Ao se debruçarem sobre a verdadeira natureza da “greve” dos caminhoneiros, analistas passam a tratar o movimento como um locaute e revelam os interesses por trás da paralisação
A socióloga e escritora Marília Moschkovich postou nas redes sociais algumas considerações sobre a verdadeira natureza da greve dos caminhoneiros.
A pesquisadora defende, na verdade, que trata-se de um ‘locaute’. Ou seja, a paralisação de empregados comandada pelas organizações patronais da categoria. Confira:A socióloga e escritora Marília Moschkovich postou nas redes sociais algumas considerações sobre a verdadeira natureza da greve dos caminhoneiros.
— A greve de caminhoneiros NÃO É em prol do seu bolso, gente. É um factoide político sendo criado diante de nossos olhos e nós certamente não seremos os beneficiados. Explico e dou fatos para quem quiser, aqui:
1) Em 2013 teve também uma “greve” de caminhoneiros – a gente chama de LOCAUTE quando é um monte de trabalhador parando para beneficiar os empregadores/patrões, e não de greve, ok? Pois é bem por aí a história.
2) Na época, eu me dei ao trabalho de fazer uma breve investigaçãozinha sobre quem era, afinal o tal Movimento União Brasil Caminhoneiro. Descobri um MONTE de mutretas ligadas ao “líder” Nélio Botelho.
3) Pois qual não é minha surpresa #sqn ao ver nos noticiários o mesmo Nélio Botelho, do mesmo Movimento União Brasil Caminhoneiro, falando as principais reivindicações dos caminhoneiros:
4) A primeira é que a regulamentação com obrigatoriedade de descanso seria ruim (oi? para quem descansa ou para quem vai ter que pagar o descanso do outro?), pois NÃO HÁ ESTRUTURA PARA ISSO.
5) Como acabei de mostrar pra vocês nos prints e no meu post de Facebook, o cara está com a construção de uma área de descanso embargada, por problemas com o Estado já que a área é DOAÇÃO DE ÁREA PÚBLICA para isso (licitação? concurso? oi?)
6) Então alguém se surpreenderia se deste locaute o bonito saísse com acordo para fazer uma rede de áreas de descanso no modelo da primeira que teve a construção embargada (em áreas públicas sem licitação, claro, como na época da ditadura)? Eu não. Mas tem mais.
7) A segunda reivindicação do Movimento União Brasil Caminhoneiro está sim ligada ao preço do combustível. Mas não o que vai para o seu bolso, a gasolina do seu carro, etc. Nananinanão. Tampouco querem que o preço volte a ser controlado pelo Estado, de forma nenhuma.
8) A reivindicação ligada ao preço do combustível é a de que… O governo federal subsidie o custo do Diesel para ficar mais barato – mais barato para quem? Quem paga o custo desse Diesel? Caminhão não é carro de passeio, caras. O custo do Diesel é das grandes empresas pô.
9) Se a gente entende que o combustível aumentou porque Temer MUDOU O MODELO DE PRECIFICAÇÃO DESTA COMMODITY, tirando a regulamentação estatal; se a gente lembra que logo na época do impeachment a questão de permitir petrolíferas gringas estava em pauta (e foi aprovada)…
10) e se a gente lembra que tem todo um pedaço da Lava-Jato que é justamente ligado à Petrobras… Não é muito difícil entender que o que eles querem e o preço sem regulamentação estatal, mas ao mesmo tempo que DINHEIRO PÚBLICO cubra os gastos das grandes empresas c/ combustivel
12) Como eu disse em 2013, “Se fosse um protesto de autônomos, por que não exigir o aumento proporcional no valor do frete, em vez de redução de custo (diesel e pedágio)?”
13) Se fosse um protesto por melhorias nas condições de trabalho, por que não exigir então LEIS TRABALHISTAS responsabilizando as empresas que contratam os serviços? Colocando o custo do descanso para elas, etc.?
14) Se fosse um protesto para redução de preço de combustível, por que não exigir o retorno ao modelo anterior de regulamentação do preço, e o banimento das petroleiras estrangeiras?
