítes da canadense para o japonês:
Enquanto eu tuitava sobre a sua experiência, alguns caras japoneses criticaram, afirmando que essa história com certeza era falsa. Então, eu traduzi todos os tuítes relacionados ao caso para o japonês. Aqui está o link da tradução: https://note.mu/diafeliz/n/n2472a5c26ed3 …
Polícia pede que a vítima delete os tuítes
No final de julho, o agressor confessou ter apalpado Jenna, mas as autoridades não tomaram providências. Jenna tuitou que a polícia finalmente tomou a decisão de registrar o caso do agressor e esperava que isso fosse o suficiente para impedi-lo de reincidir no crime.
Quando Jenna anunciou que a polícia sugeriu que ela deletasse seus tuítes, sua história foi compartilhada mais de 2.000 vezes:
Estou rindo alto! A polícia japonesa sugeriu que eu deletasse as postagens que fiz sobre minha agressão sexual. Muito legal, Japão, tente esconder o tratamento de merda dado a mim.
Depois, Jenna esclareceu o pedido:
Fonte: Global VoicesOk, agora a polícia está dizendo que eles sugeriram que eu deletasse a minha conta por uma “questão de segurança” e não para tentar esconder o que quer que seja. Eu não sei se isso é verdade ou se eles estão apenas tentando se livrar, mas eu posso me proteger, já que eles deixam claro que não estão dispostos a me dar apoio.
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