Eu queria entender esse sectarismo anti-Ciro da militância petista.
Ciro Gomes foi fiel ao PT e a Lula do início ao fim. No mensalão, quando vários petistas pularam fora ou se acovardaram (inclusive muitos que hoje posam de valentões), estava lá, firme.
Ciro Gomes foi fiel ao PT e a Lula do início ao fim. No mensalão, quando vários petistas pularam fora ou se acovardaram (inclusive muitos que hoje posam de valentões), estava lá, firme.
Hoje é crítico duro da condenação de Lula, sobre a qual afirma, categoricamente, que é injusta, agregando que leu a sentença com atenção e dá sua opinião inclusive como professor de Direito.
O PT fez acordos inúmeros com a direita, com o PMDB, com diversos partidos conservadores, com Geddel, com Temer, com Cunha, e a militância sempre entendeu, em nome da governabilidade. Eu mesmo entendi, embora apontando que, sem estruturar uma comunicação autônoma, forte, o campo popular não conseguiria sustentar politicamente durante muito tempo suas iniciativas, e ficaria cada vez mais dependente da direita para governar.
Mesmo assim, entendi. E segurei as pontas. Ciro também. Foi ministro de Lula e se manteve leal, reitero, todo esse tempo.
Por que essa implicância agora com Ciro Gomes, que tem um programa econômico à esquerda do PT, que está num partido de esquerda, que tem ideias progressistas?
Se Ciro quisesse “trair” o PT, tê-lo-ia feito, como todo mundo, ao longo do processo de impeachment, não?
Todos os ministros do STF, indicados pelo PT, traíram o partido, traíram inclusive a Constituiçãopela qual juraram. Traidor é que não falta no Brasil, mas só podemos julgá-los como traidores depois que traírem. Chamar alguém de traidor antes da trairagem não é correto.
Além disso, a militância está caindo muito facilmente nas intrigas da mídia. A grande imprensa pinça uma frase de Ciro Gomes, para intrigá-lo contra o PT, e a militância acredita? Ora, antes de acusar Ciro por causa de frases jogadas pela mídia, assistam a entrevista, leiam a íntegra das respostas.
Acho que é o momento da esquerda petista calçar a sandália da humildade e entender que boa parte das desgraças que acometem o PT nasceram de erros do partido, a começar pela indicação de ministros do STF inteiramente descomprometidos com as causas democráticas e sociais do campo progressista-popular, incluindo aí a defesa das garantias e direitos fundamentais. Não só no STF. No STJ, nos tribunais de segunda instância, na PGR, o PT não teve uma visão estratégica no uso de suas prerrogativas presidenciais para nomear juízes.
Não só isso. O PT não produziu sequer um debate contra o estado de exceção. E não foi por falta de aviso. A Lava Jato mostrava as garras, e Dilma e seu ministro da Justiça batiam palmas para maluco dançar, ao invés de iniciar um enfrentamento republicano, democrático, transparente, duro, contra os arbítrios e abusos de poder da Lava Jato.
Na comunicação, nem se fala. O PT errou feio na comunicação, e esse não foi um erro menor: foi um erro de grandes proporções, que resultou num enfraquecimento histórico do campo progressista. Fortaleceram a Globo e enfraqueceram a mídia alternativa e as rádios comunitárias.
Lula é um preso político e foi condenado sem provas. Ele é inocente do caso triplex, mas não é inocente dos erros políticos, como o já mencionado processo de escolhas de ministros do STF, que resultaram em sua prisão. Obviamente ninguém deve ser preso por causa de erro político, mas é preciso entender que erros políticos trazem consequências graves, terríveis até, para aqueles que os cometeram.
Enfim, o PT e sua militância precisam, a meu ver, ajudar a esquerda a construir pontes entre si, e não dinamitá-las com julgamentos afobados, passionais.
Tenho impressão que muita gente que hoje condena Ciro Gomes sem nem ler o seu programa ou assistir com serenidade suas entrevistas vai acabar passando vergonha.
E, por favor, sem me xingar, sem inventar teorias de conspiração, sem insinuações baratas, e demais truculências.
Vamos debater na boa!
Fonte: Pragmatismo Político
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