15) Por isso, gente: locaute. Tem nada de “greve” nisso aí não. O desabastecimento é pra causar um factoide político e todo mundo achar lindo e justo quando o governo anunciar que vai subsidiar o diesel e deixar a cooperativa construir seus parques de descanso. ACORDEM
16) Ah, acrescentando mais uma informação fresquinha: os petroleiros estão APOIANDO os caminhoneiros em seu LOCAUTE. sim.
17) adicionando agora pois: há outras entidades e uma variedade doida de pautas nesse locaute-greve de caminhoneiros, inclusive deve ter várias pessoas não-organizadas indo “na onda” do que quer que lhes pareça interessante, enfim, 2018 is the new 2013.
Locaute
Na mesma linha, o professor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Afrânio Silva Jardim, acredita que a paralisação dos caminhoneiros não se trata de uma greve, mas de um locaute. Veja o que diz o docente:
— Na verdade, não se trata de greve de caminhoneiros e, sim, uma paralisação determinada pelas empresas que exploram este tipo de atividade econômica. Trata-se de um verdadeiro “Lock Out” (ou Locaute).
Pela televisão, se verifica que são quase todos caminhões sem carroceria, do mesmo modelo e cor. Alguns têm faixas contra os impostos e não contra o preço do combustível. Os tradicionais caminhões de frete estão transitando normalmente.
Ademais, o “Sistema Globo” de Rádio e Televisão está dando ampla e permanente cobertura jornalística, com o propósito oculto de “inflar” o movimento dos patrões.
Este tipo de “Lock Out” foi a “gota d´água” para a queda do governo socialista de Salvador Allende, no Chile, e foi usado, aqui no Brasil, para criar um clima favorável ao golpe militar que derrubou o governo democrático e constitucional de João Goulart.
Estamos “escaldados” e podemos dizer com Willian Shakespeare que “há mais coisa entre o céu e a terra do que sonha a nossa vã filosofia”.
Greve legítima, mas com locaute
O jornalista Leonardo Sakamoto, do UOL, é mais ponderado ao analisar a paralisação. Ele acredita que a greve é legítima, mas observa que empresas de transporte de cargas tentam dominar a pauta. Leia:
— A paralisação dos caminhoneiros é, a princípio, legítima. Nasceu do descontentamento real de autônomos, que possuem seus veículos e prestam serviços, com os aumentos do diesel e com a política de preços da Petrobras – que flutua de acordo com o preço internacional dos derivados do petróleo. Isso leva a aumentos, de uma hora para outra, no custo do frete e reduz a margem que fica para o caminhoneiro.
Ela conta com o forte apoio de empresas de transporte de cargas, contudo, que dominam o cenário e tentam sequestrar a pauta. Ou seja, uma greve legítima de trabalhadores junto a um locaute de empresas interessadas no corte de custos e aumento de lucros. O governo – se como governo agisse – garantiria que patrão que usa grevista fosse devidamente punido.
Legislação brasileira proíbe Locaute
Para o jornalista Ricardo Miranda, o que está acontecendo no Brasil é um locaute de empresas de transporte que proíbem seus empregados de trabalhar e financiam a maior ‘fake greve’ recente do país. A legislação brasileira só garante o direito à greve aos trabalhadores. Uma greve coordenada por empresários é chamada de Locaute.
“O tamanho da paralisação em curto espaço de tempo, a extensão e organização do movimento é algo que evidencia o financiamento empresarial. Ou isso ou estaríamos em meio a uma revolução. Ninguém nega o absurdo do escandaloso aumento da gasolina, gás e demais derivados, além da entrega da exploração do pré-sal a grupos estrangeiros – essa pauta não interessa à Abcam, diga-se de passagem. Mas a greve não é por salários ou condições de trabalho, ainda que os caminhoneiros vivam à base de anfetaminas para atravessar a noite ao volante. É greve para reduzir impostos. Qual é a dúvida? A legislação brasileira proíbe expressamente o locaute. Tanto a Consolidação das Leis do Trabalho como a Lei da Greve regulam o tema“, afirmou.
Fonte: Pragmatismo Político
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